O PRÉDIO DA ALFÂNDEGA

Cartão-postal com o prédio da Alfândega por volta de 1905. Acervo do Autor.

A instalação da Alfândega do Rio Grande ocorreu em primeiro de outubro de 1804, evidenciando a importância econômica e estratégica da então Vila do Rio Grande de São Pedro já nos primórdios do século XIX. A praça militarizada assumiu um novo papel como destacada praça comercial.

         O atual prédio da Alfândega foi o terceiro construído e suas obras foram realizadas entre 1874-79. A ordem de serviço foi dada pelo Visconde do Rio Branco e o estilo do monumental prédio que ocupa todo um quarteirão é o neoclássico.

O Jornal Diário do Rio Grande apresentou uma matéria no dia 12 de outubro de 1878, onde foi destacada a monumentalidade do prédio:

"A área do edifício abrange 9.300 metros quadrados. A face da frente compõe-se de casa forte, gabinete do Inspetor, salão de expediente e três salas, sendo uma para pagadoria filial, outra para encomendas e leilões e outra para os despachantes. A face leste compreende uma pequena sala que já serve para o corpo da guarda e, em toda a sua extensão, ao fundo, correm dois grandes armazéns de 40 metros de comprimento por 15 metros de largura, cada um, a face oeste ainda está em via de construção, por não ter sido demolida essa parte do antigo edifício. A face do fundo abrange duas salas ao serviço da Guardamoria. Do centro das três primeiras faces foram levantadas cúpulas, e na do fundo ergue-se à torre de vigia, com 30 metros acima do nível do mar. O pórtico não foi ainda começado devendo ser todo de mármore da Província e levantado sobre 4 colunas em estilo coríntio" (DIÁRIO DO RIO GRANDE, 12 de outubro de 1874).

        Em novembro de 1878 teve início o levantamento do pórtico. Em junho do ano anterior tivera início a colocação da portada da sua entrada principal na rua Marechal Floriano. A portada é de mármore proveniente da cidade de Caçapava. Em setembro de 1877 o vapor Camões trouxe o sino e o relógio da torre localizada na rua Riachuelo. O relógio começou a funcionar em 1878.

       O Relatório do Ministro da Fazenda em 1907 faz referência às obras necessárias de manutenção: “O prédio em que funcional esta Repartição, próprio nacional, é um dos mais apropriados ao mister a que se destina; está passando por concertos radicais, tendo pronta já toda à parte da entrada geral, da fachada ao cais, compreendendo todos os compartimentos do lado que se prolonga pela rua Ewbank”.

Entre 1906 e 1908 foram gastos 169:466$964 rs com obras no prédio. Em 1922 foi vencido o crédito de 80 contos de réis para conservação e instalações elétricas no prédio. Em 1936 novas obras foram necessárias sendo realizadas pelo eng. Miguel de Castro Moreira no valor de 82:950$000, as quais foram encerradas em julho de 1937 com melhoramentos no edifício e novas instalações construídas. Entre 1972 e 1986 o prédio passou por grandes reformas que buscaram a restauração de suas linhas originais e a segurança da estrutura. Atualmente, estão sendo implementadas obras que se estenderão pelos próximos anos. Desta forma, fica desprovido de fundamento o comentário feito na cidade nos últimos anos sobre a demolição do espaço que seria transformado num grande estacionamento.

O prédio da Alfândega foi a maior obra civil realizada na cidade do Rio Grande no século 19. Somente no período de 1874-1882 foram gastos pelo governo Imperial quase 700 contos de réis. O valor investido foi muito alto se comparado com o orçamento da cidade do Rio Grande naquele período que variava entre 51 e 60 contos de réis. Apenas como comparação, gastou-se na construção parcial do prédio a receita de aproximadamente 12 anos de arrecadação em nível local.

O prédio da Alfândega é um dos mais reproduzidos nas coleções de postais existentes. Neste cartão-postal, editado por volta de 1905, observa-se parcialmente a fachada pela rua Andradas e, integralmente, a fachada pela rua Riachuelo. O ponto central do cartão está voltado à opulenta torre da Alfândega.