História e Historiografia do RS

terça-feira, 3 de dezembro de 2019

CARTOGRAFIA NO SÉCULO XVIII – JOSÉ CUSTÓDIO DE SÁ E FARIA

José Custódio de Sá e Faria Planta Topográfica do Rio Grande de São Pedro do Sul. Acervo: Mapoteca do Arquivo Histórico do Exército. 1776. 

     Nascido em Portugal, José Custódio de Sá e Faria foi um engenheiro militar, cartógrafo, arquiteto, geógrafo e administrador colonial do século XVIII. Formou-se na Academia Militar das Fortificações de Portugal, no ano de 1745. Faleceu em 1792, na Argentina.

     Foi designado pelo vice-rei Gomes Freire de Andrade para fazer parte da Comissão Demarcadora, que assentaria os limites entre as possessões ultramarinas dos reinos de Portugal e Espanha, resultado das negociações do Tratado de Madri de 1750, na América do Sul. Devido ao seu preparo técnico e ao seu desenho elaborado, Sá e Faria foi nomeado o primeiro comissário da Terceira Partida Demarcadora, que iria realizar o estudo cartográfico da zona compreendida entre os rios Paraná e Paraguai, o plano da Colônia de Sacramento e o mapeamento do Salto Grande do Paraná, realizadas no período 1753-54.

     Preparou os dois mapas que ornariam a História topográfica e bélica da Nova Colônia do Sacramento, publicada em 1900, por Simão Pereira de Sá. Assim os mapas que constam no Diário de Demarcação são de sua autoria.

     Sá e Faria também realizou projetos de engenharia militar, como o do Forte de Nossa Senhora de Igatimí, na fronteira com o Paraguai, e em várias obras no Rio de Janeiro, para onde havia sido designado pelo novo vice-rei, conde de Azambuja.

     Segundo Toledo1 “a obra cartográfica de José Custódio de Sá e Faria é um acervo de inestimável valor para o estudo da formação territorial do país e suas relações com demais nações.” Analisando seu trabalho, escreve:
“As peças gráficas são acompanhadas de relatos circunstanciados, em excelente apresentação e clareza expositiva.  Nos diários e planos de viagem comparecem informações preciosas sobre as formas de se transitar, seja por caminhos em terra, trilhas de nativos, trilhas de colonizadores, alguma "estrada Real", seja por vias fluviais.  São, ainda, descritas as formas utilizadas na transposição desses cursos d'água.    Há descrição da configuração das vilas, da atividade econômica, das relações entre os diferentes grupos, hábitos sociais e comportamento ou algum tipo de fortificação.
     Entretanto, o estado de beligerância permanente entre as duas coroas ibéricas, pela hegemonia na região rio-grandense, fez com que Sá e Faria passasse a atuar com soldado, deixando de lado os instrumentos científicos. Após a invasão de Rio Grande, em 1763, pelo Vice-Rei do Rio da Prata, D. Pedro de Ceballos, o coronel José Custódio foi nomeado governador interino da Capitania de São Pedro, em 1764. Foi sua a tentativa de reconquistar a vila do Rio Grande, em 1767, porém, fracassou, apesar de recuperar São José do Norte. Foi retirado do governo e preso por desobedecer às ordens de harmonia entre as coroas ibéricas que a metrópole ditara, chegando a colocar-se do lado espanhol, mas foi posteriormente absolvido.

     Em 1777, após ter sido expulso de Rio Grande no ano anterior, D. Pedro de Ceballos invadiu a Ilha de Santa Catarina. O vice-rei designou o Brigadeiro José Custódio de Sá e Faria, para comandar a defesa da fortificação, entretanto foi derrotado pelas forças espanholas. Confrontado com a possibilidade de ser executado por ordem do Marquês de Pombal, que baixara ordem contra os oficiais portugueses que se rendessem, Sá e Faria desertou, oferecendo seus serviços à Espanha, com a ressalva não lutaria contra Portugal.

     Seus bens foram confiscados e vendidos em hasta pública, assim, o engenheiro militar radicou-se em Buenos Aires e, em pouco tempo, tornou-se o arquiteto mais importante da região. Paralelamente aos trabalhos cartográficos, Sá e Faria realizou uma verdadeira reurbanização da capital, assim como de Montevidéu, da Colônia do Sacramento, de Maldonado, entre outras povoações. Foi nomeado diretor de obras públicas da cidade, realizando a correção de deficiências urbanísticas; editando normas à construção; promovendo a pavimentação de ruas e estudos que tratavam de diferentes assuntos, como reservas minerais, estabelecimento de aldeias na região patagônica, projetos para a construção de portos, docas, igrejas e catedrais.
1 TOLEDO, Benedito Lima de. A ação dos engenheiros militares na ordenação do espaço urbano no Brasil. Lisboa: [s.n], 2000.

Nenhum comentário:

Postar um comentário