História e Historiografia do RS

sábado, 5 de agosto de 2017

O CASTELO NO PAMPA

O busto e vários livros publicados por Joaquim Francisco de Assis Brasil fazem parte do acervo da Biblioteca Rio-Grandense e estão na sala de pesquisa de jornais. Nesta sala onde foi pesquisada a matéria-prima para elaboração de inúmeros artigos, dissertações e teses, o olhar de Assis Brasil parece acompanha o folhear dos jornais que contam a história do Rio Grande do Sul. Desde a década de 1880, nos jornais, o nome dele passa a ser um dos mais recorrentes nas discussões sobre a história política gaúcha e numa diversidade de temas científicos. A própria Biblioteca Rio-Grandense foi também espaço em que Assis Brasil proferiu palestras e atraiu os interessados por novos conhecimentos ou pelo projeto republicano liberal.
         Assis Brasil nasceu em 1858 em São Gabriel, herdando de seu pai várias estâncias no Rio Grande do Sul. Em 1876 foi estudar na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo passando a militar pelo fim da Monarquia e estabelecimento da República no Brasil. É um nome exponencial do Clube 20 de Setembro que defende o pensamento republicano e o resgate da Revolução Farroupilha e da memória de seu líder, Bento Gonçalves da Silva. Formado em Direito retorna ao Rio Grande do Sul onde é um dos fundadores do Partido Republicano Rio-Grandense defendendo um legislativo forte. Nos anos seguintes foi Deputado Provincial, membro de Junta Governativa, diplomata na Argentina, Portugal e Estados Unidos. Após uma série de outras atividades diplomáticas, inclusive junto com o Barão do Rio Branco na Questão do Acre, retirou-se para a granja de Pedras Altas onde começou a edificar o Castelo. Participou da fundação de várias associações agropecuárias, escrevendo tratados sobre o assunto e fazendo experiências de melhoria do rebanho e de técnicas agrícolas. Foi conclamado a participar como candidato na eleição disputada contra Borges de Medeiros em 1922. A suposta vitória de Borges de Medeiros acarreta num grave conflito militar que perdura ao longo de 1923, até a assinatura do Tratado de Pedras Altas no Castelo edificado por Assis Brasil. Nos anos seguintes ele está inserido em atividades partidárias e apóia Getúlio Vargas que chega ao poder nacional com a Revolução de 1930, sendo indicado para Ministro da Agricultura e posteriormente, assumido outros encargos diplomáticos. Faleceu de gripe em 1938, aos 80 anos de idade, sendo enterrado nos fundos do Castelo.      
         Um de seus legados foi a construção do Castelo de Pedras Altas no então município de Cacimbinhas (que desde 1915 passou a se chamar Pinheiro Machado) e que em 1996 emancipou-se de Pinheiro Machado com o nome Pedras Altas e que faz fronteira com Melo no Uruguai.
         No quase despovoado pampa no extremo sul do Brasil, um dos principais personagens da história republicana brasileira - que conhecia os países mais desenvolvidos da época - parece ter buscado a solidão nas coxilhas.
         Conforme Lydia Costa Pereira de Assis Brasil, a neta e administradora atual do Castelo, a área possui 170 hectares e a construção do castelo teve início em 1907 e foi finalizado há cem anos. Em 1913, Assis Brasil, sua esposa Lydia e seus filhos, passaram a ocupá-lo. O formato de Castelo foi uma homenagem a sua esposa vinda da Europa e que lá tinha morado numa construção semelhante. As pedras para construção foram retiradas da própria região: o granito rosa que foi entalhado por três espanhóis e encaixadas sem o uso de argamassa. Os móveis vieram de Paris e dos Estados Unidos.
         O Castelo possui 44 peças e 12 lareiras. Buscava-se a harmonia entre a vida do campo e as atividades eruditas, como leituras, música, saraus, atividades científicas e intelectuais, além de encontros políticos. Imaginem no silêncio do pampa surgirem discussões sobre os diferentes assuntos que estavam sendo debatidos nos principais centros intelectuais... O alicerce para o conhecimento estava na biblioteca com mais de 15 mil livros.  O silêncio do bioma pampa era rompido pelo som do piano e pelas palavras que dos livros se projetavam naquela imensidão. No campo da literatura, Luiz Antonio de Assis Brasil magistralmente fez uma leitura destas memórias/ficções e elaborou a saga ‘Um Castelo no Pampa’.  
         No entorno do Castelo foram introduzidas espécies importadas como as vacas Jersey, cavalos árabes, ovelhas Ideal e touros Devon. Experiências agrícolas o notabilizaram como o pai da agricultura rio-grandense.
         O centenário Castelo de Pedras Altas necessita de urgente reforma e é um dos mais significativos espaços culturais a serem preservados no Rio Grande do Sul. As visitas ao Castelo podem ser agendadas com dona Lydia (http://assisbrasil.org), que infindáveis histórias guarda em sua memória e gosta de partilhar com os visitantes (matéria escrita em 04-06-2013). 


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