História e Historiografia do RS

quinta-feira, 13 de julho de 2017

O BARÃO DE LADÁRIO

Nome de destaque no jornal O Povo é a presença de José da Costa Azevedo, mais tarde barão de Ladário que nasceu no Rio de Janeiro, em 20 de janeiro de 1825 e faleceu na mesma cidade em 24 de setembro de 1904. Este polêmico personagem era filho do coronel engenheiro em matemática, José da Costa Azevedo e irmão do religioso franciscano frei José da costa Azevedo. Foi nomeado Guarda Marinha em 1839, com apenas 14 anos, indo servir na Marinha Norte-Americana. Sua presença em Rio Grande está ligada a sua participação na Comissão de Limites do Brasil com o Uruguai. Posteriormente lutou na Guerra do Paraguai recebendo por bravura o posto de Capitão de Mar e Guerra. Quando da queda da Monarquia, ele era o Ministro da Marinha no último ministério imperial chefiado pelo Visconde de Ouro Preto. Quando militares comandados por Benjamin Constant lhe dão voz de prisão ele teria disparado alguns tiros tentando acertar Deodoro da Fonseca. O resultado é que foi alvejado por dois tiros, mas sobreviveu. Deodoro teria gritado: não matem este homem! Foi à única vítima no dia do golpe que derrubou a Monarquia e implantou a República no Brasil! Ladário não desistiu da vida pública e ainda foi Senador nos anos seguintes além de atacar duramente a figura de Floriano Peixoto e suas perseguições políticas. Até novas pesquisas, sua iniciação a linguagem virulenta e radical teve início no jornal O Povo da cidade do Rio Grande.
O início desta caminhada no jornalismo como instrumento político foi o contexto da eclosão do cólera morbus, a mais grave epidemia que até então atingira Rio Grande e a que causou o maior número de mortes na história da cidade. O jornal surgiu exatamente nos momentos dramáticos da epidemia e buscava questionar as relações de poder das autoridades em nível local e estadual.
A epidemia de cólera teve como epicentro do debate o cemitério do BonFim, daí a insistência no tema da higienização e fechamento deste campo santo nos artigos incisivos do redator Azevedo: “O que exigia o povo? O cemitério dentro da cidade, cheio de cadáveres, quando uma epidemia devastadora flagela a população; - os miasmas de cólera que se desprendem de suas covas, infeccionando a atmosfera que alimenta a vida” (O Povo. 29 de dezembro de 1855). A pressão da imprensa local e as manifestações populares levaram ao abandono do cemitério do BonFim e o início dos enterramentos no cemitério extramuros, além das trincheiras, afastando os mortos dos vivos num processo inexorável em nível de mentalidades.  
As posturas políticas de denunciar negligencias tráfico de influências, corrupção, mandonismo ou má administração pública de importante nomes da Câmara de Vereadores, acarretou em perseguições aos redatores do jornal. Até a impressão do jornal tentou ser suspensa com pressões ao dono da tipografia. Azevedo foi tirado do posto e partiu para o Rio de Janeiro para prestar esclarecimentos sobre sua participação na convulsão social que teria levado a ameaças ao presidente da Câmara o Sr. Mesquita. Um dos redatores que atuava como funcionário na Alfândega do Rio Grande foi “exilado” para Jaguarão e outro também foi afastado de suas atividades profissionais. No jogo de influências políticas, a articulação dos conservadores garantiu o inferno astral para o grupo, mas o direito de livre expressão jornalística continuava a ser uma garantia do governo de D. Pedro II. Ao menos para os que conseguiam sobreviver a tantas dificuldades! E uma das maiores foi o afastamento de Azevedo da redação do jornal: “Retirada para a corte do digno primeiro tenente da armada Sr. José da Costa Azevedo! Segue para a corte no vapor Guanabara, o nosso distinto amigo e patrício, que (...) se tem conservado longo tempo nesta província como membro da comissão de demarcação de limites entre o império e o estado vizinho. (...) A retirada para a corte do nosso bom amigo, segundo fomos informados, foi instada pela presidência da província a empenho do Sr. Dr. Bello, que sabemos por cartas de membros do ministério, que este se propunha a deputação geral por este círculo nas próximas eleições, teve o arrojo de concertar mil inventos em desabono do nosso amigo, e fazer constar ao governo imperial que a sua estada aqui era assaz perigosa a tranqüilidade pública (...) seguiu para a corte a fim de justificar-se perante ele das acusações que lhe eram feitas como cabeça dos revoltosos na cidade do Rio Grande!” (O Povo, 25-02-1856).
Estes embates eram apenas o início da carreira militar e política deste personagem que nos anos seguintes participou com a esquadra brasileira na Guerra do Paraguai. Sua atuação lhe valeu o título nobiliárquico de Barão de Ladário.



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