História e Historiografia do RS

quinta-feira, 13 de julho de 2017

CHAFARIZES FRANCESES

No dia 3 de novembro de 2016 ocorreu uma palestra de José Francisco Alves (Doutor em História, Teoria e Crítica de Arte/UFRGS). O autor escreveu uma obra de referência sobre a arte em ferro francesa em espaços públicos do Rio Grande do Sul: Fontes D’Art no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Artfólio, 2009.

Há alguns anos tenho acompanhado as publicações deste competente pesquisador e já trocamos algumas “figurinhas” na investigação do passado. Seu trabalho trouxe novas e científicas luzes para entender as obras de arte em praças da cidade do Rio Grande. Seu estudo permitiu desvelar a origem, materialidade, motivações e destino das peças artísticas monumentais instaladas na cidade na década de 1870.
Grandes peças artísticas novecentistas que acompanham o caminhar das gerações locais nos últimos 140 anos e que vão chegando ao presente destituídas de historicidade. A partir da redescoberta do sentido do tempo passado após o desvelo pelo pesquisador, é o momento de socializar o conhecimento e transpô-lo para o espaço visual freqüentado pela população: as praças. Este rico manancial de peças importadas da França pela Companhia Hidráulica Rio-Grandense e que foram instaladas entre 1874-1878, serviu a um duplo objetivo: fornecimento de água nos chafarizes situados nas praças Sete de Setembro (o único desaparecido e o maior! Era constituído por alegorias existentes no famoso chafariz de Edinburgh na Escócia), Xavier Ferreira, Tamandaré, Barão de São José do Norte e Júlio de Castilhos. Foram vendidas pela Fundição Durrene (4 chafarizes) e pela Fundição Val D’osne (a Vênus ao Banho), fundições instaladas em região próxima a Paris (Champagne-Ardenne) . Soma-se a estas peças o monumental reservatório da Hidráulica (fundição Abey Works – Escócia), extraordinário e raríssimo reservatório que foi instalado em 1876.
Além da funcionalidade do fornecimento de água (venda nos chafarizes) outro objetivo foi o de aformoseamento dos espaços públicos com a reprodução de peças de museus europeus (como o do Louvre) e a popularização destas obras de arte que passam a fazer parte visual do cotidiano das populações de diferentes continentes. Esta arte em ferro, enquanto processo oriundo dos grandes avanços tecnológicos ligados a Revolução Industrial, foi amplamente difundida em cidades como o Rio de Janeiro, Buenos Aires, Montevidéu etc. No Rio Grande do Sul, 8 chafarizes foram instalados em Porto Alegre, 4 em Pelotas e 4 em Rio Grande. Ou seja, uma riqueza artística que sobreviveu ao tempo e as mudanças de comportamento social: o acesso as praças enquanto espaço de sociabilidade e cultura. Infelizmente, hoje, os espaços públicos tem sido sinônimo de medo e criminalidade...

Um dos papéis do historiador é não deixar que o passado se esvaneça no esquecimento! Este deve ser reposto, no mínimo, em seu sentido básico da materialidade pretérita e de contextualização de seu tempo histórico. Sabemos que novos referenciais culturais preenchem o imaginário de novas gerações. Porém, pensar a caminhada anterior e identificar o conjunto artístico e arquitetônico que preenche materialmente a nossa existência é uma obrigação daqueles que investigam a ação dos homens no tempo.

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