História e Historiografia do RS

quinta-feira, 31 de outubro de 2019

HISTÓRIA E LONGEVIDADE

Jurogin. Deus da longevidade e sabedoria no Xintoísmo. Acervo: buddhamuseum.com


         A longevidade era um tema que interessava os leitores no início do século XX. O Almanak Literário e Estatístico do Rio Grande do Sul para 1909. Rio Grande: Livraria Americana, 1909, reproduzindo acontecimentos do ano de 1906, relata alguns casos de pessoas de elevada idade que haviam falecido ou que ainda estavam vivas no Rio Grande do Sul. Porém, oficialmente, é reconhecida a francesa Jeanne Louise Calment que nasceu em Arles, em 21 de Fevereiro de 1875 e faleceu na mesma cidade no dia 4 de Agosto de 1997 como o ser humano com maior longevidade. Chegou aos 122 anos e 164 dias de vida, num total de 44.742 dias. Se outras pessoas viveram mais do que a Sra. Calment, é uma questão em aberto frente à dificuldade em comprovar documentalmente o tempo de vida de muitas pessoas.
       Sendo verdadeira as investigações encaminhadas no tempo do historiador Alfredo Ferreira Rodrigues, o Rio Grande do Sul tinha alguns centenários moradores. O que torna mais interessante a longevidade é que estas pessoas teriam vivido em períodos recuados da História Colonial e Imperial do Brasil e também da cidade do Rio Grande. Informações preservadas na memória poderiam trazer alguns esclarecimentos sobre a vida cotidiana naqueles tempos. Diga-se que o que somos enquanto seres históricos e produtores de cultura, está preservado em nossa memória. Uma longevidade em que o cérebro manteve-se sadio está repleta de informações e experiências culturais com várias décadas de duração. Pelo menos a nossa história está ali depositada e muitas vezes ela se torna fonte, para entender a trajetória histórica humana no planeta. A metodologia utilizada para a leitura da memória é a História Oral.
        O Almanak refere-se a um negro vindo da África que tinha pelo menos 157 anos de idade. Será possível?
As matérias:
        Disse o Diário do Rio Grande ter morrido há dias em Porto Alegre com 115 anos, o preto José Andrade Neves, bahiano e que fora ferido na revolução da Sabinada.
       Noticiou o Diário do Rio Grande ter falecido na fazenda do Serro Azul, uma mulher com 140 anos de idade. Era uma crônica viva de todos os acontecimentos que se desenrolaram na região missioneira, na época gloriosa da conquista das missões. Foi companheira do herói, José Borges do Canto e assistiu a capitulação de Rodrigues tenente-governador de S. Miguel, fato este que se deu em 1800 ou 1801. Um seu filho, Bernardo, que faleceu ha muitos anos, quase centenário, serviu nas fileiras republicanas durante toda a revolução de 1835. Sua única filha sobrevivente, Maria, conta mais de 90 anos de idade. A finada deixou testamento, instituindo seu herdeiro da terça, seu neto Valério, de 65 anos.
        No Rio Grande faleceu Luiz Manoel de Souza, com 100 anos.
       Na Santa Casa de Porto Alegre deu entrada um preto africano com 157 anos.  Como declarasse ele ter 193 anos de idade, um dos repórteres que ali se achava, dirigiu-lhe algumas perguntas, as quais ele respondeu da seguinte forma: Veio da África aos 14 anos numa leva de escravos que foram vendidos em Pernambuco. Seu primeiro senhor chamava-se Manoel Carlos e era capitão do 1° Batalhão de Caçadores. A compra foi feita por 14 dobras, ou seja, 40 patacas, segundo as contas do velho africano. Em Pernambuco esteve ele 12 anos, após os quais foi vendido novamente por 400$000. Esteve um 1 no Pará, 6 no Rio de Janeiro, 1 em Santa Catarina, 18 no Porto dos Casaes (hoje Porto Alegre) e 32 em Taquari, isto é, 32 anos até a época em que rebentou a guerra dos farrapos. Feitas as contas, vê-se que Manoel Vitorino, tem segundo a sua exposição, 157 anos, o que já é uma respeitável idade. Isto mesmo foi-lhe observado, insistindo ele, porém, em afirmar que tem 193 anos, fazendo, a propósito, novas somas e contagens com que não se pode atinar de pronto, devido à confusão de datas por ele expostas. Tomando-se por base a idade de 157 anos, vê-se que esse macróbio (pessoa de vida longa) nasceu em 1749.
        Tivemos ocasião de confabular, ontem, no Asilo de Pobres, com o preto Damião J. Mendes Soares, que conta a invejável idade de 116 anos. Esse macróbio, goza ainda de certo vigor físico, fala com toda a lucidez e responde acertadamente as perguntas que se lhe faz. Lembra-se perfeitamente de fatos passados, inclusive da guerra dos Farrapos, durante a qual serviu. Damião Soares, é africano e veio da sua pátria em um navio negreiro, tendo sido capturado pelos próprios irmãos de raça, arvorados em agentes dos traficantes de escravos. Disse-nos que ao ser preso deram-lhe um coronhaço no ombro esquerdo que o derreou, sendo então amarrado e conduzido a bordo. Conduzido para o Brasil, esteve algum tempo na Bahia, de lá vindo para servir as forças legalistas durante a revolução de 1835. Damião Soares deixou, ao vir da África, mulher e filhos. Apesar dos anos, não se mostra abatido, sendo dotado de gênio expansivo e alegre. Possui apenas um único dente. Mostra-se satisfeito no Asilo e vive bem disposto.
           Na Santa Casa de Porto Alegre, faleceram Andresa Silva com 102 anos e Clemente Conceição com 120.
       No Asilo de Pobres do Rio Grande faleceu a preta Helena Maria da Conceição, com 102 anos.
        Noticiou o Echo do Sul do Rio Grande, ter falecido no município do Herval, perpétua Maria de Ávila, contando 125 anos. Falava na conquista das Missões, na chega de D. João VI e lembrava-se de quando o Brasil fora elevado a categoria de reino, tendo já nessa época 34 anos de idade.

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