Porto do Rio Grande em 1908

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sexta-feira, 14 de julho de 2017

PEIXEIRO: 50 ANOS NO PASSADO

         O jornal ‘O Peixeiro’, surgido em dezembro de 1962, superou a condição de um periódico semanal voltado à divulgação da programação de cinema. Acabou se firmando como um referencial de crítica e do debate dos problemas que a cidade vivenciava no ano de 1964. Portanto, -a meio século no passado-, carências de infra-estrutura e questões ligadas a segurança, cortes de energia, violência urbana e críticas a forma de se fazer política, eram repostas com veemência nas páginas do semanário. E a maioria parecem muito atuais, evidenciando a persistência de problemas históricos de longa duração temporal! Quando o jornal Agora surge em 1975, uma longa caminhada já havia sido trilhada no debate de questões ligadas a urbe e ‘O Peixeiro’ vira o seu suplemento cultural.
Vejamos alguns temas tratados no ano de 1964 e que continuam tão presentes meio século depois:

Saudade do trem para o Cassino: “A estrada rodoviária que demanda para o Cassino, construída que foi a mais de 20 anos para atender a um volume de aproximadamente 500 veículos por dia no grosso da temporada balneária, vê-se hoje obrigada a atender (sem que se tenha feito qualquer conservação ou renovação a não ser a de tapar-buracos de quando em quando), mais de 5.000 veículos nos seus diversos trajetos, durante um período igual de 24 horas, incluindo nos mesmos, os moderníssimos caminhões-monstros que acomodam sobre seus dorsos, cargas por vezes superiores a 20 toneladas. Como se não bastasse o abandono a que relegaram a faixa Rio Grande-Cassino, sem que ao menos fosse evidenciada a boa vontade de um projeto, quer de alargamento, quer de construção de outra paralela para atender o fluxo do movimento atual, resolveram os nossos Cabeças, eliminar o único meio suavizante, que bem ou mal transportava até aquele logradouro, milhares de pessoas, bem como materiais diversos, quer para construção, quer para consumo. Eliminaram o trenzinho do Cassino...” (19-01-1964).

Rua D. Pedro II e seus buracos no passado e seus buracos (trincheiras) no presente: “Para mudar de assunto nada melhor do que retornar ao mesmo assunto. Longos anos são passados, longas verbas são dotadas e longos buracos são conservados na Pedro II, como um desafio ou num castigo, aqueles que mais contribuem aos cofres municipais, como sejam, a Indústria, o Alto Comércio e os transportadores” (11-10-1964). 

Críticas a vereança remunerada: “Castelo tem razão. O governo executivo da União elaborou um projeto de lei sustando os honorários dos senhores vereadores de todo o País. Concordamos plenamente com o Sr. Castelo Branco. Apoiamos o pensamento daqueles que consideram o desempenho de suas funções um ato de civismo, trabalho e dedicação espontâneos, para o bem e o desenvolvimento municipal. Acreditamos que tais cargos devam ser confiados única e exclusivamente a líderes autênticos, a cidadãos que  por si sós souberam vencer na vida, que realizaram algo de digno e de que se possam orgulhar. Pessoas assim não necessitam de honorários ora pagos aos legisladores municipais” (01-11-1964).    

Alcoolismo no passado e as drogas no presente: “A Tristeza da Miséria. Para quem está acostumado a caminhar por nossa cidade, independente da hora e do local, é freqüente e triste o espetáculo proporcionado por indigentes e miseráveis, caídos aqui e acolá. Um triste espetáculo, ocasionado pelo descuro dos poderes públicos e das pessoas encarregadas dos mesmos. Não passa dia sem que, ao lado da bebida, esteja o bêbado estirado na rua” (07-06-1964).

Freqüentes cortes no fornecimento de energia elétrica. Meio século depois, além dos cortes, nos aguarda um tarifaço na energia para este e os próximos anos. Interessante pelo número de descontentes com a conta de luz pela cidade, que o aumento parece que já chegou antes da hora...: “Mais uma vez vemo-nos as voltas com o problema da energia elétrica, problema de ontem, de hoje e de amanhã, se continuar este descuro da CEEE para com nossa cidade, a alterosa Noiva do Mar” (12-07-1964).

Inúmeros cães abandonados pelas ruas! Uma realidade que continua a ser problemática e que está sendo enfrentada de forma tímida. Porém, enquanto não forem conscientizados os donos (o difícil é eles quererem...) que permitem a reprodução irresponsável e que depois jogam os animais pela rua, a problema é de difícil solução: “Estória canina. É espetáculo comum as ruas centrais ou de bairros, estarem ocupadas por uma matilha de animais a rosnarem e latirem em assustadores avisos” (13-9-1964).

Falta de policiamento e carros para a delegacia de polícia! Parece incontestável que hoje, esta questão continua como um grande problema evidenciado pelos índices de violência e pela rara presença da Brigada Militar em pontos essenciais ou no atendimento de chamadas. O motivo óbvio mas deprimente é que nas últimas décadas ocorreu o encolhimento ou falta de efetivo (1) ou viaturas (2) (ao ligar, você receberá a opção ‘1’ ou ‘2’ para justificar a não vinda do socorro!): “Alerta cidadãos. Os amigos do alheio entram e saem a vontade, como se estivessem em sua própria casa. Tal pode ser comprovado facilmente pelos dados policiais, e pela experiência do cotidiano absurdo e infindável” (26-07-1964). A situação esta tão séria que vou reproduzir uma piadinha que escutei recentemente sobre como testar o ramal 190: ligue dizendo que um meliante esta arrobando a porta da sua casa e está com uma arma na mão! A resposta será: estamos sem viatura! Aguarde 60 segundos e ligue novamente e diga: recorda do meliante com a arma? Ele invadiu a casa e o meu truculento rolo de macarrão fulminou com o elemento! Resposta: duas viaturas já estão se deslocando, o senhor não saia do local do crime e estaremos lavrando o homicídio! Em síntese: o cidadão no último meio século foi promovido a um potencial bandido desarmado e acuado dentro de sua casa.


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