História e Historiografia do RS

quinta-feira, 13 de julho de 2017

PARIS E A TERCEIRA GUERRA MUNDIAL

A sexta-feira 13 do mês de novembro de 2015 deve continuar projetando sua fantasmagoria nos próximos anos. O massacre evidenciou a fragilidade européia frente a possíveis ataques fundamentalistas. O cenário é tão complexo que envolve os fundamentos liberais da sociedade burguesa num período tumultuado de circulação de grandes contingentes de refugiados que fogem de conflitos militares na Síria e em outros países. Num crescendo das tensões internacionais ocorreu no dia 24 de novembro a derrubada de um caça russo SU-24 por caças F-16 da Turquia. Supostamente o caça russo teria invadido o espaço aéreo turco na fronteira com a Síria. A Turquia faz parte da OTAN que apoiou a ação de defesa do espaço aéreo. A Síria se projeta como um epicentro de um conflito que está se ampliando.
A geografia da Síria é problemática com uma fronteira com a Turquia (país com história militar reconhecida desde a Idade Média), Iraque (antigo Império Persa e numa longa e interminável guerra), Israel (Estado judaico encravado no mundo árabe e Líbano (forte tradição de instabilidade política), ou seja, um barril de pólvora civilizatório. A Síria enfrenta uma guerra civil desde 2011 (quando da primavera árabe) quando civis iniciaram uma série de manifestações contra o governo de Bahar al-Assad cuja família está no poder desde 1962. A ênfase inicial seria a luta pelo fim da ditadura de Assad e foi agregando vários grupos opositores. Um destes grupos foi criado em 2011 no contexto do conflito e se tornou internacionalmente conhecido pela sua agressividade: o Estado Islâmico (Daesh). O confronto entre o governo constituído e os grupos de oposição (inclusive o Exército Livre da Síria) já provocaram mais de 100 mil mortes e a fuga de 2 milhões de pessoas, especialmente para o Líbano. A internacionalização do conflito se faz em torno de apoiadores do regime ditatorial de Assad e os defensores da abertura política síria mudando os donos do poder. A Rússia, a China e o Irã defendem o regime de Assad. A França, os Estados Unidos, a Inglaterra e países da OTAN (entre outros) defendem a derrubada deste regime, mas especialmente, buscam a aniquilação do Estado Islâmico (neste ponto a Rússia também está em guerra com o Daesh mas quer preservar o seu parceiro político- Assad).
A tensão tem aumentado com a presença mais incisiva da Turquia que assiste apreensiva a carnificina em sua fronteira a 4 anos e que teme a expansão do terrorismo que já visitou a capital Ancara um mês antes de Paris (dois homens bombas mataram pelo menos cem pessoas em atentados). Importante, é que o Estado Islâmico atua com inteligência buscando difundir o caos, o medo e aumentar os conflitos, levando a hecatombe dos serviços à população comprovando que os referenciais civilizatórios foram perdidos. Na Síria o Estado Islâmico ocupa amplas áreas e controla 60% dos campos petrolíferos. Isto o torna o grupo terrorista melhor armado do mundo com uma arrecadação diária de 2 milhões de dólares somente com petróleo. No ano passado, o controle de bancos estatais iraquianos rendeu 500 milhões de dólares. Extorsões, cobrança de resgates de prisioneiros, cobrança de taxas para não muçulmanos que vivem em cidades controladas e várias outras modalidades são utilizadas para arrecadar recursos.      
O choque de Paris fez com que o papa Francisco expressa-se preocupação frente a uma Terceira Guerra Mundial aos “pedaços ou fragmentada”, ou seja, “lutada aos poucos, com crimes, massacres e destruição”. O Rei da Jordânia, Abdullah II, afirmou que o Estado Islâmico declarou a “Terceira Guerra Mundial contra a humanidade”.
Obviamente que uma Terceira Guerra Mundial interessa a poucos países ou possivelmente a nenhum! O uso de arsenal nuclear é algo que tem sido evitado desde a Guerra Fria a partir de 1945 até a dissolução da União Soviética. Chernobyl é uma prova de que a radioatividade impediria a ocupação de áreas atingidas, a circulação radioativa pela atmosfera poderia alcançar grandes distâncias e o inverno nuclear poderia ser desencadeado. Um conflito de grandes proporções deveria ser fundado na guerra convencional e fatricida, numa projeção difícil de prever pois até a infinita estupidez humana parece ter algum limite. O futuro é deixará registrado o que de fato irá acontecer e ele é inacessível a elucidação completa de nossas perguntas no presente.
E o Brasil? Será que uma Terceira Guerra é a discussão que neste momento nos preocupa ou nos atinge com contundência? Em 2016 as Olimpíadas poderão trazer o terrorismo para o Brasil mas a discussão ainda está morna. A nossa guerra ao terror se chama Operação Lava-Jato e o Estado Islâmico parece algo “visceral mas passageiro” frente às descobertas da infecção purulenta que forma a estrutura de estado corroída pela corrupção. A nossa guerra não é mundial mas é nacional! A “terra brasilis” agoniza atolada nas práticas do tráfico de influências gangsteriano e na falcatruagem política. A guerra não declarada que se trava é entre a decência e a indecência na construção da cidadania. Mas parece que nem o lava-jato mais poderoso do mundo pode dar conta do lameiro sem fim que está vindo à tona e que repugna aqueles que ainda acreditam na decência e na ética. Esta guerra tupiniquim chega a ofuscar o terror em Paris!


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