Porto do Rio Grande em 1908

Porto do Rio Grande em 1908

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

CARTA DOS CAMINHOS DE FERRO

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 Esta é uma Carta dos Caminhos de Ferro da Província do Rio Grande do Sul

A Carta não está datada, porém, hipoteticamente, considero que foi impressa entre o final de 1881 e o início de 1882. A hipótese foi construída pela informação contida na Carta de que a ligação entre Rio Grande e Bagé (280km) estava "concedida" para a Compagnie. O traçado significa que a obra ainda não havia começado mas já havia sido concedido o direito de construção pelo governo Imperial. A inauguração ocorreu em dezembro de 1884. Em apenas três anos o trabalho foi intenso frente aos limitados recursos da época. Pegando um exemplo diferenciado, mas que nos atinge duramente na metade sul, a duplicação da BR-116 entre Rio Grande e Porto Alegre teve início em 2012. E continuamos esperando a finalização... Imaginem, 140 anos depois do final daquelas obras, todos os recursos tecnológicos hoje disponíveis! Além da arrecadação trilionaria com o pagamento de impostos: são cerca de três trilhões de reais por ano. 

Mas sigamos um pouco mais na historicidade da explicação desta Carta.  

Em agosto de 1867 o Governo Imperial publicou um Decreto aprovando as condições para construção de uma estrada de ferro ligando a cidade do Rio Grande até Candiota. Os anos passaram e as obras não tiveram início. O engenheiro Higino Corrêa Durão deu início aos trabalhos, porém, foi a empresa organizada em Paris Compagnie Imperiale du Chamin du Fer du Rio Grande do Sul que recebeu a concessão Imperial em dezembro de 1881. A estrada ligaria Rio Grande a Bagé, dali, seguindo uma nova linha até Cacequi. 

Os projetos almejavam ligar Rio Grande até Uruguaiana, Santa Maria e Porto Alegre. As estradas eram inexistentes ou muito precárias para a passagem de carroças e diligências. Estradas de rodagem era um exercício de futurismo para depois da invenção dos automóveis. O trem era a total modernidade da interligação dos espaços distantes em que inexistia a possibilidade do transporte lacustre. A realidade das cidades e povoados daquela época era o isolamento geográfico. 

A seguir se observa o planejamento da estrada de ferro ligando Rio Grande a Cacequi. 

Neste recorte temos a obra realizada entre o final de 1881 até o final de 1884. A almejada ligação entre Rio Grande (Porto que permitia o escoamento da produção na esfera nacional e internacional), Pelotas (produção charqueadora) e Bagé (produção pecuária). Localidades vão nascendo e prosperando onde surgiam as estações, como é o caso da Estação da Quinta, da Estação Maria Gomes, da Estação Piratini (Pedro Osório e Cerrito). Além do acesso a Candiota e seu fornecimento de carvão utilizado pelas embarcações e indústrias. 


Um mapa, planta, carta geográfica etc, são pretextos para falarmos de História. Afinal, os suportes cartográficos são representações da espacialidade e contemplam a ação humana (com interesses políticos, econômicos, padrões tecnológicos etc). 

A Carta ferroviária é um espetacular objeto para ser investigado: a escolha das rotas, o surgimento de novos povoados, a relevância econômica para a realização das obras, os interesses do capital envolvido e suas perspectivação de reprodução, o impacto causado no meio rural e em populações tradicionais, as modificações ecológicas provocadas, a interligação entre culturas e economias, a geração de novos empregos e perspectivas de crescimento urbano, as preocupações com uma invasão estrangeira com a infraestrutura ferroviária etc. São tantas questões a serem analisadas possibilitando que uma representação cartográfica se converta em pesquisas que buscam esclarecer as historicidades.  

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