História e Historiografia do RS

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

UMA IMAGEM NÃO É SÓ UMA IMAGEM

Praça Tamandaré. Acervo: Museu da Cidade do Rio Grande. 

 

Este cartão-postal da Praça Tamandaré traz informações difíceis de serem encontradas ou visualizações que podem ser inéditas. O cartão foi editado por Ricardo Strauch/Livraria Rio-Grandense e possui uma data manuscrita de 1907. Porém, por algumas evidências, acredito que a imagem remete a 1901 ou 1902.  
Selecionei quatro detalhes da imagem (originalmente uma fotografia) e vou comentar cada uma. 

Inicialmente, estamos olhando para a esquina das Ruas Luiz Loréa com General Netto. O cartão foi escrito em 1907 mas pode ter sido adquirido antes. E esta primeira imagem mostra a ilha na Praça Tamandaré onde está a Vênus ao banho. Procurei a Vênus e apenas encontrei aquele cidadão de boné pousando para foto ou atraído pela máquina do fotógrafo. Fiquei nervoso e troquei de óculos e a Vênus continuou invisível. O fato é que ela não foi colocada no local pois ainda estava na Praça Júlio de Castilhos. Foi instalada na Praça Tamandaré em 1902, portanto, a fotografia foi tirada alguns meses ou mais de um ano antes da Vênus fazer parte da paisagem. 





Nesta imagem abaixo cheguei a ficar em dúvida e olhei várias vezes. Nos acostumamos a não enxergar a Catedral de São Pedro deste ângulo, pois, temos o prédio dos Correios na frente. Se tirar o prédio teríamos a Praça Dr. Pio e a Catedral em destaque. Na época, até antes da construção do prédio dos Correios (1949-50), uma fotografia desta esquina em direção a Catedral seria muito bem-vinda e nos daria outra espacialidade e valorização histórica da edificação mais antiga do Rio Grande do Sul.  





Neste detalhe observamos o cata-vento que ficava na esquina das Ruas Luiz Loréa com General Netto. Uma sólida estrutura de alvenaria era a base que recebia o grande catavento que tinha a função de controlar o nível da água do lago da Tamandaré e bombear o excesso para a Lagoa dos Patos. Possivelmente, a peça foi colocada no local por volta de 1895, quando das amplas obras realizadas na praça. 


Um outro recorte me chamou a atenção para um detalhe que ignorava. No local onde hoje está construído o edifício Monte Líbano (na Luiz Loréa) funcionou uma fábrica da Charutos Poock & Comp. Esta foi uma das maiores fábricas deste segmento no Brasil e pode ter surgido neste prédio no ano de 1891. Somente em 1912 passaram a ocupar um grande prédio (atual Tumelero) construído para este fim. A Fábrica foi transferida para outro local antes desta mudança de 1912? Digo isto pois este prédio da imagem parece "muito acanhado" para a poderosa Fábrica Poock que terá uma distribuição nacional de seus produtos. 
O interessante das imagens é que elas exigências novas pesquisas para esclarecer a visualização. Por vezes, modificam o que conhecíamos sobre um determinado assunto. Muitas vezes nos trazem mais um tijolinho na reconstrução inesgotável dos fragmentos que permitem entender o passado.  


Uma imagem não é só uma imagem! 

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