Trem no Cassino nos primeiros anos do século XX. Fotografia de A. Fontana. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. |
Inicialmente, agradeço ao jornalista Ique de la
Rocha a gentileza em enviar em formato digital o jornal SulRS de janeiro de 2020 (n. 23).
Aproveito para publicar uma matéria extraída
do jornal “Rio Grande”, edição de 26 de janeiro de 1990, alusiva ao Centenário
do Cassino. O autor é o jornalista/redator
que por muitos anos foi diretor do jornal Rio Grande: Daoiz de la Rocha.
Daoiz foi um pesquisador rigoroso do passado e profundo conhecedor, enquanto viveu, da cidade do Rio Grande em suas múltiplas facetas. O manancial de informações sobre a cidade que foi publicada no jornal Rio Grande, sendo inúmeras matérias escritas pela “pena” de Daoiz, possibilita a escrita de monografias, dissertações e teses pelos acadêmicos no tempo presente.
Daoiz foi um pesquisador rigoroso do passado e profundo conhecedor, enquanto viveu, da cidade do Rio Grande em suas múltiplas facetas. O manancial de informações sobre a cidade que foi publicada no jornal Rio Grande, sendo inúmeras matérias escritas pela “pena” de Daoiz, possibilita a escrita de monografias, dissertações e teses pelos acadêmicos no tempo presente.
Se eu tivesse uma máquina do tempo para
reviver e reunir personagens históricos, organizaria uma reunião em que
diferentes pontos de vista sobre a cidade do Rio Grande fossem debatidos: entre
outros nomes de referência, convidaria Francisco Xavier Ferreira, Antônio Joaquim
Dias, Alfredo Ferreira Rodrigues, Antenor Monteiro, Abeillard Barreto, Walter
Albrecht e Daoiz de la Rocha. O conhecimento acumulado destas pessoas
propiciaria uma reflexão consistente sobre as perspectivas para construção de uma
cidade saudável.
Na impossibilidade desta reunião, o que sempre faço é
reproduzir matérias/legados destes personagens que em tempos diferenciados
escreveram sobre temas locais. A escrita destas memórias é uma forma de reviver pessoas e ideias. Por isso a pesquisa histórica - que trabalha o silêncio do passado- repõe as vozes no presente, fazendo em releituras, reviver o tempo do silêncio em falas contemporâneas. A História enquanto ciência se converte num tempo revivido a partir das escutas do passado.
Nos festejos atuais dos 130 anos do nascimento do
Balneário Cassino, reproduzo a matéria “O trem da praia” escrito com
competência por Daoiz de la Rocha em 1990, no Centenário do Cassino.
“Se é verdade incontestável que Rio Grande nasceu do soldado, mandado guarnecer o “presídio” implantado pelo brigadeiro Silva Paes, pode-se dizer, com a mesma convicção, que o Cassino é produto do trem, posto a circular entre a cidade e um ponto da praia, distante cerca de sete quilômetros da Barra, graças à iniciativa de um grupo de dinâmicos cidadãos, que aqui viveram no século passado. Praias, o Brasil sempre teve inúmeras no seu imenso litoral de 9.200km. Aproveitá-las, porém, como estações balneares, era cometimento raro até o fim do século XIX. E isto porque seria preciso, em primeiro lugar, conscientizar as populações sobre as excelências do banho de mar, da vida ao ar livre, numa época em que os costumes qualificavam de nudez qualquer redução no número de peças de roupa geralmente usadas, e o medo das doenças fazia com que todos procurassem no agasalho a primeira medida para preveni-las. Em segundo lugar, porque era preciso ter coragem para apostar no êxito dessa conscientização, investindo fortemente no acesso e na infraestrutura de um novo núcleo urbano. No Rio Grande do final do século passado o ambiente era de euforia. A cidade crescia, o Município produzia e havia na comunidade um grupo de cidadãos dinâmicos, brasileiros e estrangeiros nela integrados, que já alcançara, pelo menos, três grandes conquistas: a Companhia Hidráulica Rio-Grandense, para captar e distribuir a água encanada em todas as economias; o gasômetro, que levava às residências o gás de iluminação, e a ferrovia ligando o porto marítimo à região produtora de Bagé. O momento, portanto, era propício para mais alguns passos e, embora muito largo para a época, não faltaram os que se animassem a cogitar de uma estação balnear. Para isto era preciso dar acesso fácil e nenhuma outra cidade da Província de São Pedro estava em melhores condições para realizá-lo, dada a curta distância entre o centro urbano e a costa do mar. Quanto ao tipo de transporte, só poderia ser o ferroviário. Com o trem, que tantos benefícios já trazia à Província, pela facilitação das comunicações entre a fronteira e o porto marítimo, seria possível chegar à praia e retornar à cidade em pouco tempo. Os idealizadores da estação balnear começaram a batalhar, em 1885, através da Companhia Carris Urbanos, que tinha a seu encargo o transporte coletivo em veículos sobre trilhos, puxados por muares. Tentaram a concessão e a conseguiram; encontraram as primeiras pedras no caminho porque passariam do bonde de tração animal para o trem de ferro, que a Southern Brazilian Rio Grande do Sul Railway utilizava e sobre o que pretendia ter exclusividade. Mas não esmoreceram, fundaram a subsidiária Companhia de Bonds Suburbanos da Mangueira e levaram o empreendimento adiante, dando-lhe definitivo impulso em 26 de janeiro de 1890. Com a facilidade do acesso a estação balnear se desenvolveu e durante muitos anos teve exclusividade no Sul do País. Hoje já não é única, sequer a primeira quanto ao porte alcançado, porque o Litoral Norte beneficiou-se dos bafejos oficiais, correu no seu encalço e a ultrapassou. Mas é pioneira e, além disso, centenária”.
