História e Historiografia do RS

sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

HISTORICIDADE DO PORTO VELHO


 
Cartão-postal do Cais do Porto Velho por volta de 1910. Ricardo Strauch/Livraria Rio-Grandense. 
        Na planta de Custódio de Sá e Faria (1767) elaborada durante a ocupação espanhola, o único trapiche situava-se nas imediações da atual rua Benjamin Constant e a água chegava até poucos metros dos fundos da Igreja Matriz de São Pedro (a Capela de São Francisco não existia sendo inaugurada em 1814). Uma área alagadiça é indicada na extensão da área da rua Riachuelo. 
        Na planta de 1829, observa-se que o trapiche da Alfândega tinha início junto ao prédio, deixando claro que a área da atual rua General Osório ficava submersa. Já parte da área do prédio atual da Alfândega, em sua fachada da rua Riachuelo, estava coberto pelas águas. A Riachuelo é chamada de rua Nova das Flores, e apesar de estreita, está claramente desenhada.  Na planta de 1835 é feita referência a Rua Nova da Boa Vista.
 No século 18, não existia um espaço portuário edificado, ocorrendo o atracamento dos navios e o desembarque dos produtos e pessoas em embarcações menores. O engenheiro militar Sebastião Francisco Bettamio, em 1780, ressaltou a necessidade de definir um local para edificar um porto para o carregamento de embarcações, evidenciando a inexistência de um porto planificado.[1]
Saint-Hilaire[2] refere-se que em 1820 havia um cais, com um galpão de dezesseis passos de comprimento por vinte de largura, coberto de telhas. Um guindaste descarregava as mercadorias no galpão. Era o Cais da Alfândega que fora instalada em 1804. Segundo ele, por ali passavam charque, couro, sebo e trigo. Estacadas de madeira e ferro são utilizadas para construção do cais, porém, a aspiração é um cais feito de pedra. Na década de 1850 a Câmara faz várias solicitações para construção de um cais no porto pois a estacada estava em mau estado, porém não obtém os empréstimos solicitados. Cais no Litoral foi solicitado desde a década de 1850, porém somente em 1870 a primeira parte dos trabalhos em frente à Alfândega fora concluída pelo engenheiro Ewbank Câmara. Em fevereiro de 1873 procurava-se estender a obra até a Barroso.
         No ano de 1849 foi iniciada a construção de uma doca próximo ao Mercado Público para a venda de peixe. O antigo Mercado Público sobreviveu durante alguns anos na parte central do atual Mercado Público o qual foi construído entre 1853-63. Uma nova doca foi construída em 1876 “junto ao mercado em frente à Banca do Peixe, como sabeis, construída de tijolo e terra romana, sobre estaqueamento de madeira de lei, com dois metros de profundidade e dois de alicerce, com cobertura de lajeões da Província de um palmo de grossura, tendo uma grande escadaria de cantaria na frente. Colocaram-se no centro quatro balizas com argolões de ferro, para amarração das canoas”.[3] Portanto os argolões não eram para amarrar escravos, como conta a lenda, mas para amarração das canoas.  
Henry Vereker,[4] cônsul inglês, em 1860, ressalta que era intenso o tráfego marítimo e os navios deveriam lançar âncora nas proximidades da Alfândega esperando a vez de descarregar as mercadorias, sendo que navios brasileiros ficam a oeste do cais da Alfândega, e os estrangeiros a leste. O Cais da Boa Vista havia sido projeto, mas, ainda não havia sido construído em 1862 devido à falta de recursos. Um cais em frente a Santa Casa de Misericórdia começou a ser estudado em 1898.
          A Companhia Francesa do Porto do Rio Grande entre 1908 e 1919, passa a controlar a área do Porto Velho. A partir de 1911 iniciam as obras dos Molhes da Barra e em 1915 é inaugurado o Porto Novo. Com a encampação da Companhia Francesa pelo Governo do Estado do Rio Grande do Sul em 1919, o Porto passa para a esfera da administração estadual.


[1] BETTAMIO, Sebastião Francisco. Notícia particular do Continente do Rio Grande do Sul. In: FREITAS, Décio. O Capitalismo Pastoril. Porto Alegre: EST; Caxias do Sul: UCS, 1980.
[2] SAINT-HILAIRE, Auguste. Viagem ao Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Martins Livreiro, 1987.
[3] Relatório da Câmara Municipal da cidade do Rio Grande em sessão de 8 de janeiro 1876.
[4] VEREKER, Henry P. Vereker, 1860: roteiro da costa do Rio Grande do Sul. Rio Grande: Ed. Da FURG, 2001 (tradução: João Reguffe).

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