História e Historiografia do RS

quarta-feira, 24 de junho de 2020

AO SUL DA BARRA DO RIO GRANDE - CARL LINDMAN

http://www2.nrm.se/fbo/hist/lindman/lindman.html.en


        O naturalista Carl Axel Magnus Lindman nasceu em Halmstad (Suécia), em 1856, e faleceu em Estocolmo, em 1928. Doutor em Botânica pela famosa Universidade de Uppsala (1886), e pesquisador do Museu Nacional de Estocolmo. Em 1892 Lindman visitou o litoral sul e registrou suas observações em seu diário de campo. Sobressai a reação do botânico (a sensação de vácuo) frente a prevalência das dunas e a ausência de vegetação.  

       “A última faixa do litoral sem vegetação e formada de uma superfície baixa, vasta e tão grandiosa na sua esterilidade como mesquinha e impotente em relação ao oceano móvel que parece dominá-la, causa, todavia uma impressão indelével. O terreno, imperceptivelmente ondulado, é coberto pela areia, que com o brilho puro e amarelado ofusca a vista e, pela sua pouca consistência, torna a marcha pesada e penosa. Castigada pelo vento, a areia finíssima forma um tênue véu varrendo a praia, e por muito tempo ninguém se aguenta nesta natureza atordoante, onde nada fere a percepção a não ser o vento. É talvez a ausência completa de toda vegetação que mais impressiona, produzindo uma sensação acabrunhadora de vácuo e de crescente importância diante das forças naturais que parecem ter asfixiado toda vida orgânica. Uns colmos de capim seriam um encanto para a vista, e uma pequena touceira um descanso bem-vindo para o pé. A beira da praia mantém-se úmida pela arrebentação das ondas na largura até onde atingem numa fraca declividade. 

     Aí a areia é tão compacta que os passos não se imprimem nela, e esta formação, estendida, ao longo da maior parte do litoral (e do da República do Uruguai), constitui uma estrada plana e cômoda tanto para cavaleiro, como para carros se é que haja trânsito. Mas esta faixa carece inteiramente de vida orgânica; até as algas aqui faltam, por ser a areia o fundo sobre o qual a ressaca eterna e incessante rola as suas ondas, pelo que é provável ser Torres, do Rio Grande do Sul, o limite sul da flora algológica brasileira. 

      A lembrança da vida animal nesta praia é sugerida apenas por algumas conchas vazias, já muito polidas pela areia. Por detrás dessa linha úmida, a areia fina e leve está em constante movimento. Por ocasião da minha visita, em 20 de novembro de 1892, havia forte vento sul. Fundas pegadas na areia desapareceriam em poucos minutos. O chão não era inteiramente plano, porque aqui e acolá havia um pequeno monte, indicando talvez o túmulo de algumas touceiras de capim, que haviam perecido. A superfície destes montículos baixos trazia o desenho das ondas de areia, verticais a direção do vento e a um metro de distância uma da outra. Das cristas das mais altas desprendia-se uma nuvem de areia correndo para o norte, verticais a direção do vento e a um metro de distância uma da outra. Entre estas elevações (dunas) a areia era menos solta e, às vezes, um pouco úmida, porque estava quase no nível do mar. Sobre a superfície úmida, a areia que passava, desenhava figuras singulares, como se tivesse parado ao redor de algum objeto maior; havia grupos de pequenas pirâmides tortas, ou figuras de barracas de areia de alguns centímetros de altura, apresentando ao vento a sua face menos inclinada. Em outros lugares a areia formava prismas quadrados de alguns decímetros de comprimento e poucos centímetros de diâmetro, orientadas na direção do vento, apresentando-lhe a sua base truncada e confundindo-se na outra com a areia solta”. 

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