“Se é verdade incontestável que Rio Grande nasceu do soldado, mandado guarnecer o “presídio” implantado pelo brigadeiro Silva Paes, pode-se dizer, com a mesma convicção, que o Cassino é produto do trem, posto a circular entre a cidade e um ponto da praia, distante cerca de sete quilômetros da Barra, graças à iniciativa de um grupo de dinâmicos cidadãos, que aqui viveram no século passado. Praias, o Brasil sempre teve inúmeras no seu imenso litoral de 9.200km. Aproveitá-las, porém, como estações balneares, era cometimento raro até o fim do século XIX. E isto porque seria preciso, em primeiro lugar, conscientizar as populações sobre as excelências do banho de mar, da vida ao ar livre, numa época em que os costumes qualificavam de nudez qualquer redução no número de peças de roupa geralmente usadas, e o medo das doenças fazia com que todos procurassem no agasalho a primeira medida para preveni-las. Em segundo lugar, porque era preciso ter coragem para apostar no êxito dessa conscientização, investindo fortemente no acesso e na infraestrutura de um novo núcleo urbano. No Rio Grande do final do século passado o ambiente era de euforia. A cidade crescia, o Município produzia e havia na comunidade um grupo de cidadãos dinâmicos, brasileiros e estrangeiros nela integrados, que já alcançara, pelo menos, três grandes conquistas: a Companhia Hidráulica Rio-Grandense, para captar e distribuir a água encanada em todas as economias; o gasômetro, que levava às residências o gás de iluminação, e a ferrovia ligando o porto marítimo à região produtora de Bagé. O momento, portanto, era propício para mais alguns passos e, embora muito largo para a época, não faltaram os que se animassem a cogitar de uma estação balnear. Para isto era preciso dar acesso fácil e nenhuma outra cidade da Província de São Pedro estava em melhores condições para realizá-lo, dada a curta distância entre o centro urbano e a costa do mar. Quanto ao tipo de transporte, só poderia ser o ferroviário. Com o trem, que tantos benefícios já trazia à Província, pela facilitação das comunicações entre a fronteira e o porto marítimo, seria possível chegar à praia e retornar à cidade em pouco tempo. Os idealizadores da estação balnear começaram a batalhar, em 1885, através da Companhia Carris Urbanos, que tinha a seu encargo o transporte coletivo em veículos sobre trilhos, puxados por muares. Tentaram a concessão e a conseguiram; encontraram as primeiras pedras no caminho porque passariam do bonde de tração animal para o trem de ferro, que a Southern Brazilian Rio Grande do Sul Railway utilizava e sobre o que pretendia ter exclusividade. Mas não esmoreceram, fundaram a subsidiária Companhia de Bonds Suburbanos da Mangueira e levaram o empreendimento adiante, dando-lhe definitivo impulso em 26 de janeiro de 1890. Com a facilidade do acesso a estação balnear se desenvolveu e durante muitos anos teve exclusividade no Sul do País. Hoje já não é única, sequer a primeira quanto ao porte alcançado, porque o Litoral Norte beneficiou-se dos bafejos oficiais, correu no seu encalço e a ultrapassou. Mas é pioneira e, além disso, centenária”.
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