História e Historiografia do RS

domingo, 27 de outubro de 2019

O BALÃO GRANADA

 Balão Granada em fotografia do Atelier Fontana. Acervo: Biblioteca Rio-grandense.


         No dia 18 de julho de 1909 ocorreu uma demonstração de balonismo no Parque Rio-grandense (atual Parque do Trabalhador). O responsável pela apresentação foi o balonista Guilherme Antônio Magalhães Costa um dos pioneiros desta pratica no Brasil. Natural de Portugal foi capitão da marinha mercante portuguesa, fazendo demonstrações de vôo no Brasil desde 1905 quando se esteve em várias cidades, inclusive em Porto Alegre. Em abril de 1909, o balão Granada alçou vôo do Passeio Público em Curitiba e caiu na torre da Catedral. Um réplica em metal do balão (com 5,39m de altura) foi colocada neste Passeio em 2010. Em outubro realizou a primeira subida de balão em Santa Maria.
         O espetáculo atraiu milhares de pessoas e a cobertura jornalística foi feita pelo Diário do Rio Grande daquele ano. Uma fotografia também deixou registro do evento.

“O Granada. O magnífico dia, pleno de luz e de amena temperatura, não só permitiu a ascensão do Granada, como ofereceu motivo para um espetáculo interessante, no Parque Rio-grandense, pela multidão popular que afluiu ansiosa por apreciar a prova aeróstata do intrépido capitão Magalhães Costa. Pouco depois de meio dia, começaram as grandes levas de homens, senhoras e crianças, nos bondes da Viação Rio-Grandense, que trafegavam de 10 em 10 minutos e a pé. Uma verdadeira romaria, constante, ininterrupta! A 1 ¼ da tarde, partiu o primeiro trem, contratado pelos srs. Rios & Cavalcanti, levando 5 carros completamente cheios de povo, inclusive pessoas de pé nas plataformas. Seguiram-se lhe mais três comboios de 6 carros cada um, que, como o precedente, foram completamente atestados de gente. Venderam-se 3.564 passagens de bondes e 1.600 passagens de trem, afora os passes de favor, etc. O serviço de bondes foi feito com a possível ordem e regularidade, não se dando felizmente nenhum desastre. O mesmo se pode dizer quanto ao trafego de trens, se bem que fossem insuficientes os comboios para fazer o transporte com a precisa normalidade. Transitaram também muitas exmas. Famílias, em carros particulares e de praça. A multidão que enchia literalmente o Parque e se movimentava nas imediações do mesmo, era superior a doze mil pessoas, das quais grande parte fez o trajeto a pé, devido à insuficiência dos meios de transporte. No Parque tocava alternadamente a banda União Musical. Foram vendidos ali 1.600 bilhetes de ingresso a 1$000. Quando se não esperavam mais espectadores, começaram os preparativos para a ascensão. Seriam 3 e 15 minutos, quando principiou o enchimento do Granada, a ar quente, produzido por um forno, previamente construído no redondel do jardim. Durou 37 minutos o trabalho de enchimento, que foi feito com a ajuda de auxiliares do capitão Magalhães Costa e sob a direção deste. Infelizmente, o vento que pela manhã soprava na direção sudeste, rondou para nordeste, dificultando assim a ascensão através da terra firme e tornando inevitável o rumo de barra afora. A vista disso, o sr. capitão Magalhães Costa desistiu de levar a barquinha, que deveria conduzir além de outras pessoas, o nosso diretor Frediano Trebbi e o nosso amigo capitão Otaviano Molina, conforme gentilmente aquiescera o bravo navegador dos ares. Às 4 horas da tarde, quando o Granada perfeitamente aprumado forcejava por fender o espaço, o intrépido aeronauta, munido de um salva-vidas e sentado em uma espécie de trapézio de cordas, deu a voz de – Larga tudo! Foi um momento de sensação geral! O Granada, livre das peias que o prendiam a terra, subiu impávido, sereno e sem oscilação, a não ser a que é determinada pelo arranco de saída. A multidão irrompeu em aplausos, acorrendo para todos os lados, afim de melhor apreciar o sugestivo quadro, de que só há reminiscência aqui, pois, a primeira feita nesta cidade, há 40 anos. O Granada que se conservou sempre a vista, numa altura de 783 metros, tomou o rumo de sudoeste, para os lados do Saco da Mangueira, conservando-se no ar apenas 8 minutos, pois se continuasse a subir, iria ter fora da barra, ficando o capitão Magalhães Costa, em posição muito perigosa, quando caísse. A vista disso o arrojado aeronauta abriu a válvula de escape e fez o Granada baixar lentamente, na esperança de cair sobre a faixa de terra, que separa o mar do Saco da Mangueira. Infelizmente não foi isso possível, pois que o Granada veio descansar n’água, tendo antes o capitão, se jogado ao elemento, mergulhando, para depois ir ao nado ao encontro dos gigs 15 de Novembro e 3 de Maio, do Club de Regatas, tripulados pelos srs. Oscar Espindola da Silveira, Eugenio de Freitas, Adel Carvalho, Edgar Fernandes e Jaime Trindade o primeiro; e Augusto de Campos Moraes, João Curytibano da Rocha, Mario Silva, Emilio Hormain e Alcides Nunes, o segundo, que o aguardavam a certa distância, com outras embarcações de socorro, previamente conseguidas. No primeiro gig o capitão Magalhães Costa, regressou para o Parque, sendo alvo de delirantes aclamações e recebendo inúmeros abraços das pessoas presentes. Sendo-lhe oferecido um copo d’água, no botequim do Parque, trocaram-se vários brindes. Às cinco horas da tarde, começou a debandada para a cidade e arredores, trafegando os bondes e trens, até às 9 horas da noite, completamente cheios de povo. Milhares de pessoas regressaram a pé, por falta de meios de transporte, apesar de ter a Companhia Viação utilizado todo o seu material rodante, improvisando zorras e carros de carga, em veículos de passageiros. E assim terminou o interessante espetáculo proporcionado pela ascensão do Granado”. 

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