História e Historiografia do RS

sexta-feira, 18 de outubro de 2019

A GUERRA DE GUERRILHAS NO SUL




         Com a ocupação espanhola da Vila do Rio Grande em abril de 1763, os luso-brasileiros buscaram estratégias para desgaste e retomada do Rio Grande do Sul tendo por epicentro o controle da Barra do Rio Grande, processo que estende-se até o ano de 1776. Entre as alternativas de resistência foi desenvolvida, conforme o historiador Coronel Cláudio Moreira Bento, a guerra de guerrilhas. A origem da palavra é espanhola (guerrilla ou pequena guerra). Esta orientação adaptada às condições de dispor de restrito contingente de homens e meios para promover a guerra aos espanhóis, foi dada pela Junta Governativa do Rio de Janeiro no mês de junho de 1763: “A guerra contra o invasor será feita com pequenas patrulhas atuando dispersas, localizadas em matos e nos passos dos rios e arroios. Destes locais sairão ao encontro dos invasores para surpreendê-los, causar-lhes baixas, arruinar-lhes cavalhadas, gados e suprimentos e, ainda trazê-los em contínua e persistente inquietação”.
A execução desta doutrina militar coube ao capitão Francisco Pinto Bandeira que atuou ao norte do rio Camaquã com base em Encruzilhada do Sul e ao seu filho Rafael Pinto Bandeira ao sul do rio Camaquã, tendo por base a Coxilha do Fogo, em Canguçu.
Conforme Cláudio Moreira Bento, a função estratégica destas guerrilhas era atuar sobre os possíveis caminhos de invasão ao Rio Grande: 1-Montevidéu-Rio Grande-Viamão-Porto Alegre pelo litoral (usado em l763 por D.Pedro Ceballos governador de Buenos Aires); 2-Montevidéu-Bagé-Santa Tecla (Bagé)-Encruzilhada do Sul-Rio Pardo (usado em l774 por D.Vertiz y Salcedo); 3-São Borja-Picada São Martinho-Santa Maria-Rio Pardo. Em sentido contrário, com vistas a uma possível invasão portuguesa os espanhóis barraram estes caminhos: na Fortaleza de Santa Tereza; na Fortaleza de Santa Tecla (Bagé); no forte de São Martinho, ao norte de Santa Maria.
Em face destas barragens, Rafael Pinto Bandeira e seus homens passaram a usar o caminho de invasão: Montevidéu-Santa Tereza-Mello (atual Cerro Largo) no Uruguai e Passo Centurión no rio Jaguarão-Herval do Sul-Piratini-Canguçu. Deste ponto uma invasão poderia rumar para Rio Grande ou para Rio Pardo. Os espanhóis barraram este caminho por volta de 1800, com a construção do forte de Cerro Largo e os portugueses, com a criação das localidades de Piratini e Canguçu sobre o divisor de água da Serra dos Tapes.
Dentro das estratégias das guerras de guerrilha estavam as arreadas que consistiam em remover o gado vacum e cavalar para reduzir a mobilidade do exército espanhol além de devastar as estâncias que dessem sustentação aos inimigos. O Rio Grande do Sul forjou-se historicamente nestes conflitos pelo controle das fronteiras no extremo sul do Brasil produzindo gerações de homens que tiveram o duplo papel de estancieiros e militares. Somente após cessarem no território rio-grandense os conflitos com os espanhóis, a partir da década de 1780, é que a Vila do Rio Grande passa de um paradigma militar para um paradigma comercial ligado ao fluxo de mercadorias no Porto Velho do Rio Grande. Porém, um dos mais destacados nomes das atividades guerreiras que levaram a derrota espanhola teve uma participação fundamental em Rio Grande, como grande proprietário e administrador: Rafael Pinto Bandeira, também chamado de “o terror dos espanhóis”. O seu conhecimento do território era tal que o Marques de Lavradio afirmou que “a cabeça de Rafael é o verdadeiro mapa do Rio Grande”. Entre os participantes destas guerrilhas estavam às tropas da Cavalaria Ligeira da qual Rafael Pinto Bandeira era oficial. Nestas duas estampas reproduzidas do livro do engenheiro militar português José Correia Rangel As Defesas da Ilha de Santa Catarina e do Rio Grande de São Pedro em 1786, pertencente ao acervo da Biblioteca Rio-Grandense, observa-se um oficial e um soldado da Cavalaria Ligeira do Rio Grande.




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