História e Historiografia do RS

quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

OS IMIGRANTES AÇORIANOS

Mapa do Arquipélago dos Açores em 1584 por Luís Teixeira. Acervo: Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.

O deslocamento dos açorianos das Ilhas para o Brasil envolveu as normas oficiais da Coroa Portuguesa, o transporte marítimo e as difíceis condições de sobrevivência durante a viagem.
A travessia marítima pelo Atlântico no século XVIII era demorada e com riscos consideráveis à saúde dos passageiros. Antecedendo a migração alemã e italiana do século XIX, os açorianos sofreram de forma ainda mais dramática as dificuldades de deslocamento até a terra da promissão: o Brasil.
A Vila do Rio Grande foi à porta de entrada da corrente açoriana que se deslocou da Ilha de Santa Catarina para o continente do Rio Grande. Atendendo ao objetivo principal de sua imigração, os casais deveriam ser deslocados em grupos para o interior e lá aguardar a ocasião para ocupar a região das Missões. Entretanto, a resistência indígena, já a partir de 1753, e a consequente Guerra Guaranítica, que se estendeu até 1756, tornaram impossível a concretização desses planos e determinaram a permanência da quase totalidade do contingente açoriano na própria Vila do Rio Grande. É provável que, entre 1752 e 1754, grupos de casais tenham apenas passado pela Vila, seguindo logo para o interior; nessa época Gomes Freire fortificava três áreas, estrategicamente, importantes para manter acesso à região a ser incorporada; Santo Amaro, onde estabeleceu os armazéns de abastecimento do Exército, Rio Pardo, onde erguera o Forte de Jesus-Maria-José para garantir aquela fronteira, e o porto do Arraial de Viamão, base de manutenção dos outros dois pontos.
De acentuada relevância foi o povoamento da Vila do Rio Grande de São Pedro pelo contingente açoriano até 1763. Porém, em outras localidades do Rio Grande do Sul, os açorianos ficaram abandonados do apoio estatal prometido. O drama épico da saída das ilhas e chegada ao Brasil persistiu nas décadas posteriores a sua chegada. O assentamento previsto na Provisão de 9 de agosto de 1747 foi protelado por décadas. Portugal neste período estava com a balança comercial deficitária. A ocupação do território missioneiro, a partir do previsto no Tratado de Madrid frustrou as expectativas dos casais pois a área continuou sobre controle da Coroa Espanhola. A economia mineradora no Brasil colonial apresentava queda na produção e a cotação internacional do açúcar era baixa. Os custos de manutenção das tropas e a reconstrução de Lisboa, que fora destruída pelo terremoto e maremoto de 1755, deixou deficitário o Erário Régio lusitano. Uma situação metropolitana e ultramarina complexa em que a colonização açoriana inseriu-se e que os colonos sentiram severamente os efeitos, inclusive com a dominação espanhola na Vila do Rio Grande. Após a retomada lusitana e expulsão espanhola, durante os governos do brigadeiro Marcelino de Figueiredo (1769-1780) e do brigadeiro Sebastião da Veiga Cabral e Câmara (1780-1801) é que o povoamento açoriano que já havia difundido-se mas que passou a ser organizado com legalização de terras em núcleos como Porto Alegre, Viamão, Osório, Mostardas, Santo Amaro, Cachoeira etc. Novas conjunturas e perspectivas abriam-se aos colonizadores dos Açores nas duas últimas décadas do século XVIII. Após a viagem marítima, o drama do abandono e do conflito com os espanhóis novos desafios aguardavam os colonizadores açorianos nos primórdios do século XIX.


Quadro com a chegada dos Açorianos por Augusto Luiz de Freitas (1923). Acervo: Instituto de Educação de Porto Alegre.  

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