História e Historiografia do RS

sexta-feira, 18 de outubro de 2019

HISTÓRIA DO HINO NACIONAL BRASILEIRO




Francisco Manuel da Silva. 

Joaquim Osório Duque Estrada em 1902. 

         Toda Nação é um processo de construção. O Brasil construiu a sua nacionalidade a partir da luta anti-colonial em relação a Portugal. Ideários de liberdade e de soberania foram as palavras de comando dos primeiros anos após o 7 de Setembro de 1822 quando ocorre definitivamente o rompimento dos laços de subordinação política dos brasileiros aos portugueses. Esta Independência foi sendo construída especialmente a partir de 1808 quando da chegada de D. João ao Brasil e será maturada até os atos simbólicos e práticos ligados ao Fico de D. Pedro e ao Gripo do Ipiranga. Os primeiros anos do país independente foram de guerra contra a resistência militar portuguesa em nosso território. Mesmo na década seguinte, o decênio de 1830, a preocupação ainda estava voltada a garantir a manutenção do país soberano e a manutenção da integridade nacional frente aos intensos conflitos nas províncias de norte a sul do Brasil.
O país nasce de um ato político, por isso, precede a Nação que é uma construção contínua fundada em trabalho social que gera a riqueza e nas simbologias que constroem o sentimento telúrico de amor e apego a terra em que se vive. A construção da nacionalidade e da brasilidade passa pelas simbologias como o Hino Nacional Brasileiro. A música é um veículo por excelência para fazer transbordar o sentimento, seja subjetivo ou coletivo. E o Hino Brasileiro não nasceu pronto, nem foi feito em alguns dias ou semanas, ele foi uma construção que se estendeu por cem anos. Exatamente! Um século se passou desde que Francisco Manoel da Silva, em 1822, elaborou uma música que é o nosso Hino, num momento de luta pela liberdade e superação da condição de Colônia tendo por Imperador D. Pedro I. Mantendo sua tradição inicial ligado ao liberalismo, o Hino deixa de ter apenas a música e teve uma primeira composição de letra que foi tocada no Largo do Paço junto ao cais no Rio de Janeiro, coração político do país nascente, quando da partida de D. Pedro I para Portugal após a sua abdicação ao trono brasileiro. O imperador era duramente criticado por sua postura autoritária e centralizadora do poder e a letra do Hino diz: “Os bronzes da tirania; Já no Brasil não rouquejam; Os monstros que o escravizavam; Já entre nós não vicejam”. Já na década de 1840 quando D. Pedro II assume o trono, a letra do Hino é adaptada a exaltar o novo Imperador: “Negar de Pedro as virtudes; Seu talento escurecer; É negar como é sublime; Da bela aurora, o romper”. Ocorria nas províncias nas décadas de 1830-40, a utilização de outras letras para o Hino com o fundo musical que vai se tornando cada vez mais popular, porém, com utilizações regionais e linguajar muitas vezes xenófobo e de ofensa a nações ou personagens, especialmente aos portugueses. Porém, o mais usual era apenas tocá-lo sem referência a letra nas atividades ou nos conflitos militares, como na Guerra da Tríplice Aliança ou nas comemorações da Semana da Pátria.
         No período republicano iniciado em 1889, muitos símbolos e personagens monárquicos começam a ser varridos das praças e ruas, sendo trocados pelo novo imaginário político ligado a República. Em Rio Grande, é o caso, como tantos outros, da rua Pedro II que passa a ser chamada de Marechal Floriano ou da rua dos Príncipes que passa a chamar-se rua General Bacelar. Neste ano de 1889 foi lançado um concurso público para elaboração de um Hino para o Brasil, porém, em meio a intensa polêmica, manteve-se a música de Francisco Manoel da Silva como a melodia mais popular. Somente no ano de 1909, em plena vigência da República Liberal, é que a letra do Hino foi adaptada à música surgindo à belíssima poesia de Joaquim Osório Duque Estrada que com algumas adaptações tornou-se, no ano de 1922, oficialmente, o Hino Nacional Brasileiro.
Portanto, foram cem anos de construção de uma nação em meio aos projetos da monarquia e da república para chegarmos ao formato atual para o Hino que exalta a pátria, as belezas naturais do Brasil (que foi uma principais identidades nacionais desde 1822), a liberdade e a luta pela soberania. Foi no período histórico em que se fazia a Independência que surgiu à melodia que perdura até hoje e que se faz ouvir pelo planeta nos Jogos Olímpicos ou nas atividades oficiais/culturais em que o Brasil está representado. Recentemente, na festa do Brasil nas ruas de Nova Iorque, o Hino emocionou milhares de pessoas ali presentes. Afinal, na junção da melodia e da letra, emanam as sensibilidades que vão dos vínculos familiares e de trabalho, do viver cotidiano num país em que se desenvolveu o sentimento de pertencimento e vínculo telúrico.

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