Porto do Rio Grande em 1908

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terça-feira, 24 de dezembro de 2019

GRAPHIC NOVEL - BLACK DOG

Paul Nash, abril de 1918. In: National Portrait Gallery, London.
 https://collectionimages.npg.org.uk/std/mw163194/Paul-Nash.jpg
Paul Nash, The Menin Road, 1919. Acervo: Imperial War Museum, United Kingdom

O inglês Paul Nash (1889-1946) foi um pintor surrealista que se notabilizou por seus quadros de guerra e de pinturas paisagísticas. Foi um dos nomes de destaque na afirmação do modernismo na arte inglesa. Ele utilizava objetos do cotidiano nas paisagens e a partir de sua experiência como combatente na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), Nash retratou artisticamente o conflito numa perspectiva sombria e antimilitarista.
Em sua passagem pela frente de combate ele escreveu a sua esposa: “Acabei de voltar, ontem à noite, de uma visita ao quartel-general do regimento, e não vou esquecê-la enquanto viver. Vi o mais assustador pesadelo na forma de um país que parece mais concebido por Dante ou por Poe do que pela natureza; indescritível, absolutamente indescritível. Nos quinze desenhos que fiz, posso dar-lhe uma ideia do seu horror, mas apenas estar nela tem o poder de fazer com que você perceba sua natureza terrível e o que nossos homens na França têm de enfrentar. Todos nós temos uma noção vaga dos terrores de uma batalha, e podemos evocá-las com a ajuda de alguns dos correspondentes de guerra mais inspirados e das imagens no "Daily Mirror" do campo de batalha; mas nenhuma pena ou desenho pode transmitir este país - a configuração normal das batalhas que ocorrem dia e noite, mês após mês. O mal e o demônio encarnado sozinhos podem ser os mestres dessa guerra, e nenhum vislumbre da mão de Deus é visto em qualquer lugar”.
         Sua produção feita in loco em cenários do combate se tornaram um referencial para pensar criticamente as guerras e sua irracionalidade.

Dave McKean.
 https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn%3AANd9GcTa9TQzo69D2oZ1LWkHhilyZEPzW7DAOWUVCCVPTJ1YDgw53LY7


        Com base na trajetória de vida de Paul Nash e sua produção artística, Dave McKean (Inglaterra, 1963) usou muita imaginação para expressar conflitos internos e a exterioridade palpável da guerra que poderia explicar as raízes psíquicas da obra de Nash. O roteirista e ilustrador McKean é conhecido por obras como “Asilo Arkham” (de Grant Morrison), Sandman (de Neil Gaiman), Orquídea Negra, ilustrações do livro Caroline etc. É um dos mais conceituados desenhistas de quadrinhos e ilustrador da Inglaterra. Ele utiliza, na elaboração dos quadrinhos, técnicas de pintura, fotografia, escultura, colagem digital e desenho.

Black Dog. 

Em relação a obra em foco “Black Dog”, a leitura que fiz me leva a afirmar: Obra prima!
Ao terminar a leitura da graphic novel Black Dog: os sonhos de Paul Nash (Editora DarkSide, 2018, 120 páginas, capa dura, formato  23 x 30 cm) me veio a expressão “obra-prima”.
Narrativa poética e arte surrealista maravilhosa. O dirigível em formato de peixe (imagem abaixo) e o holofote iluminando-o a partir de uma cidade repleta de silhuetas sinistras é uma destas imagens desconcertantes evocadas por Dave McKean. O casal olhando para o cenário sombrio é uma projeção dos efeitos psíquicos da I Guerra Mundial. Um fio narrativo objetivo repleto de movimentos temporais de avanços, recuos e simultaneidades, entre a infância e a vida adulta de Paul Nash. O jogo de cores, de imagens subjetivas, de simulações distorcidas do real acompanha a construção da fala do sujeito e de seu autoconhecimento a partir das experiências. O movimento se faz entre os conflitos psicológicos e o processo histórico de uma grande guerra que destrói e também faz amadurecer o discurso da estética antiguerra.  
Desconcertante e acima de tudo arte; acima de tudo sensibilidade e lucidez nas ilustrações e textos de Dave McKean; expressão visual com edificação da empatia com o leitor, conduzindo-o para interagir com as emoções de Nash. É o desvelar e a reafirmação das potencialidades da linguagem (textual e imagética) da graphic novel. Obra-prima!
Representação do clima do início da guerra. 

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