Porto do Rio Grande em 1908

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sábado, 15 de julho de 2017

MEMÓRIAS DE "O PEIXEIRO"


Hoje (23-12-2014), há cinqüenta e dois anos atrás, circulou o primeiro jornal O Peixeiro. Recuando no tempo, era o dia 23 de dezembro de 1962. Nesta data, eu tinha 38 dias de vida e por isso não me fiz presente na fila do Cine Glória para receber o ‘precioso número 1’ que deu início as edições que já se prolongam por mais de meio século. E receberia das mãos do Seu Germano Torales Leite, que, pela primeira vez, não está festejando mais um aniversário deste semanário que ele criou e que tinha um vínculo tão nostálgico: foi aqui que sua longuíssima experiência de jornalista foi construída e desdobrada posteriormente no Jornal Agora.
Uma vantagem em ser historiador é que mesmo não estando presente no evento de 1962, pude pesquisar o jornal distribuído num passado distante e busquei as suas motivações: folhei o número 1 e os números posteriores de O Peixeiro que agora fazem parte da memória da cidade.
A cidade da paixão pelo cinema e pela multidão de cinéfilos, que ao longo do século XX freqüentaram inúmeras casas de projeção, recebia um jornal que trazia informações sobre a programação cinematográfica da semana e muito mais do que isto. Sociedade e cultura, política e crítica pública: a cidade não se fazia apenas na fantasia do cinema de forte influência de Hollywood mas em inúmeros problemas urbanos que precisavam de um canal de debate e de denúncia. Porém, quase sempre, as matérias eram construídas com bom humor, irreverência ou até deboche. Outras eram leves, com textos literários e poéticos, com páginas de humor ou de divulgação de atividades sociais. Certamente, como é característico do jornalismo que trabalha com o tempo instantâneo e a pressão do momento, um mar de rosas não existe nesta caminhada mas sim o sentimento de construir uma parte da realidade que uma sua totalidade é indecifrável mesmo estando no tempo presente: a vida em sociedade e seus múltiplos imaginários!

Que a véspera deste natal, para quem acompanhou ao longo destes anos este pequeno jornal que nasceu cor-de-rosa, seja um momento para relembrar a memória de seu fundador e um pouco do que se passou nestes últimos 52 anos: as marcas mais profundas e as mais indeléveis; o peso do tempo e a leveza dos pensamentos. Fazer uma reflexão sobre a cidade que se construiu mentalmente em nossa vontade e na cidade concreta da labuta diária: afinal, por detrás dos caminhos e descaminhos dos questionamentos trazidos nas páginas dos jornais e que constituem um repertório de dezenas de milhares de páginas, estes periódicos não terão o objetivo de perpetuar e fazer pensar um futuro mais saudável para a comunidade, como é o caso de O Peixeiro? Não será esta uma das principais missões da imprensa?  

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