História e Historiografia do RS

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

A CARTA E A VIAGEM

 






Hoje, encontrei esta carta enviada pelo sr. Walter Albrecht. 

Em conversas ou por meio de cartas, ele me deu muitas informações sobre a história da cidade. Esta é uma das cartas em que exercitava a memória para recordar acontecimentos que pudessem ser úteis. Pistas para ampliar as pesquisas. 
Seu Walter faz referência ao cemitério extra-muros (ficava fora dos muros (trincheiras) que cercavam Rio Grande. Sua inauguração foi em 1855 com o enterramento de uma mulher vítima de uma pandemia: o cólera. A "chácara do Anastácio" é o atual cemitério que ficou cercado pelo crescimento urbano, mas, que era solitário em seus primeiros anos de existência. 

 Ele nasceu em 1918 no ano da pandemia de influenza, a gripe espanhola (não era espanhola mas os espanhóis não perderam tempo negando). Era pequeno demais para tomar consciência do que ocorria, mas, escutou histórias dos que a vivenciaram. Tivesse vivido mais alguns anos e teria conhecido a atual pandemia. Gostaria de ter conversado com ele (por videoconferência e não presencial...) sobre como ele observava toda esta situação. 

A pandemia de 1918 foi rápida e brutal: numa população mundial de 1,9 bilhões matou cerca de 40-60 milhões; a que convivemos a dois anos é persistente e sádica e a nossa insapiência não conseguiu descobrir nem a sua origem (ou a sapiência política não permite que a insapiência científica se expresse, enfim...), já matou quase 6 milhões de pessoas de uma população de 7,8 bilhões. 
 
Covid é uma pandemia viral que tem várias cepas que são frutos de uma reciclagem que busca aperfeiçoar a ceifadeira que age com maior ou menor intensidade ao longo do tempo. Cansativa e desgastante... Fragilizou o Ocidente e pode ser o referencial da decadência de projetos civilizatórios que há 500 anos começaram a definir as regras globais que foram impostas pelo domínio tecnológico. Hoje, a tecnologia não é mais um monopólio exclusivo e o exercício da hegemonia remete ao comportamento das forças sociais. O vírus testa radicalmente o cultural e as sociabilidades das pessoas: o Ocidente está sendo nocauteado por não conseguir se readaptar a novas práticas e ao distanciamento social. Será uma leitura equivocada dos princípios da Revolução Francesa que está causando esta hecatombe? As necessidades individualistas sem qualquer limite ou consequência?    

A pandemia e as mudanças climáticas são referenciais balizadores de processos desafiadores para a humanidade nas próximas décadas. Vivemos um período de transição e o antigo mundo será uma imagem fugidia que se dispersará cada vez mais tal qual a biodiversidade do planeta.

 O futuro é construído a partir do presente a partir das  aprendizagens das historicidades do passado. Esta construção é um legado civilizatório. Qual o legado/futuro que estamos construindo?   

Não sendo possível responder esta questão, gostaria de ao menor responder este novo questionamento: 
Como a carta com a "chácara do Anastácio" me levou a uma viagem tão longa?

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