História e Historiografia do RS

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

SAINT-HILAIRE NA IGREJA DO CARMO

A Igreja do Carmo que foi visitada por Saint-Hilaire numa fotografia de cerca de cem anos depois do relato do naturalista.
Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. 

       Em sua estadia na então Vila do Rio Grande o naturalista francês Auguste Saint-Hilaire deixou vários registros. Entre eles, a atividade religiosa na Igreja do Carmo no dia 6 de agosto de 1820. Os festejos realizados na cidade eram em homenagem ao Conde de Figueira que tinha um cargo compatível com o atual de Governador do Estado.

             Os relatos aguçados do naturalista, por muitas vezes ácidos e críticos, estão presentes nestas observações reproduzidas a seguir e retiradas do livro “Viagem ao Rio Grande do Sul”:

            “Era noite quando chegamos ao Rio Grande. O conde foi recebido no cais da cidade pelos membros da Câmara, todos de traje completo, de bengala à mão. Tanto quanto pude verificar à noite, o cais tinha sido muito bem ornamentado. No meio da ponte de desembarque, construíram um pequeno arco de triunfo e à extremidade da mesma ponte ergueram dois imensos pedestais, encimados cada um por uma estátua. Esses diferentes trabalhos eram feitos de madeira e pano pintado, tendo sido executados por um francês. Sob um pálio foi o conde conduzido à igreja, que logo se apinhou de gente; fizeram-no sentar-se numa poltrona na capela-mor. Esta se achava enfeitada com faixas de damasco vermelho, como nos maiores dias de festa; e os degraus do altar-mor completamente cheios de velas acesas; cantaram o Te-Deum, acompanhados por música e, quando este começou, forneceram aos principais assistentes, sobretudo aos oficiais, círios acesos. Após o Te-Deum, um pregador subiu ao púlpito e fez o panegírico do conde. Falou longamente de seus nobres antepassados; repetiu uma centena de vezes que o vencedor de Taquarembó possuía todas as virtudes; disse que o conde era um original sem cópia; que o povo estava contente, satisfeito e mil outras lisonjas igualmente vulgares e mal expressadas. Durante todo esse tempo ficara exposto o Santíssimo Sacramento, mas a assistência nem por isso guardava respeito, portando-se quase como se estivesse num mercado. Após a prática, o padre deu a bênção, e o conde dirigiu-se à casa do Tenente-General Marques [de Souza], para onde o seguimos”.

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