Porto do Rio Grande em 1908

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quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

A CORRENTE SUL EQUATORIAL


Mapa das Correntes marítimas no Atlântico Sul. Ilson Silveira, reproduzido página da bbc Brasil. https://ichef.bbci.co.uk/news/624/cpsprodpb/FD1F/production/_109499746_correntes.jpg

        Rio Grande é uma cidade voltada às atividades marinhas e lagunares. Temas relacionados ao Oceano são sempre de interesse para a compreensão da formação histórica local ou ampliação dos conhecimentos sobre os processos históricos no litoral brasileiro. 

      É o caso desta matéria referente à influência das correntes marítimas na formação do Brasil. Ao investigar o óleo que chegou às praias de nove estados brasileiros desde o dia 30 de agosto de 2019, o prof. Ilson Silveira (Oceanografia - USP) fez uma simulação tentando identificar o local que pode ter ocorrido o vazamento. O seu cálculo foi baseado numa evidência histórica que recua a expansão ultramarina portuguesa do final do século XV: a Corrente Sul Equatorial “um gigantesco rio que corre no Atlântico Sul no sentido Leste-Oeste. A corrente, que tem quatro ramos, se inicia no Golfo da Guiné, na costa ocidental da África, e vai até o litoral do Brasil”. A matéria “Como o comércio transatlântico de escravos explica o caminho do óleo até as praias do Nordeste” de João Fellet (https://www.bbc.com/portuguese/brasil-50270579) faz uma comparação com a navegação realizada desde o século XVI para transportar escravos: “as correntes permitiram que o Brasil dominasse o tráfico negreiro no Atlântico. Sozinho, o país recebeu 4,8 milhões de africanos escravizados, dez vezes mais do que os Estados Unidos e quase a metade de toda a população transportada à força para as Américas em quatro séculos. E, se no passado as correntes favoreceram a economia escravocrata, hoje elas deixam a costa brasileira vulnerável a acidentes que ocorram a milhares de quilômetros, à medida que a extração de petróleo se expande no Golfo da Guiné, no litoral africano”. 

      O papel do arquipélago de Fernando de Noronha foi fundamental na circulação marítima no litoral brasileiro. A bifurcação da Corrente Sul Equatorial fez deste arquipélago um espaço estratégico essencial: “uma dessas rotas ia do norte do litoral nordestino até o Caribe, e a outra descia toda a costa brasileira. A bifurcação também explica a decisão da Coroa portuguesa de dividir o Brasil em duas unidades administrativas: ao norte dela ficava o Estado do Grão-Pará e Maranhão, e, ao sul, o Estado do Brasil. As correntes antagônicas tornavam quase impossível realizar viagens marítimas entre os dois Estados. Missionários e autoridades que quisessem ir da Bahia até São Luís ou Belém costumavam primeiro viajar até Lisboa e só de lá partiam para o Grão-Pará (...). Tentativas de contornar as condições naturais resultaram em fracassos notáveis. Alencastro conta que, no século 19, um navio da Marinha deixou o Rio de Janeiro carregado de soldados na expectativa de chegar ao Maranhão para conter a Revolta da Balaiada. A embarcação enfrentou fortes correntes contrárias e foi forçada a aportar em Montevidéu, no Uruguai, centenas de quilômetros ao sul do ponto de partida”. 

         A lógica das correntes foi decisiva para o incremento do tráfico oriundo da África e para a economia agroexportadora brasileira. De um lado as correntes dificultavam ou impediam o deslocamento dos navios entre o Pará e Maranhão para os portos do Nordeste; de outro facilitava a navegação para o Caribe ou para o nordeste, sudeste e sul quando utilizada a Corrente do Brasil. Além disso, a navegação portuguesa no Atlântico seguia a seguinte lógica: “as viagens dos navios negreiros até o Estado do Grão-Pará e Maranhão eram triangulares. As embarcações costumavam partir de Lisboa rumo à atual Guiné-Bissau e, de lá, viajavam com escravos até o Maranhão, de onde voltavam a Portugal carregados com drogas do sertão (produtos florestais). As trocas entre a África e o Estado do Brasil, porém, dispensavam a escala em Portugal”. Segundo o historiador Luiz Felipe de Alencastro no livro "O trato dos viventes: Formação do Brasil no Atlântico Sul - séculos 16 e 17", por causa das condições naturais favoráveis, viagens de ida e volta entre a África e os portos brasileiros ao sul de Recife eram 40% mais curtas do que deslocamentos entre o continente africano e portos no Caribe ou nos Estados Unidos, outros importantes destinos de africanos escravizados. Enquanto a Corrente Sul Equatorial facilitava o trajeto África-Brasil, outras condições naturais favoreciam a viagem de volta. Para chegar à costa africana, os navios luso-brasileiros podiam pegar carona no anticiclone de Santa Helena, uma zona de alta pressão atmosférica que opera como uma grande roldana, com os ventos soprando em espiral. Podiam ainda pegar a Contracorrente Sul Equatorial, um canal que corre no sentido contrário à Sul Equatorial, entre os dois ramos austrais da corrente”. 

         A matéria completa pode ser lida no site da bbc Brasil no endereço: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-50270579

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