História e Historiografia do RS

domingo, 5 de janeiro de 2020

GRAPHIC NOVEL – O ESTRANGEIRO DE CAMUS


Capa da edição brasileira. 
 
Edição francesa. 

           Albert Camus (1913-1960) escreveu “O Estrangeiro” em 1942, romance que se insere na teoria do absurdo: as coisas não tem um sentido externo ao significado construído pelo próprio sujeito. O indivíduo e não o ato é que dá sentido e significado aos contextos. Originalmente se percebe influências de Jean Paul Sartre e de Martin Heidegger em sua obra, porém, Camus rejeitou o rótulo de existencialista e inclusive se afastou de Sartre desde 1952. Para ele, o universo é indiferente às motivações da humanidade e seus símbolos e necessidade de muletas.
        Na parte final do livro “O Estrangeiro”, em que o personagem principal é condenado a morte na guilhotina e sente o completo abandono existencial, Camus assim expressa à compreensão do condenado a morte em sua busca por sentido: “Como se essa grande cólera tivesse lavado de mim o mal, esvaziado de esperança, diante dessa noite carregada de signos e estrelas, eu me abria pela primeira vez à terna indiferença do mundo. Ao percebê-la tão parecida a mim mesmo, tão fraternal, enfim, eu senti que havia sido feliz e que eu era feliz mais uma vez. Para que tudo fosse consumado, para que eu me sentisse menos só, restava-me apenas desejar que houvesse muitos espectadores no dia de minha execução e que eles me recebessem com gritos de ódio”.
        A adaptação de “O Estrangeiro” (Companhia das Letras, colorido, formato 26,8 x 19,8cm, 144 p., 2014) para a HQ foi feita pelo ilustrador Jacques Ferrandez (Argel, 1955). A proposta de publicação pode ser sintetizada nesta resenha de divulgação oficial da edição brasileira: “em 2013, foi celebrado na França o centenário de Albert Camus. Realizado para a efeméride, um lançamento se destacou nas listas de mais vendidos, entre os leitores e a crítica: a adaptação para quadrinhos do clássico O Estrangeiro, de 1942. Não poderia haver artista melhor que Jacques Ferrandez para realizar tal tarefa. Conterrâneo de Camus, Ferrandez é considerado um especialista incontestável na Argélia colonial, tendo vivido por muitos anos na mesma rua que o autor. A luminosidade de suas aquarelas e a riqueza de seus cenários demostram, de fato, que se trata de um profundo conhecedor da obra de Camus e de sua ambientação, capaz de reconstruir a narrativa com força e fidelidade e de dar conta de sua dimensão simbólica, sem suavizar seus mistérios”. 
         A quadrinização do romance foi fiel ao roteiro da obra e as ilustrações dramatizaram ainda mais a proposta do “absurdo” de Camus sem recorrer a excessos emotivos. Romance gráfico recomendado que possibilita uma aproximação significativa com à obra do polêmico e incisivo pensador francês.

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