Porto do Rio Grande em 1908

Porto do Rio Grande em 1908

sábado, 16 de maio de 2020

A VARÍOLA E O CORONAVÍRUS


         A Coluna Fatos e Coisas de Antanho foi criada por Pinto Ferreira Jr. e publicada no jornal Rio Grande (acervo: Biblioteca Rio-Grandense) desde a primeira década do século XX. A proposta era reproduzir matérias de jornais que tivesse a ver com o dia em que o jornal estava circulando. No caso acima, são matérias do dia 3 de julho. 

        São informes rápidos mas que podem dar ótimas ideias de pesquisa. Com base no assunto que interessou, se retorna aos jornais daquele período e poderá (ou não) ser encontrado um volume de informações que possibilite o aprofundamento. Outras fontes complementares deverão ser buscadas e os próprios jornais, com suas orientações editorais, poderão ser analisadas criticamente buscando a construção de representações do fato jornalístico. 

    Nas matérias acima me chamou a atenção algumas informações: o que é, em 1898, um panorama mechânico?;  em 1899, Carlos Cuello, vendedor de jóias vindo do Rio de Janeiro, estava hospedado no Hotel Brasil. Interessante, pois ele visitou e se instalou na cidade obtendo relevantes ganhos financeiros que propiciaram a construção no Cassino (em 1919, no estilo liberty italiano) de um dos prédios mais bonitos que hoje conhecemos como "Palacete do Conde Bianchini" (desde 1964). O Palacete nos remete ao estilo arquitetônico do veraneio de Toscana. 

        No dia 3 de julho de 1902 um forte vendaval e chuvas atingiram a cidade durante a madrugada provocando danos. Certamente, foi a entrada de um ciclone extratropical seguido de uma queda na temperatura num período de inverno. Estudos sobre eventos extremos na cidade é um tema que propicia pesquisas de relevância social.  

     Neste dia 3 de julho, em 1905, a cidade estava mobilizada para combater os inúmeros casos de varíola. Somente no Lazareto, havia 48 pessoas internadas. A varíola é uma doença contagiosa provocada por um vírus milenar (não é da família coronavírus) que apenas no século XX, pode ter provocado até 300 milhões de mortes no Planeta. 

      O famigerado coronavírus (covid-19) é um mero aprendiz até este momento do seu desenvolvimento. No ritmo atual, ceifará mais de um milhão de vítimas. Mas, se tivesse os próximos cem anos para circular livremente, talvez se aproximasse da devastação da varíola, porém, a esperança que precisamos cultivar é a disponibilização de uma vacina. Enquanto ela não existe, vamos dificultar ao máximo a proliferação deste ceifador de vidas e de atividades econômicas (atividades essenciais para a sobrevivência e, que, em sua retração, também se torna uma grande ceifadora de vidas).

    A humanidade tem lutado intensamente contra estes patógenos e, no Brasil de pouco mais de cem anos atrás, o empenho de cientistas como Osvaldo Cruz era no sentido de combater a insalubridade dos focos propiciadores de doenças e promover a ampla vacinação da população.  

       Na primeira década do século XX os biólogos e médicos lutavam contra a peste bubônica, a varíola, a tuberculose, as doenças tropicais transmitidas por insetos e ainda receberam a visita da devastadora gripe espanhola. Os conhecimentos científicos ainda eram muito restritos e os fármacos eram extremamente limitados. O esforço do desenvolvimento do saber médico nos legou ferramentas avançadas e fluxo de pesquisas com padrão de excelência em algumas áreas. 

      A pandemia é um grandioso desafio no presente mas ela não é um caso histórico isolado: as sociedades do passado viveram inúmeros sobressaltos e buscaram a superação com sacrifícios pessoais e cuidados profiláticos de auto-preservação (quarentenas, afastamento social etc). O processo histórico evidencia que não temos exclusividade na luta pela sobrevivência sobre agentes patogênicos.    

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