História e Historiografia do RS

terça-feira, 9 de outubro de 2018

GRUSS AUS – OS PRIMEIROS CARTÕES-POSTAIS DE R. STRAUCH



         Os cartões-postais se tornaram um sucesso comercial com o modelo “Gruss aus” (lembranças de) que são os mais antigos do Brasil, com carimbos de circulação desde o ano de 1898. Este modelo de cartão apresenta paisagens coloridas e de forte apelo visual dos locais de atração urbana ou rural contemplados. O nome remete a atividade artístico-tipográfica desenvolvidas na Alemanha e que sofreram inúmeras adaptações locais que se difundiram pelo planeta. Até hoje são cartões disputados pelos cartofilistas por sua beleza e antiguidade. Utilizar vários cenários no mesmo cartão já evidenciava a necessidade de um trabalho primoroso de criação, aquarelado e sem uso de imagem fotográfica. Conforme Elysio de Oliveira Belchior em “Lembranças do Brasil” (2004): “na saga dos cartões-postais, são bem conhecidos entre os pioneiros, também chamados incunábulos, os que tiveram a Alemanha por berço, em fins do século XIX. Apreciados pelas cores alegres da cromolitografia, às quais acrescentou em nossos dias a pátina de cem anos ou mais, trazem, no desenho de apuro artístico desigual, a expressão Gruss aus seguida do nome de uma cidade, lugar, evento, edifício ou mesmo de algum inesperado tema que retratam”.
         Mas como a Livraria Rio-Grandense, fundada em Rio Grande em 1887, se situa em termos de pioneirismo?  Numa primeira hipótese o seu proprietário Ricardo Strauch se esmerou nos cartões-postais alemães e acompanhou a tendência do Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia que estavam entrando neste promissor mercado que unia a arte com a circulação de correspondências. Haveria uma relativa contemporaneidade no lançamento de cartões em São Paulo com Victor Vergueiro Steidel (1868-1906).
Uma segunda hipótese é que já no ano de 1896, pioneiramente, Strauch lançou uma coleção de quatro Gruss aus “Lembranças do Rio Grande do Sul” que atualmente são uma referência na cartofilia brasileira. Esta segunda hipótese está fundada no prefácio escrito por Mons. Jamil Nassif Abib (dos maiores especialistas em postais do Brasil e Mestre em História) no prefácio do livro “Lembranças de São Paulo” (1999) contribuiu para historiar o surgimento dos cartões-postais não estatais no Brasil:

“Surgido em 1 de outubro de 1869, no Império Austro-Húngaro, chegou ao Brasil, 11 anos depois, em 28 de abril de 1880. São Paulo, antes mesmo da quebra do monopólio dos correios brasileiros na edição dos cartões-postais, abriu campo para o uso de ilustrações em edições privadas. Em agosto de 1897, apareceu a primeira série, com 27 cartões litografados e multicoloridos, editados pelo Estabelecimento Gráfico V. Steidel & Cia. Registre-se, porém, que, meses antes, em 22 de março do mesmo ano, na capital paulista, os alemães festejaram o Kaiser Guilherme I com a edição de um cartão-postal, em litografia monocrômica, representando vinheta comemorativa de autoria de J. Bischoff. No ano anterior, pioneiramente, o Rio Grande do Sul já havia editado a primeira série de cartões-postais ilustrados. No Brasil, as iniciativas da edição privada de cartões-postais ilustrados, sua comercialização e colecionismo são creditados à cultura vigente no seio das comunidades alemãs, graças à efervescência dessas ‘novidades’, tanto na pátria de origem como, de resto, em outros países europeus. As grandes exposições cartofilísticas despontaram, em 1898, no mundo germânico: Leipzig, Munique, Nuremberg, Viena, Bale e Zurique. Continuaram, em 1899, em Berlim, Ostende, Praga, Genebra, Liechtenstein, Veneza e Nice”.

Para Daltozo, o mais antigo postal conhecido, “entre os produzidos no Brasil, é do Estabelecimento Gráfico V. Steidel, de São Paulo, mostrando o edifício do Tesouro de São Paulo. Esse exemplar, circulado com a data de 24.11.1898, pertence à coleção do cartofilista Elysio de Oliveira Belchior, do Rio de Janeiro. Foi produzido por uma gráfica particular um ano antes da autorização oficial do governo federal”, ocorrida em 14 de novembro de 1899 (DALTOZO, Cartão Postal, arte e magia, 2006:19).
Se o “Gruss aus Rio Grande do Sul” (com cenas da cidade do Rio Grande) apresenta carimbos e datas a partir de abril de 1898 (os mais antigos carimbos que já identifiquei em coleções brasileiras), a afirmação do Jamil Abib, que ao se referir aos cartões de Steidel como sendo de 1897 e que pondera afirmando “no ano anterior, pioneiramente, o Rio Grande do Sul já havia editado a primeira série de cartões-postais ilustrados”. Ou seja, a coleção de R. Strauch remete ao ano de 1896! Nesta hipótese, estamos com a coleção de “Gruss aus” mais antiga do Brasil produzidos na Livraria Rio-Grandense/R. Strauch e com o endereço que chamou pouco a atenção dos colecionadores brasileiros: rua “Pedro II”, 102. “Pedro II” é a atual Marechal Floriano na cidade do Rio Grande que “estranhamente” ainda continuava a ser chamada, por tradição que feria os brios republicanos, de “rua Pedro II” por Strauch. Afinal, os governos republicanos buscaram apagar os nomes ligados a monarquia que fora derrubada em 15 de novembro de 1889. Continuar a transcrever “rua Pedro II” é um componente que “sugere” a antiguidade do cartão e “sugere” uma calma demasiada em “apagar” a memória monarquista e levantar a bandeira dos republicanos.

A belíssima coleção em que nasceu a cartofilia no Brasil é reproduzida abaixo:








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