A sexta-feira
13 do mês de novembro de 2015 deve continuar projetando sua fantasmagoria nos
próximos anos. O massacre evidenciou a fragilidade européia frente a possíveis
ataques fundamentalistas. O cenário é tão complexo que envolve os fundamentos
liberais da sociedade burguesa num período tumultuado de circulação de grandes
contingentes de refugiados que fogem de conflitos militares na Síria e em
outros países. Num crescendo das tensões internacionais ocorreu no dia 24 de
novembro a derrubada de um caça russo SU-24 por caças F-16 da Turquia. Supostamente
o caça russo teria invadido o espaço aéreo turco na fronteira com a Síria. A
Turquia faz parte da OTAN que apoiou a ação de defesa do espaço aéreo. A Síria se
projeta como um epicentro de um conflito que está se ampliando.
A geografia da
Síria é problemática com uma fronteira com a Turquia (país com história militar
reconhecida desde a Idade Média), Iraque (antigo Império Persa e numa longa e
interminável guerra), Israel (Estado judaico encravado no mundo árabe e Líbano
(forte tradição de instabilidade política), ou seja, um barril de pólvora
civilizatório. A Síria enfrenta uma guerra civil desde 2011 (quando da
primavera árabe) quando civis iniciaram uma série de manifestações contra o
governo de Bahar al-Assad cuja família está no poder desde 1962. A ênfase
inicial seria a luta pelo fim da ditadura de Assad e foi agregando vários
grupos opositores. Um destes grupos foi criado em 2011 no contexto do conflito
e se tornou internacionalmente conhecido pela sua agressividade: o Estado
Islâmico (Daesh). O confronto entre o governo constituído e os grupos de
oposição (inclusive o Exército Livre da Síria) já provocaram mais de 100 mil
mortes e a fuga de 2 milhões de pessoas, especialmente para o Líbano. A
internacionalização do conflito se faz em torno de apoiadores do regime
ditatorial de Assad e os defensores da abertura política síria mudando os donos
do poder. A Rússia, a China e o Irã defendem o regime de Assad. A França, os
Estados Unidos, a Inglaterra e países da OTAN (entre outros) defendem a derrubada
deste regime, mas especialmente, buscam a aniquilação do Estado Islâmico (neste
ponto a Rússia também está em guerra com o Daesh mas quer preservar o seu
parceiro político- Assad).
A tensão tem
aumentado com a presença mais incisiva da Turquia que assiste apreensiva a
carnificina em sua fronteira a 4 anos e que teme a expansão do terrorismo que
já visitou a capital Ancara um mês antes de Paris (dois homens bombas mataram
pelo menos cem pessoas em atentados). Importante, é que o Estado Islâmico atua
com inteligência buscando difundir o caos, o medo e aumentar os conflitos,
levando a hecatombe dos serviços à população comprovando que os referenciais
civilizatórios foram perdidos. Na Síria o Estado Islâmico ocupa amplas áreas e
controla 60% dos campos petrolíferos. Isto o torna o grupo terrorista melhor
armado do mundo com uma arrecadação diária de 2 milhões de dólares somente com
petróleo. No ano passado, o controle de bancos estatais iraquianos rendeu 500
milhões de dólares. Extorsões, cobrança de resgates de prisioneiros, cobrança
de taxas para não muçulmanos que vivem em cidades controladas e várias outras
modalidades são utilizadas para arrecadar recursos.
O choque de
Paris fez com que o papa Francisco expressa-se preocupação frente a uma
Terceira Guerra Mundial aos “pedaços ou fragmentada”, ou seja, “lutada aos
poucos, com crimes, massacres e destruição”. O Rei da Jordânia, Abdullah II,
afirmou que o Estado Islâmico declarou
a “Terceira Guerra Mundial contra a humanidade”.
Obviamente que uma Terceira Guerra Mundial interessa a
poucos países ou possivelmente a nenhum! O uso de arsenal nuclear é algo que
tem sido evitado desde a Guerra Fria a partir de 1945 até a dissolução da União
Soviética. Chernobyl é uma prova de que a radioatividade impediria a ocupação
de áreas atingidas, a circulação radioativa pela atmosfera poderia alcançar
grandes distâncias e o inverno nuclear poderia ser desencadeado. Um conflito de
grandes proporções deveria ser fundado na guerra convencional e fatricida, numa
projeção difícil de prever pois até a infinita estupidez humana parece ter
algum limite. O futuro é deixará registrado o que de fato irá acontecer e ele é
inacessível a elucidação completa de nossas perguntas no presente.
E o Brasil? Será que uma
Terceira Guerra é a discussão que neste momento nos preocupa ou nos atinge com
contundência? Em 2016 as Olimpíadas poderão trazer o terrorismo para o Brasil
mas a discussão ainda está morna. A nossa guerra ao terror se chama Operação
Lava-Jato e o Estado Islâmico parece algo “visceral mas passageiro” frente às
descobertas da infecção purulenta que forma a estrutura de estado corroída pela
corrupção. A nossa guerra não é mundial mas é nacional! A “terra brasilis” agoniza
atolada nas práticas do tráfico de influências gangsteriano e na falcatruagem
política. A guerra não declarada que se trava é entre a decência e a indecência
na construção da cidadania. Mas parece que nem o lava-jato mais poderoso do
mundo pode dar conta do lameiro sem fim que está vindo à tona e que repugna aqueles
que ainda acreditam na decência e na ética. Esta guerra tupiniquim chega a
ofuscar o terror em Paris!
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