História e Historiografia do RS

sábado, 26 de outubro de 2019

A BIBLIOTECA RIO-GRANDENSE



Estilo arquitetônico atual do prédio. Fotografia da década de 1970. Acervo: Fototeca Municipal. 

Prédio misto com a fachada de 1915 com o anexo de dois pisos posterior a 1936. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense.
         Para investigar o passado é necessário encontrar documentos, que são vestígios parciais do que aconteceu. A maior parte do acontecido não deixa vestígios ou poucas pistas restam. A forte ênfase dada no século 19 à preservação da documentação em arquivos, advém da constatação de que escrever história necessita de fontes, entendidas naquela época como ‘escritas’. Porém, hoje sabemos que as fontes estão para além do documento escrito, podendo ser iconográficas e fotográficas, orais, patrimônio material e imaterial etc.
Estas fontes, no caso, as escritas, são pistas para pensar a historicidade de sociedades. Muitas vezes uma breve informação em um texto do passado pode ser uma destas pistas que leva ao esclarecimento da investigação. Ao fazer a leitura de uma antiga publicação, encontrei uma referência aos primeiros passos para construção do prédio que aparece na fotografia desta página no ano de 1894. Atualmente, não há como reconhecê-lo na paisagem urbana da cidade pois ele já foi demolido a quase um século. Mas ainda existia quando foi feita a seguinte referência: “a pedra fundamental do edifício municipal foi lançada no dia 7 de setembro de 1847. Hoje este edifício é propriedade da Biblioteca Rio-Grandense”. (Revista Rio Grande do Sul. Rio Grande: Fontana, n.4, março de 1911, p. 78). Exatamente! No local onde hoje está edificada a Biblioteca Rio-Grandense (General Netto esquina General Osório) funcionou, originalmente, o prédio da Câmara de Vereadores.
A Intendência Municipal faz uma proposta de venda da Casa da Câmara para a Biblioteca Rio-Grandense no ano de 1895. A Biblioteca consegue vender por leilão um terreno no rua Uruguaiana (Silva Paes) por cerca de 17 contos de réis e adquire o prédio, em agosto de 1895, por 25 contos de réis. Paralelamente, a municipalidade adquiriu o Casarão da Família Tigre (atual Prefeitura em fase final de restauro após o incêndio) e iniciou obras que estenderam-se até 1900. Após a escrita desta matéria pela Revista em 1911, por volta de 1915, o prédio foi amplamente reformado. A nova planta foi projetada por Carlos Ossola, que deu ao prédio uma fachada eclética que associava colunas neoclássicas e elementos barrocos. No ano de 1936, devido ao grande crescimento do acervo, o engenheiro Fernando Duprat da Silva promove uma ampliação estrutural e a construção de um segundo piso. Devido ao alto custo, a obra perdurou até 1954.
O tempo passou e o prédio permanece como uma das referências do centro histórico da cidade do Rio Grande. A descontinuidade dos investimentos culturais/patrimoniais torna a edificação vulnerável ao desgaste com o passar do tempo. As direções se sucedem na defesa do acervo e do bem material (o prédio) que resguarda o precioso acervo da mais antiga instituição de cultura do Rio Grande do Sul (em atividade desde 15 de agosto de 1846). Uma luta difícil de gerações, porém, indispensável para a sobrevivência de um dos principais acervos de livros e jornais do Brasil. A cidade dos bilhões de dólares em investimento no Polo Naval, também poderia ser a cidade dos investimentos, pelo menos módicos, num de seus maiores bens culturais que é a Biblioteca Rio-Grandense.  

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