Entre
a segunda metade da década de 1840 e o final da década de 1860, o jornalismo da
cidade do Rio Grande sofreu transformações e aprimoramentos, superando a
publicação de periódicos necessariamente voltados à defesa político-partidária.
Com o crescimento do número de periódicos, aparecem grandes jornais diários que
buscavam um caráter noticioso e informativo; os pasquins, numa linguagem
informativa e com enfoque pessoal; e a imprensa voltada à divulgação da
literatura.
A Arcádia congregou junto de si os
primeiros críticos literários. Entre os colaboradores estão Apolinário Porto
Alegre, Bernardo Taveira Júnior, Aquiles e Apeles Porto Alegre, Glodomiro
Paredes e outros. O português Antônio Joaquim Dias foi o proprietário,
responsável pelo lançamento de quatro séries, sendo as três primeiras
publicadas em Rio Grande e a última em Pelotas.
A
publicação, lançada às segundas-feiras, estava voltada à veiculação de textos
literários, especialmente autores rio-grandenses; ensaios de história e artigos
de crítica literária; levantamentos biográficos de vultos da história pátria e
do Rio Grande do Sul, com destaque ao espírito de liderança e o sentido de
honra e dever de personagens privilegiados. A definição de temáticas, a busca
de uma identidade regional frente ao nacional, o posicionamento antiescravista
e sensibilizador do sofrimento promovido pela escravidão, o conflito liberal/
conservador/centralizador, já permeiam algumas preocupações sobre o futuro da
Província e as alternativas de desenvolvimento para a cidade do Rio Grande.
Porém, alternativas com enfoque nas especificidades da Província e a autonomia
do regional frente ao nacional, tema tratado pela historiografia republicana a
partir de 1882, não assumem este sentido. Entretanto, a reflexão da identidade
regional começa a constituir uma busca intelectual sistemática.
Os
problemas financeiros para a manutenção do jornal tornam-se insuportáveis
quando do lançamento da quarta e última série do periódico. O desabafo do seu
proprietário sintetiza as dificuldades:
“Arcar com o indiferentismo de uma época de
puro cálculo aritmético e conveniência monetária; passar incólume por essa
imensa multidão de egoístas, invejosos e estúpidos; vencer esta turbamulta de
agiotas e interesseiros, que cuidam da burra e do estômago, indivíduos que
dispõem da inteligência por medida e da ilustração por grama, rir desses
racionais e amilhados, desprezando-lhes a impostura e o dinheiro, é de certo
modo, uma vitória”.
Fomentando a
expressão literária e reflexões sobre a identidade rio-grandense, a
contribuição do Jornal Arcádia
representa um importante caminho desta construção de um procedimento
intelectual para explicar a realidade, transferindo ao território
sul-rio-grandense os parâmetros estéticos do romantismo.
Os estudos
encaminhados na Arcádia terão
continuidade nos escritos dos representantes da geração do Partenon Literário, até 1880. Mesmo com o esgotamento do romantismo
de cunho liberal, essa primeira geração, deixará na tendência às temáticas
regionalistas “um leito comum à literatura gaúcha” que sobreviveu ao longo das
décadas.
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