A produção literária publicada no periódico O
Diabrete, o qual circulou no período de 1875 a 1881 no município do Rio Grande,
foi o tema da Dissertação de Mestrado em Letras defendido por Fernanda de Avila
Branco em 2005 (“A Presença e o Papel da Literatura no Jornal Caricato O
Diabrete”). A ironia, o deboche e o recurso ao jocoso fazem parte da imprensa
caricata e se apresenta com vigor no jornal O Diabrete. A abordagem do humor
ácido busca ressaltar desvios morais ou práticas que envergonham a sociedade.
Os vícios e excessos eram sutil ou descaradamente denunciados numa perspectiva
civilizadora de costumes e de construção de um convívio social mais suportável
ou sadio. “As manifestações literárias publicadas apresentam um tom moralizador
que serviam aos propósitos da linha discursiva do periódico, o qual almejava
coibir, reprovar e punir, através do riso, todo comportamento social que
julgasse inadequado, ainda que não revelassem de modo tão explícito estas
intenções. Deste modo, a literatura, além de proporcionar entretenimento,
servia, algumas vezes, de arma para que o hebdomadário pudesse atacar àqueles
que comprometiam o desenvolvimento do município e se desviavam dos princípios
éticos e morais”. Eis que em meio a produção literária fundada, especialmente
em poemas centrados em intensas e melosas exaltações românticas ao gênero
feminino, eis que um “desalmado” que não assinou o escrito mas que denota
“alguma experiência negativa” com o sexo oposto, elabora uma diferenciada (e
suicida) abordagem que foi publicada no Rio de Janeiro e reproduzida no
periódico do Rio Grande.
“Encontramos num jornal da corte a seguinte
definição da mulher. Devemos, porém, protestar contra a maior parte desses
qualificativos, sentindo não termos, ao alcance da mão o poeta árabe, autor
dessa calúnia, porque lhe queríamos esfregar as orelhas e corrigi-lo do seu
atrevimento. Aqui vai tal definição:
O que é a mulher?
É a mulher confusão,
É batalha perdurável,
Sanguessuga insaciável
É cauda de escorpião,
É naufrágio do varão,
É um sepulcro dourado,
É um contínuo cuidado,
É uma cruz endiabrada,
É a carga mais pesada,
É a origem do pecado.
É uma sorte enganosa,
É uma desdita certa,
É do inferno a porta aberta,
É serpente venenosa,
É peleja penosa,
É uma calamidade,
É o gérmen da maldade,
É um adornado engano,
É um lamentável dano,
É mortal enfermidade.
É da paz perturbação,
Da falsidade cimento,
É da glória impedimento,
Da bolsa é o maior ladrão,
Do dinheiro é a inquisição,
Das soberba o ideal,
É dos vícios mineral,
Da leviandade abrigo,
Do homem o pior amigo,
É princípio e fim do mal (O Diabrete. Rio Grande, 12 de dez. 1880, p.6).
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