História e Historiografia do RS

quarta-feira, 4 de agosto de 2021

A VIAGEM DO IMPERADOR

D. Pedro II em 1865. Fotógrafo: Joaquim José Insley Pacheco.
In: livro de George Ermakoff, Rio de Janeiro, 2006.  

Há 150 anos o Imperador D. Pedro II iniciava uma viagem marítima para a Europa e norte da África.

Aos 46 anos fazia sua primeira viagem para o continente europeu visitando Portugal, Inglaterra, Bélgica, Austro-Hungria, Itália e Egito. 

A partida se deu no Rio de Janeiro em maio de 1871 a bordo do navio "Douro".   
 
Em seu diário escreveu impressões de sua estadia a bordo do navio: o mau tempo persistente, os enjoos, os estranhos passageiros etc. Ele demonstra um olhar aguçado e sendo de observação de pequenos detalhes para identificar personalidades ou interesses sub-reptícios. Literalmente, de forma recatada, o Imperador era bastante irônico e irreverente nas observações cotidianas. Relacionava as cenas com livros e autores, fazendo correlações literárias e científicas. Um exemplo foi citar Ann Radcliffe. 

O Imperador acabou escandalizando nobres europeus por falar com estranhos, carregar a própria bagagem, andar com casacos sem medalhas ou sofisticação, caminhar pelas ruas sem restrições e não exercitar os requintes e distanciamentos exigidos aos monarcas.  

Minha opinião é que D. Pedro II não se sentia o Imperador mas estava como Imperador. E durante 49 de governo buscou assumir com dedicação a obrigação adquirida quando de sua prematura maioridade. Seu espírito se voltava ao mundo intelectual e a curiosidade científica. O que explica sua afirmação de que gostaria de ter sido um "professor de História". 

Diário - "27 de maio de 1871 (sábado) - No dia 25 pouco depois das 5h começou N.E. forte e tive de ir estudar os homens horizontalmente. Contudo vomitei pouco. A noite foi boa apesar dos choros de crianças; ânsias de enjoados; arrastamentos como de cadeiras; um verdadeiro castelo de Ana de Radcliffe. 

Jogou muito o vapor e a água lavou sofrivelmente a tolda e entrou pelos hatchways apesar da caution. Consolava-me refletindo que outro vapor jogaria mais. Ontem pelas 2h da tarde amainou o vento mas eu só me animei a surgir esta manhã e vou muito bem na tolda onde estou escrevendo. Já vou conhecendo a gente de bordo que enjoou quase toda ontem, rolando um inglês pela escada. Antes de ontem a torre do novo farol do Cabo-frio apresentou-se sobre o píncaro qual sombra de poema de Ossian. O velho de resfriado estava com quase sempre embuçado em névoas. Mandou-nos parar para ordens, porém nada disse. Arrumamo-lhe um all are well e, embora não fosse um gaélico, deixou-nos passar com um amável desejo de boa viagem. E boa vida; que lá fomos afocinhando o N.E. que me virou de crena. Estão a bordo o Paes Barreto e o Luis Filipe de Sousa Leão e outras pessoas minhas conhecidas. Duas valentes senhoras - uma delas mulher do Laio do Guimarães do Senhor dos Passos - resistiram valentemente ao enjoo durante o dia 25. Já se caracterizou um esganiçado, que por trajar diversas cores chamam o arco-íris e para diante falarei de outras. Reparo que os louros – não são os papagaios; pelo contrário – louraços e outros da mesma nuance são calados; os de cabelos pretos, castanhos, etc – os portugueses sobretudo papagueiam que é um gosto – para eles" (Diário do Imperador D. Pedro II, 1840-1891. Museu Imperial (pdf).  

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