História e Historiografia do RS

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

O CALENDÁRIO MAIA E O FIM DOS TEMPOS

*Matéria publicada no Jornal Agora em dezembro de 2012.
Calendário Maia. Encontrado em Yucatan. 


       
        Não há nenhuma evidência científica do ‘Fim do Mundo’ no próximo dia 21 de dezembro! Apesar disso, inúmeros ‘sites’ tem abordado o tema concluindo pela ocorrência de fenômenos que levariam a ocorrência da destruição total ou parcial do planeta.
        Um doutor da Igreja Católica, Santo Agostinho, afirmou em seu livro ‘A Cidade de Deus’, que previsões futuras com datas determinadas não passam de fábula. Num período fundado na superstição como a Idade Média Ocidental esta frase demonstra um critério de não aceitação das ‘supostas verdades’ de leituras do apocalipse bíblico tão comum em seu tempo. Porém, em pleno século XXI o bom senso ainda não foi institucionalizado no cotidiano. O apelo à diversidade de manifestações culturais apregoa que a tolerância é o politicamente correto, mas deve haver um limite para o sobrenaturalismo mal intencionado. Este limite se chama informação científica.
        A própria NASA tem feito uma campanha para divulgar as informações científicas sobre os supostos eventos que ocorrerão em dezembro.  Um dos motivos da Agência Americana promover este esclarecimento está fundado na pesquisa de opinião realizada pela empresa francesa Ipsos que levantou dados ‘absurdos’ (em minha opinião) sobre a recepção pública da onda de boatos espalhados, especialmente, na rede mundial de computadores: o fim do mundo advindo do calendário Maia é verídico para 12% dos americanos, 20% dos chineses, 13% dos mexicanos, 12% dos argentinos e 10% dos espanhóis. Ou seja, pelo menos 1 bilhão de pessoas acredita que o mundo vai acabar no dia 21! Conforme o astrofísico David Morrison (NASA) ele teria recebido várias cartas de pessoas que estavam inclinadas ao suicídio para escapar ao dia fatídico. O cenário deixa de ser anedótico para se tornar trágico se estes dados forem manipulados por seitas que instiguem o suicídio coletivo de seguidores.
        Alguns argumentos para afirmar que no dia 21 não serão confirmadas as previsões são arrolados a seguir:
1)O calendário Maia. Eis o epicentro da discussão ligada ao ‘fim dos tempos’. Na cidade Maia de Tortuguera (no sul do México), foi encontrada uma lápide (chamado de Monumento 6) com inscrições conhecidas como Calendário Maia. Esta civilização surgida a cerca de 4.000 anos teve seu apogeu entre 300 a 900 depois de Cristo. Conforme Alexandre Guida Navarro (Universidade Federal do Maranhão) na verdade, a data desse monumento indica somente o fim de um grande ciclo do calendário Maia e não a destruição do mundo. A criação do mundo pelo Deus Sol teria ocorrido em 3.114 antes de Cristo e o fim deste ciclo ocorre no próximo dia 21. Fim de um ciclo e não ‘fim dos tempos’. Para os Maias nada terminava e sim se transformava diferente dos mitos do apocalipse Ocidental fundados no Antigo Testamento (Livro do Apocalipse). Descobertas arqueológicas recentes de um calendário mais antigo foram publicadas na revista ‘Science’ (David Stuart – Universidade do Texas) indicam que os ciclos desta civilização se projetam por milhões de anos.    
2)O planeta X, também chamado de Nibiru ou Hercólubus. Um planeta ‘supostamente’ conhecido pelos Sumérios há pelo menos 5.000 anos se aproximaria em rota de colisão com a Terra. Esta é realmente uma grande encrenca! Sua chegada seria em 2003 o que não ocorreu. A nova data é no próximo dia 21. Conforme a NASA, não ha registro da aproximação deste corpo celeste com um tamanho de 4 planetas Terra. Um corpo desta dimensão seria visível a olho nu e poderia ser observado em telescópios a vários anos atrás. Literalmente, um choque com o Planeta X transformaria a Terra num inumerável número de fragmentos. Felizmente, a Terra já tem quase cinco bilhões de anos e isto nunca ocorreu.  
3)Um choque de um asteróide ou cometa com a Terra. Estes corpos são monitorados por astrônomos e não ha previsão de um choque desta natureza. 65 milhões de anos atrás um destes corpos atingiu a Terra e provocou a extinção dos dinossauros. Ou seja, um fenômeno que pode ocorrer em períodos de milhões de anos.
4)Alinhamento planetário. O quase alinhamento entre a Terra, o Sol e o centro da Galáxia ocorre a milhões de anos não se constituindo num fato extraordinário. A posição da Terra em relação a outros planetas não configura um alinhamento no próximo dia 21. Neste dia tem início o verão no hemisfério sul e o inverno no hemisfério norte. É quando o Sol atinge a maior declinação medida a partir da linha do Equador num acontecimento que ocorre todos os anos. 
5)Explosões solares. A NASA reitera que a atividade solar atinge picos de máxima intensidade a cada 11 anos. São ciclos naturais do Sol e que já ocorreram na Terra inúmeras vezes. O próximo pico vai ocorrer em 2013 e 2014.
6)Todos os fatores agindo ao mesmo tempo! Este parece o cenário ideal para o apocalipse. O sonho de consumo realizado que faria vender mais livros, vídeos, produtos em geral! É claro que somando os fatores exógenos arrolados com os efeitos endógenos de uma proliferação ultrarrápida de uma cepa de influenza pandêmica e a triplicação da produção industrial mundial nos próximos dias, estaríamos diante de componentes catalizadores do Fim dos Tempos.
        Em minha opinião, o gerenciamento do Planeta hoje é um cenário mais relevante para reflexão do que as preocupações com fatores exógenos que levariam a destruição súbita da nave Terra. Gerenciamento dos recursos naturais e não renováveis, da poluição e do desequilíbrio climático, das geopolíticas do poder e das possibilidades de sobrevivência de um projeto global num multifacetado cenário de povos e culturas em conflito. Estas são as verdadeiras questões que as próximas décadas deverão ser enfrentadas para garantir a sustentabilidade da espécie humana no planeta.

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