História e Historiografia do RS

segunda-feira, 12 de outubro de 2020

24 de MAIO E O TERRAPLANISMO

 A Terra é redonda (ou levemente achatada nos polos) ou a Terra é quadrada? 

Esta é uma questão difícil de resolver, pois, a argumentação dos terraplanistas dá o que pensar. 

Quanto mais eu escuto a argumentação mais penso numa bola de futebol rolando, penso numa cerveja que desce redondo, penso no carro dos Flintstones e sua grande roda de pedra redonda ...  


Mas se o redondo e o quadrado são um grande problema que desafia as mentes mais brilhantes eu quero apresentar um tema menos polêmico e faço isto com uma pergunta:  

A espacialidade urbana se modifica ao longo do tempo? 

Uma cidade que apresenta incremento populacional, amplia sua dinâmica comercial, recebe aportes de novas tecnologias (bondes, carros, ônibus etc), amplia a ocupação do espaço por edificações e modifica  seu conjunto arquitetônico... Esta cidade, sofreu modificações urbanas ou o espaço continuou sempre igual? Não estou entrando em questões de expansão e decadência ou discussões sobre estética arquitetônica.

 Simplesmente: a ação humana modifica o espaço? 

Considero que sim!  E vou dar um exemplo muito próximo a partir da experiência dos moradores da cidade do Rio Grande, pois, diz respeito a uma das principais ruas de acesso ao centro histórico: a 24 de Maio.

Encontrei este cartão-postal editado por volta de 1908-1910.

    

Cartão-postal da Rua 24 de Maio. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. 

Nele observamos pessoas circulando à esquerda, muitas pessoas aglomeradas em frente a casa comercial de Rego & Miranda, além de pessoas em portas e janelas: a maioria está olhando para o fotógrafo e seu "discreto" equipamento instalado sem stress no meio da rua! Os mais desavisados são os cães que continuam a viver no seu mundo cotidiano. Deu para estacionar a carroça e o respectivo 1 HP (o cavalo) no meio da rua para que o nome da loja -que estava pagando a fotografia-, fosse divulgada para a posterioridade. Golpe de marketing que deu certo... 

Esta fotografia foi realizada a cerca de 110 anos no passado. Esta espacialidade continua a mesma? Vejamos: no presente quando a boiada de automóveis, ônibus  e caminhões disparassem enlouquecidamente pela Rua 24 de Maio... a carroça, o cavalo, os cães e o fotógrafo seriam literalmente atropelados... A rotina do caminhar e do atravessar a rua despreocupadamente acabou enquanto a poluição sonora produziu uma pergunta repetida por todos os transeuntes: "o que tu falou? Não escutei...".

 Naquele tempo, alguns nativos mais habilidosos, colocavam a orelha (e seus componentes auditivos) no chão para constatarem se algum veículo, carroça ou o bonde estava vindo além do horizonte... Lá na curva da Rheingantz com a Val Porto. 

As construções tomaram conta dos pátios e o metro quadrado se valorizou frente a definição de uma rua voltada ao comércio. Arquitetonicamente, vieram novos estilos (ou a completa falta de estilo ou o estilo "tijolinho-tijolinho cusparada de cimento"...).   

  Os postes da rua estão repletos de fiação com toneladas de cobre sendo observada por alguns ávidos olhares de adoração e reflexão: "o quilo do cobre está nas alturas"... 

Portanto, minha hipótese de trabalho ao observar os cartões-postais centenários é de que a espacialidade urbana se modifica ao longo do tempo. Em relação Terra ser quadrada a questão já é muito mais complexa... 

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