Porto do Rio Grande em 1908

Porto do Rio Grande em 1908

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

O PRÉDIO DA PREFEITURA MUNICIPAL

Intendência Municipal por volta de 1910. Livraria Rio-Grandense/Ricardo Strauch. Acervo do Autor. 


 Joaquim José Soares de Faria Marques, nascido no Rio de Janeiro em 1789, mudou o seu nome em 1822 para Joaquim Rasgado, quando já residia em Rio Grande. Rico comerciante casou-se na Vila do Rio Grande em 4 de novembro de 1813. Em 1824, mandou construir um amplo casarão em estilo colonial de dois pavimentos, chamado pela população de casa nobre. Um prédio que se destacava frente às poucas construções para moradia particular de grandes dimensões que existiam na Vila do Rio Grande naquela época. O destaque obtido por este morador fez com que a rua que passava em frente à residência fosse denominada de Beco do Rasgado. A planta urbana da cidade elaborada pelo General Andréa em 1835 se refere à Rua do Rasgado. Atualmente é uma das principais da cidade, a Rua General Neto, cujo nome foi conferido pela Câmara Municipal em 25 de fevereiro de 1869. Quando de sua edificação a praça Xavier Ferreira não passava de aguaceiros e dunas de areia enquanto a Rua da Praia (atual Marechal Floriano) ficava alagada com as chuvas sendo feito um primitivo calçamento para carroças e pedestres na década de 1850. O prédio assistiu grande parte do crescimento urbano da localidade, com o significativo aumento da movimentação portuária no século 19 e o surgimento de casas comerciais que promoveram a circulação de numerário na cidade.
O prédio, posteriormente, foi residência do comendador Antônio da Silva Ferreira Tigre, sendo colocado à venda pelos herdeiros no ano de 1886. Também foi alugado para o Colégio União e para sede de Bloco Carnavalesco. A Intendência Municipal do Rio Grande interessou-se na compra do imóvel, o qual já exigia reformas, fechando negócio em 1894, a um custo de mais de cem contos de réis. Para viabilizar a reforma, a Intendência Municipal vendeu à Biblioteca Rio-Grandense, em 1895, o prédio da antiga Câmara de Vereadores (construído em 1850) localizado onde hoje está sediada a referida Biblioteca pela quantia de 25 contos de réis. A expectativa da Biblioteca Rio-grandense era de uma rápida ocupação do ex-prédio da Câmara pagando à Intendência um aluguel enquanto a reforma do antigo casarão do Rasgado era realizada. A escadaria foi encomendada em 1897, a uma firma de Massa Carrara por 7 contos de réis. Porém a obra prolongou-se até 1900, quando o Intendente Conrado Miller de Campos concluiu a reforma e entregou à Biblioteca Rio-Grandense o prédio que até hoje ocupa e que passou por profundas modificações no estilo e dimensões a partir da década de 1910.
O sobrado que o rico comerciante Joaquim Rasgado mandara construir em 1824 passou por ampla reforma passando a ser um palácio em estilo neoclássico renascentista. O beiral de telhas, característico da arquitetura colonial, foi trocado por uma platibanda encimada de esculturas decorativas; o arco abatido das aberturas cedeu lugar ao retilíneo e as grades de ferro das sacadas foram substituídas por balaústres. A sacada grande, existente ao centro do sobrado, tomou forma de balcão amplo, sustentado por colunas e a sotéia, na extremidade norte, foi eliminada, para tornar possível uma ampliação em estilo diferente, mas harmônico, no segundo pavimento.

Portanto, o prédio sofreu uma profunda reforma entre os anos de 1896 e 1900, tendo sido eliminadas suas características coloniais, que foram substituídas por elementos neoclássicos. O beiral com telhas capa-e-canal foi substituído pela platibanda encimada por esculturas, às vergas em arco abatido das janelas deram lugar a vergas retas, etc. O responsável pelas intervenções foi o engenheiro italiano João (Giovani) Carrara Colfosco o qual também projetou o Paço Municipal de Porto Alegre. O imóvel sediou a Prefeitura do Rio Grande até abril de 2006, quando sofreu incêndio e ficou parcialmente destruído. As obras de restauração foram encerradas em dezembro de 2012 ocorrendo à reinauguração. O prédio é tombado pelo Instituto Histórico e Artístico do Estado (IPHAE) o que confirma a sua importância enquanto elemento físico constituinte da memória histórica e patrimonial da cidade, fator que também justificou a necessidade de sua reconstrução.

         O cartão-postal editado por R. Strauch em torno de 1910 mostra em primeiro plano o prédio da Intendência Municipal. Ao fundo aparece o prédio do Quartel General, numa espacialidade que na época, integrava no mesmo quarteirão, o poder civil municipal e o poder militar federal.

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