A
insustentável leveza da educação é palpável nas avaliações! Ela transita entre
o zero e o dez e é um elemento químico de fluidez cultural. Supostamente,
quanto mais aulas mais qualidade, isto é óbvio! Será? No tempo em que os dias
letivos correspondiam a 180 anuais os resultados na educação eram piores? Ano após
ano, após a fixação dos 200 dias, se percebe as avaliações dos educandos
rolando pela ribanceira. Inúmeras variáveis estão ligadas a esta decadência,
mas uma certeza tenho: mais horas não significam mais aprendizado! Quantidade não é qualidade!
Quando Darcy
Ribeiro propôs uma série de mudanças na prática educativa e na ampliação da
carga horária ele, como profundo conhecedor do Brasil, deveria saber que
acionaria o botão do céu e do inferno. Diria mais do “inferno”, pois decretar
com um porrete uma normativa é diferente de se criar condições “objetivas” para
os educadores “salutarmente” se ajustarem a nova realidade: as velhas mazelas
que aterrorizam os professores (no Ensino Fundamental e Médio) persistiu: de
fato mais stress de uma sociedade violenta que é reproduzida na sala de aula;
mais horas letivas e falta de tempo para preparar os conteúdos e realizar novas
leituras; salários incompatíveis com as responsabilidades de construir uma
nação alfabetizada e com potencial para promover a qualificação todos os
setores da sociedade brasileira!
Lá vieram os
200 dias e goela abaixo foram ficando! Do Ensino Fundamental ao Superior restou
baldes de transpiração e asfixia nos cubículos ferventes das salas de aula. Vinte
dias a mais de desidratação, de pele encharcada pelo suor, mas tudo vale a pena
pelos resultados: a produtividade acima de 30 até 40 graus de um mês de
fevereiro é certamente compensadora! Será?
A reflexão desta
coluna se desenvolveu no calor marcante que tem caracterizado este mês de
fevereiro em Rio Grande e na maioria do Brasil. Historicamente, sempre se
levava um “casaco leve” para enfrentar a noite no Cassino e agora a temperatura
não reduz nem à noite! Professores me comentam que no Ensino Fundamental e Médio
os alunos pingam sob as classes e se concentram ainda menos do que o comum. O
ar fica rarefeito e as paredes estão quentes, fazendo com que a “sopa de
letrinha” tremule pelo ar e cozinhe no caldeirão que a sala de aula se
transformou. O pedido para tomar água é constante ocorrendo um entra e sai
improdutivo.
Tudo bem, o
tradicional mês de retorno as aulas era março que também é quente. Porém, a
partir do dia 13 de fevereiro dar início a uma caminhada - ao lado do poeta
Virgílio - até as profundezas escaldantes do inferno de Dante Alighieri parece
demais...
Em tempos de
aquecimento global (não estou afirmando que é antrópico, apenas constatando os
dados climáticos de aumento da temperatura) precisaremos repensar estas
práticas educacionais que se transformam apenas em tortura de professores e
alunos sem um aproveitamento racional das capacidades cognitivas de ambos.
Outra
questão já de grande impacto econômico e de geração de emprego é a decretação
do fim do veraneio antes da metade de fevereiro. Quantos postos de emprego
temporário tem sido encerrados em todo o Brasil com 15 dias de antecedência?
Qual o impacto financeiro da redução do consumo de serviços que vão da
alimentação até a hotelaria? Há, o carnaval vai restabelecer parte das perdas
financeiras. Esqueci deste detalhe...
Talvez
também tenha esquecido que as salas de aula são dotadas de ar condicionado ou
no pior dos casos de ventiladores de teto. Na FURG estes ventiladores emitem
tal som estridente que os bombardeios Messerschimtt e Thunderbolt na II Guerra
Mundial, mais parecem canções de ninar...
E para
piorar: se for implementada a mudança de carga horária de 800 para 1.400 horas
anuais teremos jornada dupla de fevereiro a dezembro! Se a pressão arterial não
despencar pela manhã terá esta possibilidade na parte da tarde... Desmaio, mal
estar, desidratação, diarréias...
Senhores
responsáveis pelo futuro da educação brasileira: por favor, ressuscitem os 180
dias letivos, pois a perspectiva real que se avizinha já no próximo ano é de
MUITO CALOR!
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