Porto do Rio Grande em 1908

Porto do Rio Grande em 1908

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

O ZEPPELIN EM RIO GRANDE

Nesta fotografia em que o Zeppelin está atracado (possivelmente na Alemanha) pode-se constatar, na comparação com as pessoas, à dimensão do dirigível. 



Zeppelin fotografado da Rua Marechal Floriano. Acervo: Papareia.  


          A Era dos grandes dirigíveis que cruzaram o Atlântico não chegou há durar uma década, porém perdura até o presente a curiosidade sobre as histórias ligadas a eles. O dirigível é uma aeronave mais leve que o ar que possui uma grande cavidade que é preenchida com gás hélio ou hidrogênio. Projeto desenvolvido na Alemanha ao longo de quase meio século teve por base as experiências do Conde Ferdinand von Zeppelin (1838-1917) que desde 1889 construiu dirigíveis rígidos e, em 1909, instituiu a primeira companhia aérea a Luftschiffbau-Zeppelin. Esta Companhia é que foi responsável pela construção dos dirigíveis Zeppelin, Hindenburg e Zeppelin II. 
O silêncio sobre a passagem pela cidade do Rio Grande do Zeppelin (que no ano de 1929 foi à primeira aeronave a completar uma volta ao redor do planeta) acabou deixando em suspensão se esta era mais uma lenda urbana, apenas um fragmento da memória daqueles que teriam assistido esta passagem no ano de 1934.
O Zeppelin teve as suas principais rotas voltadas às viagens pelo Atlântico ligando a Alemanha, os Estados Unidos e o Brasil. Viagens de luxo, com amplo espaço disponível para os poucos passageiros (no máximo 35) custavam muito caro: quase trinta mil reais (Alemanha-Brasil). O período de atuação dos dirigíveis foi entre 1928 e 1937, quando em maio deste ano, ocorreu o incêndio do Hindenburg nos Estados Unidos, fazendo com que Hitler os tirasse de circulação. Ao longo deste período os dirigíveis transportaram 34.000 passageiros.
Para o Brasil foram realizados 147 vôos. Em maio de 1930 ocorreu a primeira viagem com o pouso no aeródromo de Jiquiá, em Recife. O dirigível partira da Alemanha no dia 18 de maio e quatro dias depois chegava ao Brasil. O tamanho descomunal do Zeppelin, com 236 metros de comprimento e 30 metros de altura, ainda hoje seria fator de espanto, pois um avantajado Boeing não chega a 80 metros de comprimento. De Recife ao Rio de Janeiro a viagem durou mais dois dias, um tempo breve para aquela época. O Zeppelin chegava a uma extraordinária velocidade de 128km/h.   
No ano de 1934 o Zeppelin fez um vôo, o único, até Buenos Aires sobrevoando Porto Alegre, São Leopoldo, Pelotas e Rio Grande. O material disponível para consulta esqueceu de inserir Rio Grande nestes sobrevôos, mas os jornais da cidade registraram a passagem. A forte presença do comércio e indústria de descendentes alemães na cidade é o fator explicativo para esta visita do Zeppelin. No início da tarde o dirigível estava sobrevoando Porto Alegre/São Leopoldo e antes das 17 horas estava sob a cidade do Rio Grande, despedindo-se do Rio Grande do Sul e rumando para Buenos Aires.
O Jornal ‘Rio Grande’ do dia 30 de junho de 1934, assim descreveu aqueles acontecimentos:
“O Graf Zeppelin sob o céu da cidade. As pedras anunciadoras da imprensa desde cedo, informava o grato acontecimento do dia, o Graf Zeppelin voaria sobre o céu da cidade. Avisado, o povo, ansioso, aguardava o espetáculo inédito. E muito antes da hora marcada veio vindo para as ruas centrais. E foi se aglomerando no litoral norte. E as 16:15 os que já ali se achavam viram, ao longe, a altura do Diamante [provável referência ao baixio do Diamante localizado na Lagoa dos Patos na altura da Torotama], o enorme charuto de aço que passava suspenso no ar brilhando ao sol sob o fundo azul do céu. Era grande a aeronave alemã, a maior do mundo que passava vindo de Porto Alegre a rumo de Pelotas em marcha lenta. A notícia espalhou-se. Afixamo-la ao nosso placar. E o povo aumentou. As 16:30 horas, o enorme bojo rebrilhando ao sol, reapareceu aos olhos da população, enchendo-os de alegria e admiração. O Graf Zeppelin reapareceu, vindo de Pelotas, sobre Diamante, navegando de oeste para leste até alcançar a frente da cidade, quando, voltando sobre si mesmo fez uma reta de norte a sul até alcançar a ponta da Ilha dos Marinheiros. O Graf Zeppelin aí, rumou para sueste e nesta direção passou sobre a cidade, navegando lentamente a 600 metros de altura, mais ou menos e podendo assim, ser demorado e claramente admirado, como foi, na imponência da sua grandeza e na maravilha da sua estabilidade. O Rio Grande todo acorreu, prazerosamente e deu-se por muito compensado, para aproveitando-se dessa ocasião excepcional que lhe proporcionou gentilmente, a empresa do Graf Zeppelin, ver o possante dirigível nele revendo glórias patrícias de Bartolomeu de Gusmão e de Santos Dumont, na execução magistral do engenho técnico do Conde von Zeppelin”. 

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