Quem gosta de vinhos poderá gostar da graphic
novel “Os Ignorantes”; quem gosta de HQ também poderá gostar; quem gosta de
vinhos e de HQ poderá dizer: três bien! Fantastique!
O francês Étienne Davodeau (1965) foi o
roteirista e ilustrador de “Os Ignorantes: relato de duas iniciações” (Editora
WMF Martins Fontes, 26,2 x 19 x 2,4 cm, 2014,
272p.).
A sinopse é a seguinte: “Étienne
Davodeau é autor de HQ e não sabe muita coisa do mundo do vinho. Richard Leroy
é vinicultor, quase nunca leu quadrinhos. Durante mais de um ano Étienne foi
trabalhar nos vinhedos e na adega de Richard, que, em troca, mergulhou no mundo
da HQ. Étienne Davodeau afirma que existem tantas maneiras de fazer um livro
quantas de produzir vinho. Ele constata que ambos têm o poder, necessário e
precioso, de aproximar os seres humanos. O livro oferece o relato alegre dessas
iniciações. Tradução de Monica Stahel”.
A tênue fronteira das
sensibilidades em produzir os vinhos e as HQs é frequentemente visitada entre
os dois personagens centrais ampliando a compreensão de duas áreas do
conhecimento aparentemente tão distantes. A produção do belo pelo exercício
intelectual das HQs e a conversão da essência dos parreirais na forma do vinho
é tratada com maestria e possibilita o ensinamento da arte destas produções: no
vinho a escolha do solo, das podas, das técnicas, das químicas, da sensibilidade
criadora, da essência produzida nos barris e deleitada na boca; nas HQs a
escolha do tema, a criação reflexiva, a escolha dos cenários e o perfil
psíquico dos personagens, os flertes com a realidade e a irrealidade, a
produção transpirante, a busca da divulgação, as técnicas de editoração, o
processo de distribuição, o deleite solitário do leitor desconhecido.
Um diálogo mental do
vinicultor (p. 28) traz um pouco da essência do tema: “então é isto, para fazer
vinho, antes da uva, antes da vinha, é preciso considerar a terra. Trata-se
então de considerar o vinho com um vínculo, forte e misterioso, entre a terra e
o homem. Não misture muita metafísica nessa história, é um projeto bem
concreto: nos dar de beber um vinho que fala da terra ao nosso corpo”.
O romance gráfico está
repleto de reflexões e ensinamentos de como o vinho é produzido e toda a
dedicação e intuição necessária para chegar a um resultado que alimenta o
espírito através do sabor e das sensações. Amplo vocabulário foi utilizado se
referindo a cepas e sabores, técnicas naturais de produção, química e solo,
terroir e taninos. É uma obra de aprendizagem onde são citadas técnicas de
impressão, estilos de ilustração, referenciadas obras fundamentais dos
quadrinhos franceses e seus autores.
Literalmente é uma obra para
degustar com lentidão, pois, ela tem muito a ensinar em relação a vida que
existe no vinho e a história em quadrinho que converte a vida do vinho em fluxo
gráfico sequencial.
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