História e Historiografia do RS

sábado, 14 de novembro de 2020

TRANSILVÂNIA II

 

Cartografia da Transilvânia no livro de Emily Gerard (1885). 

A Transilvânia se tornou a espacialidade essencial no romance Drácula (1897). Inicialmente, Stoker localizaria o Castelo de Drácula na Styria (Áustria): seguiria o caminho já trilhado por Le Fanu e também no “Convidado de Drácula”. Porém, as pesquisas remeteram a escolha a Transilvânia. Uma fonte que pode ter alimentado esta escolha é o livro “Superstições da Transilvânia” de Emily Gerard que foi publicado em julho de 1885. Gerard era a esposa escocesa de um cavaleiro húngaro. Gerard destaca as florestas sombrias e o sobrenaturalismo dos habitantes, se referindo ao uso de estacas, alho e citando a crença no “nosferatu”:

 “A Transilvânia poderia muito bem ser designada a terra da superstição, pois em nenhum outro local esta curiosa e desonesta planta de ilusão floresce tão insistentemente e em tal desnorteante variedade. Parece-nos quase como se todas as espécies de demônios, fadas, bruxas e duendes – repelidas do resto da Europa pela batuta da ciência – refugiaram-se entre estas escarpas montanhosas, sabendo que aqui encontrariam tocas seguras onde, temporariamente, poderiam resistir aos seus perseguidores” (GERARD, 1885).


         Elisabeth Miller questiona se existe alguma conexão real entre a Transilvânia e os vampiros? 

“Para começar, a palavra "vampiro" não é de origem romena. O Oxford English Dictionary diz que é eslavo, parecido com o "vampir" sérvio e russo "upyr". A palavra romena "strigoi" (às vezes traduzida livremente como "vampiro") é usada com mais frequência como "fantasma", "bruxa". “Mago” ou “reanimado morto”. Os territórios que agora compõem a Romênia são mencionados apenas brevemente nos primeiros relatos de vampiros; Hungria, Polônia, Morávia, Silésia e Sérvia aparecem com mais frequência. Durante o século XIX, as conexões tornaram-se um pouco mais pronunciadas. Joseph Ennemoser referiu-se em “A História da Magia” (1854) para a Valáquia como a terra "onde o vampiro sugador de sangue pairou mais tempo, uma superstição do tipo mais revoltante."

 O nome Transilvânia está ligado a cultura popular a partir de Stoker e o cinema vampírico a partir de Nosferatu (1922), foi decisivo nesta difusão.  O filme “As Noivas de Drácula” de 1960 (Hammer Filmes) inicia com imagens bucólicas e sombrias e a frase recitada em tom mórbido: “Transilvânia, terras de florestas escuras, montanhas terríveis e lagos negros e insondáveis. Ainda é a casa da magia e do diabo”.

     O contraponto de associar a Transilvânia com o vampirismo (por parte da cultura ocidental) vem dos próprios romenos que rejeitam esta construção reducionista e mercadológica repleta de juízos de valor sobre o atraso da região. Durante os governos comunistas na Romênia do pós-Segunda Guerra Mundial, se buscou banir qualquer referência a estas manifestações culturais consideradas atrasadas e frutos da ignorância na visão do regime comunista romeno.

GERARD, Emily. Transylvanian Superstitions. London: Kegan Paul, Trench & Co.,1885 (projeto Gutenberg). 

MILLER, Elizabeth. Caça ao vampiro na Transilvânia (2005). http://www.ucs.mun.ca/~emiller/transylvania.html

Nenhum comentário:

Postar um comentário