História e Historiografia do RS

quarta-feira, 12 de julho de 2017

O CAVALEIRO LUIZ LORÉA

Luiz Angelo Loréa nasceu na Vila de Talonno, município de Invorio Inferiore, na Província de Novara, Itália, em 21 de agosto de 1874. Em 27 de abril de 1887 desembarcou em Rio Grande com menos de 13 anos de idade. Na cidade foi recebido pelo tio paterno que viera da Itália alguns anos antes, Carlos Angelo Loréa. A mãe de Luiz Loréa falecera quando este e sua irmã Maria eram pequenos. O pai era um operário que nas horas livres era vinhateiro e barbeiro em sua residência, casando-se novamente e tendo mais seis filhos. Em Rio Grande, o menino começou a sua vida profissional como empregado de uma padaria. Em 23 de junho de 1894 casou-se na Igreja Matriz de São Pedro com Cantalice Amália da Silva. Nesta época montou o seu próprio negócio, uma mercearia na esquina das ruas Viletta (Napoleão Laureano) e 20 de Fevereiro (Luiz Loréa), juntamente com a esposa que o ajuda na atividade comercial. Em 1909 associou-se ao italiano Raphaele Marsiglia criando uma firma de exportação de produtos agrícolas. Com a situação financeira promissora diversificou as atividades com uma indústria de Cabos e Cordas, indústria de aniagem, indústria de fertilizantes, de óleos vegetais, de pescados, de charque, de massas alimentícias, torrefação e moagem de café, estaleiro naval, lavoura de arroz, café, metalurgia e fundição. Também foi acionista proprietário de companhias de navegação, agente da Companhia Francesa de Vapores e paquetes e um dos sócios-fundadores e membro da primeira diretoria da VARIG em 1927.
Luiz Lorea participou ativamente de obras sociais especialmente as ligadas a Igreja católica. No Rio Grande contribuiu com campanhas para preservação ou construção de templos. Destacou-se na colaboração do trâmite junto ao Ministério da Educação para o tombamento da Igreja de São Pedro e Capela de São Francisco em 1938, momento crítico em que os dois templos poderiam ter sido demolidos. Assumiu a construção da Capela-Escola Jesus-Maria e José, inaugurada em 1937, na Avenida Pelotas no período em que os areais ainda eram a paisagem presente na Cidade Nova. Esta Capela foi à origem da Igreja Matriz da Sagrada Família e do Colégio Diocesano São Luiz Gonzaga, hoje conhecida por Escola São Luiz. 
Lorea colaborou com obras na Itália, restaurando e ampliando a Igreja de São Germano Bispo em sua terra natal. Pela dedicação ao catolicismo o Papa Pio XI o homenageou em 1928 com o título de Cavaleiro da Sagrada Ordem Pontifícia de São Gregório Magno, na classe de Cavaleiro Civil. No mesmo ano, o Rei da Itália Vitor Emanuel III, o nomeou Cavaleiro Real da Coroa da Itália. O Cavaleiro Lorea incentivou e apoiou financeiramente o sobrinho Ugo Lorea Poletti a tornar-se sacerdote, o que ocorreu em 1938. Ugo teve um apostado brilhante tornando-se Cardeal e ocupando os mais importantes cargos na Igreja sendo o vigário de três papas. Faleceu em 1997 aos 82 anos de idade. 
Sofrendo de problemas cardíacos, viajou para Montevidéo em busca de tratamento especializado realizando duas cirurgias, faleceu no dia 31 de julho de 1948 aos 74 anos. O Jornal católico Cruzeiro do Sul de agosto de 1948 assim se pronunciou: “Quando ocorreu pela cidade a notícia da morte do Cav. Luiz Angelo Lorea, a 31 do mês p. passado, foi uníssono o coro de vozes que repetia ‘uma grande perda para o Rio Grande!’. É que a cidade já estava acostumada a ver a figura inconfundível do homem que se havia consagrado ao trabalho na sua poliforma atividade e que de pé, manhã cedo, era dos últimos a apagar a luz do seu escritório. Num labor constante e multiplicado, via-se o patrão que a morte arrebatou, no meio de seus auxiliares e operários, na simplicidade um bom e animado, resolvendo, trabalhando. Equilibrado nos seus negócios materiais, nunca perdeu o equilíbrio do homem religioso. Sua fé era profunda e simples, como a dos bons filhos da Igreja. Seu nome está ligado à grande parte das indústrias da cidade e se projetava em todo o país como um dos mais conhecidos entre os homens de negócio do Estado. Quem percorrer as grades das associações de assistência social e caritativa, encontrará em todas elas o nome do Cav. Luiz Loréa, entre os seus  sócios beneméritos ou efetivos, assim com em todas as listas de contribuições para auxílio a boas obras que se projetassem na cidade. Se não bastassem essas doações para lhe conferirem o bondoso coração, ali está para lhe perpetuar a memória a Capela-Escola Jesus, Maria e José que mandou construir a própria custa e a pedido do seu amigo vigário Mons. Eurico de Mello Magalhães. Sua morte em Montevidéu, confortado com os Sacramentos da Igreja, depois de duas operações, teve como causa fraqueza cardíaca. Transportado em avião especial a Pelotas e de lá a esta cidade, foi sepultado no Cemitério Católico, em mausoléu da família, depois de ter recebido em sua casa a mais eloqüente prova de simpatia da cidade que lhe fez uma verdadeira consagração no seu enterro. O féretro movimentou-se às 14 horas, tendo sido encomendado o corpo na Matriz de São Pedro e na Capela do Nosso Senhor do Bomfim e acompanhado pelo Revmo. Vigário de São Pedro, Irmandade do Bomfim, de cruz alçada e enorme multidão, a pé, até o cemitério. Às 18 horas baixava a sepultura...”.

