Porto do Rio Grande em 1908

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quarta-feira, 12 de julho de 2017

AS PRAÇAS

A Dissertação de Mestrado em Geografia (FURG/2011) de Thaíze Ferreira da Luz “Espaços Públicos no Cenário Urbano-Rio-Grandino: um estudo de caso do papel social das praças na cidade do Rio Grande” possibilita algumas reflexões científicas para explicar o apogeu e decadência destes espaços públicos. 
Conforme Thaíze, na cidade do Rio Grande, nos primeiros anos do século XIX, havia um caráter essencialmente pragmático na existência das praças, fortemente vinculado à questão do abastecimento de água. No decorrer desse século e em parte da centúria seguinte, o papel social dos espaços públicos passaria por significativa transformação, vinculando-se à perspectiva de apresentar-se a cidade como importante entreposto mercantil (e mais tarde industrial) e, portanto, como uma urbe atingida pelos ares da civilização, bem de acordo com os padrões europeus da época. Nesse tempo, os Relatórios Municipais insistiam em apresentar a importância das praças para o ―aformoseamento citadino, através de constantes tentativas de promover arborizações, calçamentos e, enfim, de ampliar os espaços para os passeios públicos.
A praça era vista como um espaço multifuncional. Que ao mesmo tempo podia representar o espaço político, cívico, religioso e social. E como elemento urbano, definia um importante centro irradiador reconhecido no âmbito global da cidade.
O crescimento da urbe seria acompanhando, assim, por uma importante valorização de suas praças, de modo que, além das próprias reformas e ―embelezamentos de que era alvo, elas passaram a ser palco da edificação de monumentos, os quais não retratavam apenas a homenagem a ser prestada a um personagem/episódio pretéritos, mas também a pujança que se buscava demarcar para a cidade. Passados os resultados do avanço comercial/industrial e com o desencadear de uma séria crise e estagnação econômico-financeira, com profundas conseqüências sociais, os espaços públicos também sofreriam significativos revezes.
Nesse sentido, o Plano Diretor estabelecido nos anos 1980, limitava-se a enquadrar as praças no rol dos espaços abertos cuja permanência seria importante como áreas lúdicas e visuais urbanos. Além dessa ordem de dificuldades, progressivamente, o papel social desses espaços públicos iria perdendo sentido e esvaziando-se, tendo em vista as amplas transformações pelas quais passaria a humanidade na virada do milênio, de modo que, muitas vezes, as praças passariam a ser encaradas como parte de um cenário urbano que se tornava apenas ponto de passagem, pelos quais as pessoas passam sem nem ao menos notar o significado de seu entorno e mesmo sem que se estabeleça algum tipo de interação social.
A chegada da modernidade marcou uma revisão do conceito de espaço urbano, essa transformação acarretou uma mudança estrutural na escala da cidade, afetando diretamente o espaço da praça. O novo conceito de cidade que se desenvolveu com a modernidade afetaria não somente a praça, mas também a relação entre espaço urbano e arquitetura. Ocorre uma valorização da função de circulação, e o sistema viário, com sua função de deslocamento, torna-se o elemento vital e essencial da configuração urbana, de forma que a praça assume o papel de lugar de passagem. Sendo sua função tradicional de ponto de encontro, centro da vida urbana, substituída por alternativas que incentivam a produção de espaços vazios.
Diante dessas transformações, a estrutura formal da cidade modifica-se e, com ela, os espaços simbólicos e tradicionais perdem significado. É o caso da praça pública que, diante do crescimento territorial da cidade moderna e do surgimento de edificações, que passam a abrigar e acolher diversas atividades praticadas nos espaços tradicionais depara-se com um movimento de declínio na condição de local de sociabilidade. Em relação ao uso do espaço, pode-se afirmar que a praça moderna perde algumas funções vitais, adquirindo novos papéis. Assim, diante da verdadeira degradação urbana que acompanhou as grandes dificuldades financeiro-econômicas da cidade do Rio Grande nas últimas décadas, seus espaços públicos também passariam por idêntico processo.


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