História e Historiografia do RS

domingo, 13 de setembro de 2020

TAUNAY E OSÓRIO

 

Manoel Luís Osório, 1868. 
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/4/45/Osorio001.JPG/491px-Osorio001.JPG

Inúmeras fontes insistem em ressaltar as qualidades do General Osório, o Marques do Herval. Nas guerras que participou era um agregador dos soldados que estavam com o moral baixo. Sua presença no campo de batalha era fator de unificação. 

Sei que esse enfoque não condiz com o personagem, mas tem elementos aventureiros e despojados de Byron em suas ações. O desprendimento, a sociabilidade, a valentia, a competência estratégica e especialmente, a identidade histórica do gaúcho que se envolveu em contínuas guerras contra os castelhanos, marcam a personalidade de Osório. Sua popularidade entre as tropas foi um dos imaginários que sobreviveu a Guerra do Paraguai.

Esta história contada no livro “Recordações de Guerra e de Viagem” (Brasília: Senado Federal, 2008) escrito pelo Visconde de Taunay é mais um registro de um personagem mítico que marcou a política e as representações do ser Rio-grandense no século XIX. Conforme vivência de Taunay com Osório:  

“Esperava-se, dizia eu, o visconde do Herval, o tão popular Osório e, com efeito, chegou a Piraiú no dia 6 de junho, um domingo. Recebeu-o o Príncipe com grandes demonstrações de apreço, indo ao seu encontro e abraçando-o com efusão na estação. Em todos causou grande alegria à presença do velho e simpático general que ainda sofria do grave ferimento recebido no dia 11 de dezembro de 1868, por ocasião das últimas balas da batalha de Avaí. Tinha a mandíbula inferior partida, das feridas saíam-lhe continuamente esquírolas, não podia nutrir-se senão de líquidos e substâncias moles, impossibilitado da mastigação, e trazia os queixos cingidos por um pano preto, amarrado no alto da cabeça. Gostei muito, mas muito, do Osório, apenas lhe fui apresentado pelo sobrinho, ajudante-de-campo do Príncipe, Capitão de cavalaria Manuel Luís da Rocha Osório, com quem desde logo eu me havia ligado bastante. Recordo-me perfeitamente que não pude compreender o que me disse por gracejo o general, tal a mescla de português e espanhol agauchado. “O doutor, observou ele com a fala grossa pausada e um tanto cantada que o distinguia, deve ir já a Assunção. Chegou ao porto um buque1 (1) carregado de pastilhas(2) para quem não as tem. E veja que o Manuel Luís não o piale”(3). Todos riram-se muito; quanto a mim fiquei sem saber o que responder. Dali por diante, porém, dei-me bastante com o velho e engraçado general, que tinha, com efeito, muito chiste natural. Convidava-me frequentemente para o seu rancho e chamava-me Sr. Bacharel”.

1 Navio, barco

2 Suíças

3 Laçar o cavalo pelas patas, enganar

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