Porto do Rio Grande em 1908

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terça-feira, 10 de novembro de 2020

O TREM DOS ÓRFÃOS - HQ


O Trem dos Órfãos. Porto Alegre: 8INVERSO capa flexível, 23,8 x 15,4cm, color, p. 104, 2015. Roteiro: Philippe Charlot; Ilustração: Xavier Fourquemin. 


Prefácio da 8INVERSO: 

"No ano de 1990, em sua elegante residência em Nova Iorque, Harvey não está surpreso com a visita de Jim. Ele o espera há 70 anos. Os dois se conheceram em 1920 quando ainda meninos, em um dos trens do primeiro programa de adoção de crianças da história - a Orphan Train Riders . Assim como eles, dezenas de milhares de meninos de rua foram enviados para um oeste estadunidense em desenvolvimento, para serem adotados por fazendeiros e utilizados como mão de obra barata. A história da viagem feita por meninos como Harvey e Jim, cheia de esperança, companheirismo, mas também de traição. A viagem dos que, não sendo bem-nascidos, estavam dispostos a tudo para serem bem adotados. Edição única do Ciclo 1, volumes 1 e 2, Jim e Harvey. Tradução do Francês de Danielle Reichelt".


A primeira edição francesa é de 2012. A 8INVERSO publicou os dois primeiros volumes desta coleção que trata do programa Orphan Train Riders, o maior projeto de doação/migração de menores já realizado. As crianças órfãos ou abandonadas pelos pais, eram remetidas ao Centro-Oeste dos Estados Unidos para serem adotadas por famílias, a maioria constituída por fazendeiros. 
Grande parte destas crianças eram de origem europeia cujos pais buscavam os Estados Unidos para trabalhar frente a crise em países europeus. 
O programa teve início em 1854 e se estendeu até 1929. Estima-se em 250.000 menores foram deslocados para o Oeste americano com o objetivo principal de serem mão-de-obra barata. 

Pouco se conhece dos resultados sociais deste programa e dos índices de exploração e corrupção envolvidos. A sobrevivência e a inserção social e econômica destes menores como terá sido? Sem saber estes dados se trabalha com a construção ficcional de cenários. O que é essencial nas HQs...

A HQ foi construída com um fluxo textual célere que trabalha com flashes do ano de 1920 e alternando com o ano de 1990. Estes anos distantes por 7 décadas de afastamento, enfatizam o projeto Orphan e os seus resultados amargos.  

A escolha interpretativa do roteirista foi a da corrupção com a venda de menores, a doação sem qualquer critério, a exploração sexual das meninas, a futilidade cínica de uma pseudo religiosa que organizava as doações, a insensibilidade e brutalização da maioria dos "pais e mães". 
 
Ao lado da brutalidade dos atores principais, a emotividade dos destinos pessoais e coletivos conduz a trama e funciona muito bem. O texto é simples e direto, a arte e a colorização dos cenários é uma atração visual que dinamiza o fluxo textual. Oito páginas são dedicadas a contextualizar o programa e trazer alguns exemplos biográficos e de vivências. 

Esperemos que um dia seja lançado no Brasil ou outros volumes da série...    

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