História e Historiografia do RS

sábado, 5 de agosto de 2017

1884: OS CAMINHOS DE FERRO CHEGAM A RIO GRANDE II

Projetos para a instalação de tráfego de bondes em Rio Grande remontam a 1871. Porém, somente em 1884 é que se efetivou esta modalidade de transporte urbano. Inicialmente movido à tração animal e posteriormente por eletricidade, os bondes promoveram uma grande transformação no perfil da cidade. O tempo da utilização do cavalo ou das carroças que transportavam seus proprietários ou passageiros, estava chegando ao fim. Na transição dos séculos 19 para 20 a cidade apresentou um acentuado incremento populacional e uma acelerada expansão econômica no setor industrial. Os bondes tornam-se essenciais para a manutenção das atividades capitalistas.
Na Assembléia da Companhia Carris Urbanos do Rio Grande realizada no dia 26 de março de 1886, o capital foi aumentado para 250 contos de réis, com o objetivo de construção do ramal da Costa do Mar. Em sessão da Câmara em 6 de dezembro de 1887, a Carris apresentou uma representação demonstrando a importância de “estender os trilhos da mesma Companhia até a praia do distrito da Mangueira, tendo por fim a fundação de um estabelecimento balnear e a condução de passageiros, de forragens, leite e outros produtos”. A Câmara pediu a Assembléia Provincial “a necessária autorização para poder tomar sobre si a garantia dos juros do capital de que carece a Companhia, isto é, 250 contos ao juro de 7% durante dez anos e no caso de ser possível, a Província garantir a metade do capital, ou consignar no orçamento provincial uma verba de dez contos, como auxílio a esta Câmara, para o pagamento dos juros, concorrendo assim para levantar este município do abatimento em que se acha”. As obras até a atual praia do Cassino tiveram início em 20 de janeiro de 1889, sendo deslocado um primeiro trem de teste no dia 22 de dezembro. A inauguração do tráfego da linha de bondes a vapor da Companhia Bonds suburbanos da Mangueira ocorreu no dia 26 de janeiro de 1890. A extensão da linha a partir da cidade era de 18.600m. A linha também fazia nascer o Balneário. Para ir à praia de banhos, os passageiros seguiam de bonde até o Parque e ali embarcavam no trem. A linha corria paralela a da Estrada de Ferro Rio Grande-Bagé até a Junção, a partir dali seguiam rumos distintos.
Em 1887, a extensão das linhas urbanas em Rio Grande era a seguinte: da estação da rua Barroso até a Estação de Ferro 2.650m; até o Matadouro 4.700m e até o Parque 5.350m. Projetava-se uma linha de 3km pelas ruas General Osório e Aquidaban até uma rua paralela a Estação Férrea numa extensão de 7km. Uma nova linha foi inaugurada em 24 de abril de 1898 a qual partia da Alfândega no lado da rua dos Andradas, passando pela General Osório, Aquidaban e Boulevar Carlos Pinto até encontrar a Linha do Cemitério.
         A Companhia Carris Urbanos foi incorporada a Estrada de Ferro Costa do Mar em dezembro de 1891 passando em fevereiro de 1894, a denominar-se Companhia de Viação Rio-Grandense. Em 28 de maio de 1900 foi vendida à Companhia Southern Brasilian o trecho da linha Costa do Mar. A Viação Rio-grandense ficou responsável pelos serviços urbanos de cargas e passageiros. O Relatório do Vice-Intendente Municipal coronel Rosalvo Azevedo datado de primeiro de setembro de 1909 assinala que a tração animal ainda era utilizada: “Com o fim de transformar o atual sistema de tração animal pela de eletricidade as companhias Viação Rio-grandense e a de Eletricidade, firmaram contrato com esta Municipalidade a 10 de dezembro de 1908”. O relatório do Intendente Dr. Trajano Lopes em 1 de setembro de 1914 esclarece sobre a lentidão destas tentativas: “a Compagnie Française du Port de Rio Grande du Sul, iniciou a 7 de dezembro próximo findo, o assentamento das linhas de bonds elétricos. Tal serviço está em andamento tendo porém, tido repetidas e lentas interrupções que por sem dúvida retardarão esse importante melhoramento local”. Anteriormente, no relatório de 2 de setembro de 1912, o Intendente coronel Augusto Álvaro de Carvalho afirmara: “De julho até dezembro o serviço foi feito com tração animal, estando à linha férrea e o material rodante em péssimas condições de conservação, porque nenhuma  providência foi tomada pela Compagnie Française, por estar em vista de fazer a substituição da tração animal pela elétrica. A 15 de novembro de 1911 foi oficialmente inaugurada à tração elétrica...”.
O tráfego elétrico até a linha do Parque partia da praça da Caridade e seguia pelas Ruas Aquidaban e Marechal Deodoro. Com a inauguração em 15 de novembro de 1922 das linhas do Poester e Matadouro, desapareceu o último bonde de tração animal, sendo utilizado os animais apenas para o transporte de carnes do Matadouro e posteriormente sendo substituídos por trator elétrico. O Governo Estadual (Diretoria de Obras do Porto e Barra do Rio Grande) adquiriu, em 1920, os serviços de bondes e luz. Em primeiro de julho de 1932, estes serviços passaram ao controle do Município sendo responsabilidade da Diretoria dos Serviços Industriais (DSI).
No ano de 1940, as linhas de bondes elétricos tinham uma extensão de 24.500m, consumindo 758.205 K.W., existindo 42 carros que transportaram naquele ano 5.386.841 passageiros.
Conforme Fortunato Pimentel (Aspectos do Município do Rio Grande) ocorreu em primeiro de outubro de 1939 a inauguração do trafego regular de ônibus. Em setembro daquele ano foram adquiridos os primeiros dois ônibus com chassis Ford e carroceria Grassi, de lotação para trinta passageiros. Em dezembro de 1940 o número de carros foi aumentado para cinco com o fornecimento feito pela General Motors do Brasil, de três ônibus do mesmo tipo montados em chassis Chevrolet-Rex. “Com este material, de ótimo aspecto e grande conforto para o passageiro, tem o D.S.I., atendido com regularidade os horários estabelecidos para o serviço urbano e para a Vila Sequeira (Cassino)”.

Pimentel também afirma que em 20 de maio de 1917 foi suprimida nas vias públicas a iluminação a gás. Aí foi contratado o serviço de iluminação com a Companhia Française, concessionária dos contratos de iluminação e viação das extintas companhias Viação Rio-grandense e Companhia Rio-grandense de Iluminação a Gás. Em 1941, foi projetada a construção da linha para fornecimento de energia elétrica ao Cassino. 

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