História e Historiografia do RS

sábado, 15 de julho de 2017

A ERA DO RESSENTIMENTO

O filósofo Luiz Felipe Pondé se caracteriza por instigar a reflexão a partir de enfáticas provocações. Em seu último livro “A Era do Ressentimento, uma agenda para o contemporâneo” (São Paulo: LeYa, 2014), ele mais uma vez traz o conceitual filosófico para as questões cotidianas. Ele caracteriza a Era do Ressentimento como um período fundado no individualismo excessivo e narcisista que envolve a sociedade ocidental contemporânea trazendo discussões sobre política, erotismo, beleza, felicidade e sentido.
Nesta “filosofia da provocação” o mundo imperfeito e trágico em que vivemos diariamente é abordado na busca de sentidos para a vida num caos de sentidos possíveis.
Para Pondé a sociedade contemporânea é cada vez mais disjuntiva (conflituosa, contraditória, sem nenhuma cura possível) em sua operação, isto faz com que o movimento de nossa História tenda cada vez mais ao conflito e jamais a um “mundo de paz e igualdade”. Estamos mais no âmbito do agon grego (conflito, agonia) do que do messianismo que sustenta o marxismo hegeliano. Ele enfatiza que não há nenhuma metafísica nesse mundo, apenas homens e mulheres numa batalha cotidiana para lidar com essa disjunção que atravessa a todos, do trabalho ao amor, do consumo às crenças religiosas, dos sonhos noturnos aos pesadelos da vigília diária. 
O filósofo Friedrich Nietzsche desenvolveu o conceito de ressentimento frente à indiferença e silêncio do universo em relação a ação humana no planeta Terra. É da indiferença do universo que nasce a mágoa, e para Nietzsche, as religiões, a metafísica, a moral são criações do ressentimento. Para Pondé, os sintomas do ressentimento assumiram formas infinitas: estética, política, ética e sexual.
Vejamos algumas passagens do filósofo que dispara suas reflexões em tudo aquilo que comporta a condição humana:
Uma agenda para o contemporâneo é um ato de coragem. Sua missão é nos fazer ver quem somos numa época afogada em narcisismo.
Nossa vida se dá, em grande parte, como a de um animal que vive fora de seu lugar: sonhamos em ser imortais mas sempre acabamos por experimentar o mundo finito e o limite de nossos sonhos.
O risco de as Ciências Humanas se tornarem alvo de ridículo no futuro é enorme (confiarão mais nas revistas femininas e nas pesquisas publicitárias), justamente porque elas perderam qualquer contato com a realidade e afirmam seus delírios sobre homens e mulheres que não existem. 
Penso que a esquerda só atrapalha nosso esforço de compreensão das contradições do capitalismo, justamente porque ela é infantil e mitológica em sua visão de mundo.
O ressentimento faz de nós incapazes de ver algo simples: o universo é indiferente aos nossos desejos. 
Todos os direitos humanos e as democracias não resistiriam a dez noites de escuridão.
Nunca haverá paz no mundo, só quando ele acabar e o silêncio do universo nos cobrir com seu véu de indiferença. 
O homem contemporâneo é, talvez, o mais covarde que já caminhou sobre a Terra, sobre a qual deixará sua marca de incompetência em lidar com a morte, a dor e o fracasso. 
O narcisismo não é a marca de alguém que se ama muito, mas a marca de alguém que vive lambendo suas feridas porque é um miserável afetivo.
A ideia de colocar no centro da sala de aula o “oprimido” transformou-se numa das maiores marcas dos idiotas do bem, devastando, no caso específico, a educação.
Se Hitler tivesse de enfrentar os jovens e adultos jovens de nossa época, teria ganho a guerra. Primeiro que seus professores afirmariam que matar é feio e opressor e que supor que os nazistas deveriam ser combatidos seria pura manifestação de intolerância e preconceito com o “diferente”.
Deus me livre de ser feliz. Soa estranho, mas me parece essencial nos afastarmos da neurose da felicidade.
Se você tem mais de trinta anos e se considera a pessoa mais importante do mundo, já fracassou como adulto.
De alguma forma, a marca definitiva do contemporâneo é o narcisismo estéril e o individualismo histérico. Muita gente sente um profundo ressentimento por ter que sustentar (não só financeiramente) suas próprias vidas sem nenhuma garantia de felicidade. 
Nosso maior pecado foi acreditar que superamos as superstições porque criamos outras novas, entre elas a crença em si mesmo.
O mundo contemporâneo inventou o impossível: a multiplicidade de diferenças que não fazem nenhuma diferença. 
A solução para o ressentimento não é negá-lo, mas nomeá-lo, ler sobre ele, perceber que é impossível não o ter em nós em alguma medida porque sempre conviveremos com pessoas melhores do que nós. 


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