História e Historiografia do RS

segunda-feira, 22 de junho de 2020

A ATALAIA E A PRATICAGEM DA BARRA - PARTE 2


       Está sendo complementada a descrição da Atalaia e da praticagem em manuscrito datado de 1873 de autoria de Henrique Schutel Ambauer "A Província do Rio Grande do Sul: descrição e viagens" (Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. 1888 Tomo LI).  

    Ambauer faz uma descrição do local em que funciona a praticagem da barra; refere-se a escola; a guarda da alfândega; a estação telegráfica; casas de comércio, moradia e para aluguel de veraneio, ou seja, pessoas iam ao local para veranear antes do surgimento do Balneário Cassino. Ambauer também destaca a tristeza e solidão da vista que se espraiava em direção ao litoral.
   
    O banco do lado do norte espraia-se em grande distância, ficando a seco nas baixas marés. Este banco eleva-se sensivelmente, tendo sido há bem poucos anos o lugar por onde passava o canal.  Limita este banco uma ponta ou promontório arenoso e baixo, remontando em forma de bacia até o lugar, onde se acham situadas as repartições da barra. Ao lado oposto da bacia é o ancoradouro dos navios que entram ou saem à barra sem que necessitem esperar bom vento ou profundidade das águas. Um extenso trapiche conduz a terra. Logo na entrada está à direita a repartição marítima, em cuja frente tem os mastros de sinais, convencionados com a Atalaia. À esquerda encontra-se a casa dos guardas da alfândega, onde igualmente funciona uma escola pública para meninos; o que é bastante lisonjeiro tanto para o governo como para a população que habita o lugar.

   Agrupam-se do lado direito algumas casas, tanto de negócio como de morada das famílias dos empregados e outros particulares. Encontra-se deste lado, um pouco retirada, a estação telegráfica ligada por um cabo submarino, na passagem do canal, com a cidade do Rio Grande. Outras casas mais adiante foram edificadas para alugar-se, na estação dos banhos, às famílias que para isso vão à barra.

   Um caminho costeado por uma linha de cedros marítimos conduz a algumas quadras de distância sobre uma pequena praça, onde se encontra uma capelinha; em um dos lados fronteia uma grande casa única que possui em seu quintal vegetação frondosa. Por detrás dessa casa seguem-se algumas casas de pobre aspecto, situadas sobre a estrada, que conduz margeando o rio, até a Vila do Norte.

   Pouco adiante da capelinha levanta-se a Atalaia, torre quadrada feita de tijolos e o farol de ferro com base de granito.

   O horizonte, que se divisa de cima da Atalaia bem que alcance, segundo dizem, para mais de 20 milhas, é dos mais tristes embora imponente. Pelo norte vê-se, por entre uma cinta de comoros de areia, surgir os telhados da cidade do Rio Grande e a bacia que lhe serve de porto. Pelo sul um cordão móvel de espumantes ondas, incessantemente a mugir, forma uma linha prateada, que separa o vasto oceano da árida costa, que se desenrola monótona e tristonha a  perder de vista. Apenas de tempos a tempos, nos dias claros, aparece ao longe uma vela, que a pouco e pouco vem como fantasticamente delineando as graciosas formas de um navio.  Aos pés uma igual irrisória vegetação de gramíneas ásperas e dessecadas, parece querer burlar-se do mísero inseto, que lhe busca a sombra. Tudo enfim, torna a habitação desse lugar triste e merencória".   

Barra e praticagem em 1865. Atalaia à direita e Farol da Barra à esquerda.
Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. 

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