Distintivo da FEB. |
Canhão norte-americano Vickers Armstrong em frente ao 6° GAC. Acervo: http://www.mikrus.com.br/~classe35/histturma.htm). |
O envolvimento do Brasil
na Segunda Guerra Mundial transcendeu a ida dos pracinhas para combater na
Itália. Uma grande estrutura de defesa e mobilização foi constituída para
assegurar a segurança do território brasileiro após a declaração de guerra ao
Eixo (Alemanha, Itália e Japão). Durante o ano de 1942, em meio a incentivos
econômicos e pressão diplomática, os norte-americanos instalaram bases
aero-navais ao longo da costa Norte-Nordeste brasileira.
Devido à mobilização
popular é que se deu a declaração de guerra à Alemanha nazista e à Itália
fascista em agosto de 1942, após meses de torpedeamento de navios mercantes
brasileiros. Quase dois anos depois da declaração de guerra, em 2 de julho de
1944, teve início o transporte do primeiro escalão da Força Expedicionária
Brasileira (FEB), sob o comando do general Mascarenhas de Morais com destino à
Nápoles. As primeiras semanas foram de adaptação, assim como recebendo o mínimo
equipamento e treinamento necessário, sob a supervisão do comando dos Estados
Unidos, ao qual a FEB estava subordinada. Do total inicial previsto em até
100.000 homens, cerca de 25.334 foram enviados para a Itália. O Brasil perdeu
nesta campanha mortos diretamente em combate, cerca de quatrocentos e cinquenta
praças e treze oficiais, além de oito oficiais-pilotos da Força Aérea
Brasileira.
Enquanto a Força Expedicionária Brasileira foi enviada à
Itália de modo a ajudar no esforço de guerra dos Aliados, a Força de Vigilância
e Segurança do Litoral ficou encarregada de proteger em terra o litoral
brasileiro de uma possível invasão das forças do EIXO, vindas da África. No
mar, a Marinha Brasileira realizava o trabalho de patrulhamento como o apoio da
Força Aérea. A Força de Vigilância e Segurança do Litoral era constituída por
oficiais da reserva e reservistas convocados, constituída por homens de
diferentes profissões e padrões sócio-econômicos. Ocorria a vigilância da
planície costeira brasileira, numa atividade diurna e noturna. O patrulhamento
buscava identificar um possível desembarque marítimo ou movimentação de navios
ou submarinos no litoral. Muitas vezes, os postos ficavam em praias desertas e
de difícil acesso por estradas de terra. Em caso de emergência médica, o
deslocamento era difícil na busca de hospitalização.
Frente a necessidade de
defesa do litoral brasileiro no extremo-sul do Brasil foi criado no Rio de
Janeiro em 1° de outubro de 1942, o 7° Grupo Móvel de Artilharia de Costa
(7ºGMAC). Este Grupo deslocou-se para Rio Grande em 19 de novembro de 1942 ficando
acantonado nos armazéns 3 e 4 do Porto Velho. Posteriormente, delocou-se para
4ª Secção da Barra, junto aos Molhes, onde ocupou posição com a 1ª Bateria de
Canhões 152,4mm Vickers Armstrong e em São José do Norte, com a 2ª Bateria de Canhões. O
atual 6° GAC está historicamente ligado ao 7° GMAC. O controle da Barra do Rio
Grande desde o século 18, foi essencial para assegurar a presença portuguesa no
Rio Grande do Sul e nesta situação durante a Segunda Guerra Mundial, a antiga
Barra Diabólica voltava a ser um ponto estratégico fundamental.
A preocupação na montagem de uma linha avançada de defesa
do litoral brasileiro voltava-se a presença nazista nas Colônias Francesas da
África. Comandos alemães poderiam promover um desembarque de surpresa baseados
em submarinos ou navios, com o objetivo de destruir instalações industriais,
depósitos de combustível, estruturas ferroviárias etc. Em cidades com a
presença de uma Refinaria de Petróleo como a Ipiranga ou uma indústria
frigorífica voltada ao fornecimento de carne enlatada aos norte-americanos como
a Swift, os cuidados eram ainda maiores. Também poderia ocorrer o desembarque
de espiões e sabotadores, que poderiam tentar promover o recrutamento de
simpatizantes nazistas ou o assassinato de alvos seletivos do governo civil e
militar brasileiro. Em tempos de guerra se pensa em tudo. Daí as finalidades
de guarnecer pontos estratégicos, observando o oceano frente a qualquer
movimentação não autorizada. A ordem era repelir qualquer desembarque de tropas
e manter a ordem de black-out, como
ocorreu na cidade destaque industrial como Rio Grande que realizava estes
exercícios.
O dia-a-dia nestes postos de observação
era cansativo com vigílias e noites dormidas em precárias condições ou com os
sonhos voltados a imagem do inimigo desembarcando. Má alimentação e doenças
tropicais, como a malária, vitimou muitos homens ao longo dos mais de dois anos
destas atividades diuturnas. Em todas as atividades realizadas de patrulhamento
das estradas e da vigilância direta do litoral, ocorreram vários acidentes
vitimando um número desconhecido destes soldados, além das condições
meteorológicas adversas ligadas ao frio e a chuva que poderia provocar doenças
respiratórias, como a tuberculose.
Portanto, a entrada do Brasil na guerra não se
resumiu ao envio de uma Divisão Expedicionária. Para além disso, o Brasil na
guerra não se refere apenas aos 25.334 brasileiros que compuseram a FEB e sim a
um incontável número de brasileiros que participaram de formas distintas das
operações de guerra dentro e fora do território brasileiro, ou que contribuíram
para a mobilização nacional, como é o caso da União Nacional dos Estudantes
(UNE). Foram cerca de 100.000 homens envolvidos nesta atividade de vigilância
da planície costeira brasileira atualmente chamados de “ex-combatentes”
enquanto os membros da FEB são denominados de “veteranos”. Ambas as categorias,
“veteranos” e “ex-combatentes”, devem ser valorizadas e reconhecidas pelos
brasileiros devido ao seu elevado espírito de integração nacional na luta
democrática contra o nazi-fascismo.
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