História e Historiografia do RS

domingo, 1 de novembro de 2020

CARICATURA E VERDADE

A imprensa caricata lembra muito algo que aprecio: as histórias em quadrinhos. A vantagem da caricatura para a linguagem da imprensa, é conciliar a narrativa textual com a narrativa visual. É possível construir em poucos quadros uma crítica rápida a um determinado tema que foi ampliado no texto do jornal. 

Neste exemplo do jornal Bisturi do dia 13 de março de 1892, o periódico está criticamente utilizando o recurso a simbologias já conhecidas naquele período. É o caso de animais (porcos que são associados a sujeira) e ao ceifador na porta da casa (associado a epidemias e morte). O objetivo era a atacar a administração pública municipal que havia prometido acabar com a sujeira em Rio Grande a qualquer custo. 

Este periódico sempre enfatiza sua imparcialidade, mas, segue a esteira histórica da imprensa brasileira que é calar frente aos amigos e atacar continuamente os inimigos.
E isto é uma caminhada de longa duração temporal... Quando em tempos presentes parte da imprensa assevera que é a única proprietária da verdade e que o restante são fake news, cuidado: a verdade é uma construção em que visões de mundo e ideologias, interesses histórico-concretos e seleções culturais que não são universais definem a construção da suposta veracidade. 
 
No Bisturi, a parcialidade se converte numa fonte de diversão, pois, beira ao escabroso as suas contradições discursivas: insistem no asseio público e quando medidas são tomadas atacam implacavelmente a Intendência (Prefeitura) por executar medidas de aceio público. Atualmente, não dá nem para se divertir com parte das leituras, pois, a "verdade posta" não serve nem para dar risada já que vem pasteurizada e datada.

Seguindo as charges, na primeira se associa porcos, porcarias e padarias...

Na segunda charge se observa a visita da morte/representantes da Intendência a uma residência denunciada pela falta de higiene. É feita uma associação da visita dos fiscais de saúde com a chegada de uma doença, no caso, a febre amarela.        


Bisturi, 13 de março de 1892. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. 


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