O Jornal Rio Grande do dia 02 de agosto de 1948 registrou: “Desde a natureza, lacrimejando a chuva fria e triste da manhã de ontem, até o povo consternado e mudo, todo o Rio Grande, envolto no mais vivo pesar, recebeu ontem os despojos do seu grande e benemérito servidor, daquele que foi em vida, uma das mais fortes expressões do desenvolvimento da sua indústria e do seu comércio, modelo admirável de atividade fecunda e produtiva, exemplo impressionante de trabalho construtivo – Cavaleiro Luiz Lorea. Foi sem exagero algum, a maior consagração popular prestada nestes últimos anos à memória de um homem entre nós. Homens, mulheres, crianças, gente do povo, elementos representativos do governo, da indústria, do comércio, das profissões liberais, das mais variadas atividades sociais, toda a cidade se movimentou, tomada de emoção profunda, para render a derradeira homenagem ao grande morto que começou a viver eternamente na saudade, na gratidão, no respeito e na veneração do povo e quem tanto quis e serviu. Sócio de quase todas as associações da cidade, a todas elas emprestou a mais decidida colaboração. Amigo do Rio Grande, não houve um só movimento em prol do progresso da terra riograndina que não encontra-se no Cav. Luiz Lorea o mais dedicado cooperador.” No falecimento a 60 anos atrás uma frase significativa ficou registrada: Amigo do Rio Grande! O retorno social das atividades econômicas com geração de emprego e circulação do meio circulante na própria cidade é de extrema relevância. A dimensão do engajamento social e educacional buscando o crescimento local deve ser preservado na memória do presente. Luiz Lorea basicamente é hoje lembrado pela movimentada rua central da Abrigolândia e por um esquecido e pichado monumento na confluência desta rua com a Marechal Floriano. Rememorar nascimentos e mortes é um veículo didático para repensarmos trajetórias de vida esquecidas no tempo e podemos refletir sobre experiências históricas no presente.   

Um comentário:

  1. Muuto bom o texto. Sou pernambucano morei 6 anos em Rio Grande. E não sabia sa história do L. Lorea...parabens...

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