História e Historiografia do RS

quarta-feira, 15 de abril de 2020

CORAÇÃO DAS TREVAS - HQ

Coração das Trevas. Joseph Conrad. Ilustração de Catherine Anyango e roteiro de David Zane Mairowitz. São Paulo: Veneta, 2014, p. 128, 16x24,2 cm, capa dura. 

      Resenha da Editora: Nesta adaptação para os quadrinhos de Coração das Trevas, o célebre livro de Joseph Conrad, David Mairowitz e Catherine Anyango recriam a fascinante aventura do marinheiro Marlow à procura de Kurtz, um comerciante de marfim, na África. A história que inspirou o clássico dos cinemas Apocalipse Now, de Francis Ford Coppola. 

       Coração das Trevas (1899) de Joseph Conrad (1857-1924) é um livro que já desencadeou muitos debates sobre a crítica a estrutura colonial na África e a perspectiva eurocêntrica que os africanos são vistos. Os interesses econômicos e políticos são levados ao enlouquecimento produzido pelos sons e simbologias das florestas africanas, domesticadas pelo imperialismo e pela escravidão. Estas experiências transcendem para o espectro do misticismo e do enlouquecimento existencial dos personagens, especialmente, do místico Kurtz, um megalomaníaco homicida.  Obra controversa e repleta de representações da psique doentia de personagens colonialistas que buscam expressar a humanidade ocidental.  “O mais intenso dos relatos que a imaginação humana concebeu”, elegeu o romancista argentino Jorge Luís Borges (1899-1986). O livro inspirou a banda britânica Iron Maiden em sua canção “The Edge Of Darkness” do álbum de 1995, “The X Factor”. 
Coração das Trevas, Veneta, 2014. 

     Recomendo a leitura da HQ, mas, ressalto que a mesma apresenta alguns problemas de adaptação da obra literária. Reproduzo a crítica competente de Audaci Junior no site universohq.com:  

     "Como comumente acontece numa adaptação em quadrinhos, o álbum deixa de lado uma parte do texto original (o livro é altamente descritivo) e complementa a narrativa com os detalhes e texturas da artista queniano-sueca. 
     Apesar de envolvente, a arte também tem seus problemas narrativos. Anyango não consegue dar uma dinâmica de quadrinhos à obra. Em muitos momentos, a trama parece mais uma literatura ilustrada do que uma HQ propriamente dita.
        Interessante notar a forma translúcida que ela oferece aos balões de fala e aos recordatórios ao longo da história, evidenciando cada vez mais o seu clima de devaneio e a sensação de imersão nele.
       O álbum ganha na força visual herdada pela desenhista, mas perde em alguns momentos a vitalidade da prosa de Conrad. Um hiato que pode ser suprimido ou complementado pela leitura do próprio romance.
      Mesmo assim, a adaptação não desfoca a perturbadora essência quase premonitória de uma época que viria a ter homens idolatrados e brutais, como o comerciante Kurtz – uma espécie de arquétipo de figuras que viriam escrever a História do Século 20 com sangue e dominação. O horror, de fato, são as trevas como um estado permanente em nós.
    No seu prefácio, o norte-americano David Zane Mairowitz, que fez o texto das adaptações de Kafka de Crumb (lançado em 2006, pela Relume Dumará, e em 2010, pela Desiderata), compara Coração das trevas a um grande road movie, no qual a estrada é o rio Congo. Para reforçar e enriquecer o espírito geográfico, o autor intercalou na sua adaptação trechos do diário do Joseph Conrad quando o escritor navegou como imediato no Roi des Beldes, em 1890.
     Entre o jogo de luz e sombra, a floresta que o colonizador desbrava com seus vassalos é tão importante quanto o fluxo “sanguíneo” do rio. A mata fechada, onde habita o desconhecido, também é uma alusão ao interior incógnito de cada ser.
       A edição da Veneta tem capa dura, formato 16 x 24,2 cm e uma não acertada impressão em sépia, que dificulta a visualização dos ricos detalhes dos esfumados da Catherine Anyango, vide os nítidos exemplos das páginas no seu site oficial. Também com certa dificuldade, o título na capa em vermelho se perde com o tom de cinza da bela arte, que remete ao colonizado e ao relevo geográfico", conclui Audaci Júnior (http://www.universohq.com/reviews/coracao-das-trevas/).

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