História e Historiografia do RS

quarta-feira, 12 de julho de 2017

UMA HISTÓRIA DE AMIZADE

Dois espaços públicos da atualidade, localizados na área central da cidade, buscaram preservar a memória de dois personagens muito relevantes na história local no século XIX: a rua Zallony e o Largo Dr. Pio.
Edouard Timoléon Zallony estava no Rio de Janeiro em 1840 como capitão do Estado-Maior da França. Já anunciava suas lições de desenho e a confecção de retrato de pessoas. Em 1844 se transfere para Rio Grande para ocupar o cargo de professor público de francês, desenho etc. Em 1846, com autorização do Conde de Caxias, foi criada em Rio Grande a primeira escola de desenho da Província. Zallony atuou como professor nesta escola. Além de retratista, Zallony foi um dos pioneiros da fotografia. Ele esteve em Rio Grande em 24 de fevereiro de 1851, vindo de Marselha, trouxe quatro volumes de material daguerreotípico para fotografias amadoras.Posteriormente, instalou estúdio fotográfico em Porto Alegre a rua do Rosario, no ano de 1861, após estudos realizados nos Estados Unidos. Em 1854, fundou a Sociedade Instrução e Recreio, que além dos bailes também ofertava aulas de diferentes conteúdos para os associados. Sua destacada atuação durante a epidemia de cólera foi reconhecida pela Câmara dos Vereadores e o nome da Rua do Corpo da Guarda, foi modificada em dezembro de 1858 por iniciativa do vereador Antonio Bonone Martins. Passou a se chamar rua Zallony, uma das mais importantes do centro da cidade. Ele retornou para a França no ano de 1864 e décadas mais tarde um jornal francês de 1897 anunciava os seus services: “Zallony Timoléon, rentier, 86 ans, rue de l'Aigle d'Or. Docteur. A&il. 1T. Médecin Spécialiste. Pour les maladies des Yeux, du Larynx, de la ...”. No ano de 1904, uma Comissão de Aix (Departamento de Marselha), divulgava que o testamento de Zallony contemplava o seu ex-escravo João Otelo (terá sido localizado ou já falecera?). Mesmo tendo passado tantas décadas, Zallony não havia esquecido de alguns vínculos afetivos construídos em Rio Grande.
Outro médico de destaque em Rio Grande foi Pio Ângelo da Silva que nasceu na então Vila do Rio Grande de São Pedro a 3 de maio de 1818. Quando eclodiu a Revolução Farroupilha (1835-1845), cursava enfermagem, e auxiliou no tratamento dos feridos. Em 1841, antes do término do conflito, iniciou seus estudos superiores na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, concluindo-os na Universidade Sorbonne de Paris. Depois de formado, retornou à sua cidade natal dedicando-se ao combate do chólera-morbus, que entre 1855-1856 começara a espalhar óbitos na população rio-grandina. Por conta dos serviços prestados à população durante tal epidemia, foi agraciado com uma medalha pelo Governo Imperial. Segundo Neves (1989), ele estudou com seus mestres da Sorbonne o vírus, facilitando assim diversas curas que promoveu entre os enfermos, o que veio a contribuir com sua fama de médico competente. Tornou-se diretor da Enfermaria Militar do Rio Grande por ocasião da Guerra do Paraguai (1864-1870).
Pio da Silva foi um dos líderes do Partido Liberal do Rio Grande, sendo amigo de  Bento Gonçalves da Silva e Gaspar Silveira Martins.
Faleceu a 14 de abril de 1897, após uma cirurgia na cidade de Montevidéu, Uruguai. Dr. Pio teve uma longa trajetória como médico e obteve o apelido carinhoso em Rio Grande de “pai dos pobres” por atender gratuitamente os despossuídos de recursos financeiros.

O francês Timoléon Zallony publicou em 1884 o livro Le Choléra et la manière d'en réduire la mortalité. Em 1886, publica uma edição em português do mesmo livro com o título O Cholera e a Maneira de Reduzir a sua Mortalidade. Este livro é dedicado ao Dr. Pio e evidencia a amizade estabelecida entre os dois profissionais da medicina: “Caro Amigo. Estamos aí juntos... juntos também assistimos a muitos sofrimentos e lutos. Mais do que ninguém cumpristes com o vosso dever. As circunstâncias e perto de trinta anos, separaram-nos depois. A idade e distância não permitirão que nos tornemos a ver. Como recordação de nossa amizade dedico-vos as páginas que se seguem. Oxalá não sejam elas as últimas, Vosso afeiçoado, adeus! T. Zallony. Anix, 1° de Outubro de 1884”.

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